Brigada indígena reduz em 80% queimadas em reserva em MT
Uma iniciativa pioneira do Governo do Estado, desenvolvida por meio da Superintendência de Assuntos Indígenas de Mato Grosso em parceria com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado, o programa de treinamento, capacitação e acompanhamento permanente em educação ambiental, queima controlada, prevenção e combate aos incêndios florestais, reduziu em 80% as queimadas na reserva dos Kayapó, localizada na divisa dos estados de Mato Grosso e Pará. A diminuição do número de queimadas foi registrada este ano, em comparação a 2007. A primeira brigada foi implantada na aldeia Piaraçu, no Médio Xingu.
“A brigada tem por objetivo envolver a população indígena, dentro do contexto da educação ambiental, de modo a manter a atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades, que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais”, explicou a coordenadora de Assuntos Indígenas de Mato Grosso, vinculada à Casa Civil, Maria Edna Lúcia de Oliveira.
Além disso, o trabalho desenvolvido junto aos índios pretende minimizar o risco de incêndio florestal nas áreas indígenas durante o uso do fogo como ferramenta agrícola na produção de alimentos para subsistência; efetivar ações de prevenção e combate aos incêndios florestais tendo como recurso humano exclusivo a população indígena de cada localidade; proporcionar à população indígena uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações - envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos -; disponibilizar para população indígena todas as técnicas de bom manejo do fogo utilizadas na prática da agricultura de subsistência; capacitar a população indígena na prevenção e combate aos incêndios florestais com foco no pronto-emprego e na redução do tempo-resposta, entre outros.
“Sabemos que as terras indígenas no Estado vêm sofrendo constantes ameaças com relação ao aumento das queimadas agropastoris em seu entorno. Envolvidas por mais de 80% dos focos de calor ocorridos no Estado, o risco de incêndio florestal se tornou iminente”, ressaltou Maria Edna ao comentar que o problema se agrava durante o período da seca. Nesse sentido, o Governo do Estado e os órgãos envolvidos na questão, estabeleceram estratégias de controle do fogo que deverão ser inseridas e absorvidas continuamente por esses povos, levando sempre em consideração o respeito ao meio ambiente, ao ser humano e seus costumes.
A primeira etapa da capacitação dos índios brigadistas ocorreu em agosto deste ano, na Reserva dos Caiapós/Xingu, com a capacitação de 35 índios. Uma segunda etapa de capacitação está prevista para ser realizada a partir do dia 01 de outubro, na Aldeia Piaraçu, localizada na região do alto Xingu, com objetivo de dar continuidade à capacitação dos índios brigadistas das etnias Caiapós/Xingu.
CAPACITAÇÃO – A capacitação é realizada pelos bombeiros militares em três módulos com duração de 45 dias cada um. Além de exercício para prevenção e combate a incêndios florestais nas áreas de reservas indígenas, os índios também recebem informações para o atendimento de primeiros socorros, orientações para confecção de abafadores e bombas costais para apagar focos de incêndio. Na Reserva Kaiapó, a área protegida é de 11,2 milhões de hectares, onde estão presentes os três biomas: a Amazônia, a Floresta Andina e o Cerrado.
Atualmente, os abafadores usados pelos bombeiros são produzidos por uma indústria canadense. Os usados pelos índios brigadistas são confeccionados com tapetes de borracha usados em automóveis e cabos de vassoura.
Esta semana (22/09), o líder indígena cacique Raoni apresentou o projeto ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que elogiou a iniciativa e disse que pretende expandi-la para outras unidades, utilizando a iniciativa de Mato Grosso como modelo.
O superintendente de assuntos indígenas da Casa Civil, Rômulo Vandoni, lembrou dos inúmeros incidentes com fogo que atingiram as aldeias da região, tanto de dentro para fora como de fora para dentro. “Nos últimos anos, os incêndios florestais, provocados acidentalmente ou de forma criminosa, trouxeram prejuízos incalculáveis aos indígenas. Eles perderam bens e materiais necessários para a construção das ocas, como a madeira imbira antes já escassa. As queimadas também atingiram os animais. A partir dessa iniciativa os índios passarão a ter o domínio, além de uma estrutura para fazer o combate”, avaliou Vandoni.
O decreto assinado pelo governador Blairo Maggi, autorizando a criação das brigadas nas reservas, foi publicado no dia 14 de março deste ano, com a finalidade de manter o fogo sob controle; proteger a vida, o patrimônio e o meio ambiente. Segundo o decreto, o treinamento deve ser solicitado pela liderança indígena local e pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
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