Estrelas migram pelas galáxias, diz estudo
Cerca de metade das estrelas em nossa vizinhança celestial podem ter viajado largas distâncias pela Via Láctea, de acordo com um novo estudo que sugere que o nosso sol pode ser uma delas.
As pessoas em geral presumem que, assim que uma estrela se forma no interior de um disco galáctico, ela se mantém em órbita mais ou menos fixa em torno de sua galáxia, disse Rok Roskar, o diretor científico do estudo, estudante de pós-graduação em astronomia na Universidade de Washington, em Seattle. A realidade "pode ser bem mais complicada e interessante que isso", disse.
Em seu estudo, Roskar e seus colegas conduziram simulações em computador para o desenvolvimento de uma galáxia hipotética semelhante à Via Láctea, em prazo de 10 bilhões de anos. A galáxia teria massa, tamanho e dinâmica semelhantes aos da nossa. A equipe constatou que, sob as condições corretas, um braço em espiral da galáxia poderia arremessar uma estrela a uma órbita circular mais ou menos ampla.
A simulação oferece sustentação à teoria de que as estrelas migram, uma idéia que já havia sido sugerida, segundo Roskar. "As estrelas podem se mover na direção do centro da galáxia ou para a periferia, enquanto mantêm uma órbita circular", afirmou. E existe uma chance de 50% de que nosso sol o tenha feito, de acordo com a simulação, que envolveu mais de 100 mil horas de uso de computador.
Cerca de metade das estrelas em um raio de 130 anos-luz de nosso sol fizeram viagens galácticas como essas, determinaram os pesquisadores.
Arqueologia galáctica
As estrelas são feitas de metais pesados e materiais que elas extraem de seu ambiente ao nascer. O conhecimento convencional dispõe que os ingredientes das estrelas - medidas por espectrógrafos ou análise cromática- nos informam sobre a região galáctica onde uma estrela foi formada.
Mas caso as constatações de Roskar e seus colegas sejam verdadeiras, as estrelas não necessariamente se originariam no local em que foram observadas, o que tornaria difícil a análise de regiões galácticas com base na composição das estrelas. "Isso torna a arqueologia galáctica, por assim dizer, mais complicada", ele afirmou.
Roskar acrescentou que as constatações "oferecem uma explicação realmente interessante" para os motivos da aparente variação em composição química de estrelas de idades semelhantes e que estão próximas o bastante para que as analisemos e analisemos.
Jerry Sellwood, astrônomo da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, que estudou a migração de estrelas, afirma que os resultados de Roskar ajudam a deitar luz sobre aspectos anteriormente intrigantes de nossa galáxia. "Esse é um trabalho importante que altera algumas de nossas idéias básicas sobre como podemos compreender a passada história da Via Láctea, com base no estudo daquilo que vemos hoje", disse Sellwood, que não participou do estudo. O estudo foi publicado pela revista Astrophysical Journal Letters.
Tradução: Paulo Migliacci
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