Mas é cordeiro, vôte!
O pós-eleição está mais animado do que as próprias eleições. Fato incomum. Normalmente, o pau pega mesmo é durante o confronto eleitoral, quando os projetos de poder estão em disputa. Depois das eleições, vencedores e vencidos costumam se dar uma trégua. Aqui não. O acirramento começou quando terminaram as eleições.
Costumo dizer, reproduzindo jargão comum entre os marketeiros, que política é aquilo que ocorre entre uma eleição e outra. No caso de Mato Grosso, a diversidade de interpretações sobre os ganhadores e perdedores está prolongando a disputa eleitoral deste ano, e precipitando as eleições de 2010. Alguns querem ganhar duas vezes, e já outros estão propensos a perder duas vezes a mesma eleição.
Vou citar especificamente os casos de Cuiabá e Rondonópolis. A coincidência entre essas duas cidades começa pela presença do governador Blairo Maggi nos palanques dos perdedores.
Lá, é inegável, sobretudo pelas declarações desta terça (04.11), que o governador quer perder a mesma eleição duas vezes. Não deu governador. O raio não cai no mesmo lugar duas vezes. Adilton Sachetti já se tornara prefeito em 2004 por um descaminho. Embora tenha sido um prefeito eficiente gerencialmente, sua falta de traquejo político é que justifica sua não reeleição. Blairo Maggi não deve se culpar - ou aceitar a imputação de culpa contra si - por Sachetti não vencer em Rondonópolis.
Como governador, Blairo fez sua parte. Despejou investimentos na cidade. Além de residir em Rondonópolis, Blairo fez mais visitas oficiais à cidade que a Cuiabá. Mais que isso só se o governador assumisse ele próprio a administração. O erro de Rondonópolis foi de origem, como disse aqui deste espaço quatro anos atrás: Adilton era um poste, e como poste se comportou durante o governo. Logo, não há do que se queixar. Muito menos culpar o povo. Tampouco incentivar ou patrocinar a tentativa de derrubada do Zé do Pátio pelo tapetão, como sinaliza a turma de lá. A levar a cabo essa estratégia, Blairo perderá a mesma eleição duas vezes. Porque tentar cassar um prefeito legitimamente eleito pelo voto, é o mesmo que tentar cassar a vontade do eleitor.
Já em Cuiabá, ao contrário da cantilena tucana, Blairo não sai derrotado pelo resultado da eleição. Ao contrário. Ele pegou um ilustre desconhecido e o fez depositário de 40% dos votos no segundo turno, deixando pra trás um deputado estadual e um deputado federal. Ao contrário das provocações, Mauro Mendes só chegou ao segundo turno e, neste, só conquistou os 114 mil votos porque era o candidato do Blairo Maggi. E claro, dos demais partidos que formaram a coligação, como PMDB e PT - mas estes também só apoiaram Mauro Mendes por causa do governador.
Blairo agora sabe que tem um tamanho em Cuiabá, e esse tamanho não será inferior a 40%, já que até com Mauro Mendes ele conquistou este quinhão da preferência da capital.
O mais relevante de tudo isso é o governador aceitar as provocações dos adversários. Antero Paes de Barros, inteligentemente, se aproveita da vitória tucana na Capital para tentar se reinserir no cenário político-eleitoral. Já estava aposentado. Mas, diante das limitações políticas do grupo do governador, viu a possibilidade de explorar as contradições existentes na própria turma da botina e na base de sustentação do governo para rachá-la e fazer da cooptação dos dissidentes seu vetor para voltar à cena. E faz isso partindo para a pancadaria ele próprio e incentivando o agora prefeito eleito Zé do Pátio a fazer o mesmo. Pela reação do governador aos dois provocadores, parece que a velha estratégia de jogar uma isca para o adversário pegar está dando certo. No nosso dizer cuiabano, Blairo está sendo cordeiro (está pegando a corda). Algum dos seus inúmeros e bem remunerados conselheiros precisa alertá-lo para o fato de que a eleição acabou, e que agora é a hora de se fazer política.
P.S: E alguém precisa dizer a Zé do Pátio que governar uma cidade do porte de Rondonópolis vai exigir muito mais que histrionismos na Tribuna da Assembléia Legislativa.
*KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. kleberlima@terra.com.br.
Comentários