Dominó de Minc
O punho-de-ferro do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, está mudando o mercado moveleiro e derrubando os empresários da ponta do setor madeireiro. O efeito dominó engessa a economia mesmo nos estados onde não ocorreram desmatamentos ilegais. Ou seja, são os consumidores e o comércio varejista que enfrentam a burocracia e a forçada mudança de hábitos.
Empresários e marceneiros do Rio de Janeiro e de São Paulo estimam que desde o início do ano a burocracia tem achatado em 20% o segmento. No efeito dominó, o consumidor chega no balcão de um depósito de madeira e para comprar um metro de sarrafo e é surpreendido com a necessidade de apresentar sua documentação e ter que aguardar o vendedor declarar a saída do produto no site do IBAMA.
A fiscalização já era acirrada nos grandes centros, incluindo qualquer segmento do comércio que contemple algum tipo de extração da natureza. Contudo, tanta exigência e o órgão não funciona. O engessamento do comércio é mais pelo fato de que não há estrutura física e nem mão-de-obra suficiente para atender a demanda. Cai naquela velha mania de sites fora do ar, telefonemas intermináveis para transferir a ligação para o setor responsável, setor esse que nunca chega.
Para o Nortão de Mato Grosso isso vai causar um impacto na economia. Para fugir do desgaste, os consumidores estão substituindo a madeira. Por exemplo, as esquadrias de alumínio e os forros de PVC estão crescendo na procura. Além disso, os madeireiros de balcão estão optando por outros estados e descobrindo as madeiras do Acre e aquelas rejeitadas no porto do Pará.
Ma o problema não está só na burocracia. O preço da madeira em Mato Grosso já faz tempo que não é competitivo. Isso se dá pela precariedade das rodovias do Estado e o preço final do frete que chega no cliente que está só fazendo uma prateleira. Por mais longe que seja, as madeiras do Acre têm uma viagem mais tranqüila, passando por São Paulo e chegando no Rio de Janeiro.
Lembro-me de que Sinop, Alta Floresta e outros municípios que mais ouvia não estão mais no topo da lista de fornecedores. Ainda de forma singela, os empresários citam Juína, Juara e Porto dos Gaúchos. O sul do Brasil também ganha com a mudança da rota da madeira, mudando até o foco para o pinho e o eucalipto.
Enfim, a conscientização da exploração da madeira não pode ser tomada numa postura radical. Já se pensou em reaproveitar tanto desperdício de sobras de madeiras ou mesmo aquelas que foram apreendidas e esquecidas nos pátios dos postos de fiscalização? Quando fui pela primeira fez em Sinop, em 2004, fiquei chocada com a quantidade de madeira que se jogava fora e com as pouquíssimas indústrias que trabalhavam com o reaproveitamento dessas sobras, como o forro (lambril) de cedrinho com emendas, que nada deixa a desejar para o outro feito da peça inteira.
*Thaís Raeli é jornalista
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