Exclusivo: Sonda Phoenix vê água líquida em Marte
Técnicos da missão da sonda Phoenix, que explora o solo de Marte desde 25 de maio deste ano, descobriram água em estado líquido no planeta (275 milhões de km da Terra). Na semana passada o trabalho da sonda já havia confirmado a existência de gelo no local, mas a nova descoberta pode levar a uma revolução nas pesquisas sobre a possibilidade de vida no planeta vizinho.
A água em estado líquido indica algo fundamental para a existência de vida, ao menos do modo como a conhecemos.
Nenhum estudo foi publicado ainda sobre a descoberta, mas o líder de um dos grupos no comando da pesquisa da Phoenix afirmou por telefone à Folha Online que o assunto será divulgado em relatório dentro de alguns dias. O cientista falou com a condição de não ser identificado. (A Nasa costuma divulgar descobertas importantes apenas em entrevistas coletivas marcadas com antecedência.)
O assunto deixa cientistas da agência espacial entusiasmados porque a água líquida é uma condição necessária à vida tal qual a conhecemos. Se o planeta mostrar indício de que possui moléculas orgânicas semelhante às que compõem o DNA e as células --estruturadas sobre longas cadeias de átomos de carbono-- pode ser que exista seres vivos lá também.
Na semana passada, cientistas da Nasa confirmaram a existência de etano (uma molécula orgânica simples, componente do gás natural) na forma líquida em Titã, a maior lua de Saturno. Trata-se do único astro do Sistema Solar, à exceção da Terra, onde havia sido detectado líquido na superfície.
Líquida e gelada
A existência de água líquida, mesmo a baixíssimas temperaturas, seria possível em Marte pela existência de certos sais, que existem também na Terra, mas são pouco estudados. Sais têm a capacidade de diminuir a temperatura necessária para que a água se solidifique --em países de clima frio, é comum utilizar sal para derreter a neve.
Assim, mesmo que a temperatura média em Marte seja de -53ºC, poderia existir água líquida no solo. Na Terra, a água congela a 0ºC, ao nível do mar.
Marte é considerado um deserto, em que água neste estado não existe na superfície, mesmo em locais com altas temperaturas, maiores que a necessária para solidificar a água. Há uma exceção, para pontos restritos, em que água líquida existiria de maneira passageira, desaparecendo rapidamente --trata-se de um modelo para explicar a existência de certas "valas" no subsolo.
Entretanto, estudos recentes indicam que a água existiu em forma líquida no passado de Marte. Em julho, um estudo publicado na revista "Nature" afirmou que a água foi um elemento abundante no primeiro período geológico de Marte, de 4,6 bilhões a 3,8 bilhões de anos atrás, quando foi determinante para a formação de minerais tanto na superfície como no subsolo do Planeta Vermelho.
Nabos marcianos
Nos próximos dias, a Phoenix vai continuar utilizando um instrumento chamado Tega (sigla em inglês para Analisador de Gás Térmico e Expandido), para verificar a composição do solo de Marte, na busca por matéria orgânica.
A função do equipamento é esquentar amostras do solo, transformando os materiais em gases. Com isso, é possível identificar os compostos químicos e analisar sua composição.
As análises do solo de Marte feitas pela Phoenix já indicam um ambiente salgado, similar ao encontrado nos quintais das casas terráqueas. A Phoenix revelou a existência de magnésio, sódio, potássio e cloreto --os técnicos dizem que aspargos e nabos poderiam ser plantados num solo assim.
Em razão da qualidade dos resultados apresentados pela Phoenix, a Nasa decidiu estender a missão da sonda até 30 de setembro. A idéia original era que o sistema funcionasse por cerca de três meses, até o fim de agosto.
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