Acidentes diminuem com 'Lei Seca'
"Os acidentes que temos são acidentes normais, que sempre ocorreram. Acidentes envolvendo pessoas embriagadas reduziram sim, drasticamente. A redução foi da ordem de 30%. Agora, nem todos os acidentes acontecem porque as pessoas estão embriagadas, mas porque deixam de observar as normas corriqueiras do trânsito urbano", disse o coronel Osmar Lino Farias, do Comando de Policiamento da Capital. "Nos acidentes registrados não temos verificado que o principal motivo seja porque a pessoa está embriagada, mas a sim a inobservância das regras de trânsito", completou o coronel.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) registrou queda de 24% no número de resgates em 14 dos 144 postos do país. O levantamento preliminar cobre cerca de 25,3 milhões de pessoas. A maior queda dos resgates (47%) foi registrada na região de Niterói (RJ), onde vive 1,8 milhão de pessoas. Em Mato Grosso, de 20 de junho a 10 de julho, os bombeiros registraram 430 acidentes de trânsito (com e sem vítima). No mesmo período do ano passado foram verificados 299. O balanço do primeiro mês de vigência da lei, com a contabilização de ocorrências de todos os postos do Samu, deve ser divulgado em agosto pelo Ministério da Saúde.
"Essa curva de redução acontece porque cerca de 30% do volume de atendimentos do Samu é decorrente de acidentes envolvendo traumas. Desse percentual, a maior parte é de ocorrências de trânsito e, no Brasil, 50% dos acidentes de trânsito tem relação com bebidas alcoólicas. Existe, portanto, uma relação direta entre a lei seca e a redução do número de atendimentos do Samu", diz Cloer Vescia, coordenador geral de urgências e emergências do Ministério da Saúde.
Para Vescia, a expectativa é de que essa queda permaneça nos próximos meses. "No início há uma fiscalização mais presente e mais rigorosa, mas nosso desejo é que isso se mantenha. Com os dados preliminares temos apenas uma tendência", diz.
Álcool é apenas uma das causas
De acordo com Salomão Rabinovich, diretor do Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito (Cepat), a bebida alcoólica é apenas um dos causadores de acidentes no trânsito brasileiro. "Temos outros fatores como as drogas ilegais, as drogas farmacêuticas, distúrbios de sono e problemas de personalidade. O álcool não é o único vilão dessa história toda".
Rabinovich espera que a fiscalização contra o consumo de álcool por motoristas seja permanente. "A Polícia Militar precisa ser melhor equipada, pois é ela que tem competência para esse tipo de fiscalização. Mas quero ver quanto tempo vai durar esse trabalho no país todo".
O psicólogo acredita que a solução para a redução de acidentes de trânsito é a mudança na postura dos motoristas. "É preciso fazer uma revolução cultural. Vivemos a pior crise moral e de credibilidade nos últimos anos. Essa medida (lei seca) precisa funcionar para valer, com fiscalização constante e em todos os cantos do país. Difícil vai ser conseguir ver isso", disse Rabinovich.
Nas estradas
Segundo balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de 2007, a imprudência foi a principal causa dos acidentes nas rodovias brasileiras. O documento revelou ainda que 80,75% dos acidentes aconteceram em pistas em bom estado de conservação, 71,4% em retas, 53,6% durante o dia e 63% com tempo seco. Dos motoristas que se envolveram em ocorrências de trânsito, um terço reconhece que não prestaram atenção ao que estavam fazendo no momento do acidente.
Ainda de acordo com PRF, foram registrados 6.128 acidentes envolvendo flagrantes de alcoolemia ao volante em 2007. Um crescimento de 154% sobre os flagrantes realizados em 2006 (2.412).
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