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Politica Brasil
Terça - 27 de Maio de 2008 às 10:46
Por: Edilson Almeida

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Um dos maiores especialistas sobre floresta tropical no mundo, Daniel Nepstad, do Centro de Pesquisas Woods Hole, nos Estados Unidos, afirmou ao jornal “Financial Times” que o uso das imagens de satélite produzidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para medir o nível de desmatamento da floresta pode provocar uma "nova onda de anarquia". Ele fez duras críticas ao instituto, ao destacar que as imagens que apontaram o elevado índice de devastação na Amazônia, em especial em Mato Grosso, “são imprecisas”. Segundo Napstad, os dados do INPE só deveriam servir como base para a verificação in loco do desmatamento em si.

Trata-se do primeiro grande apoio internacional de uma tese há muito defendida pelo governador Blairo Maggi, que provocou, entre outras situações, a queda da então ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. Até aqui, o governador de Mato Grosso tem sido apontado como o "grande vilão" perante a comunidade internacional da intrincada situação envolvendo a Amazônia. Ambientalistas são pródigos em dar sustentação aos ataques contra o gestor estadual.

As críticas mais ácidas contra Maggi nos últimos tempos, no entanto, são internas. A começar pelo novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, indicado para a vaga de Marina Silva. Se proclamando como “eco-chato”, Minc acirrou os ânimos ao declarar que se deixasse, Maggi plantaria soja até nos Andes. No período entre o “sim” ao ministério e a posse, hoje, ele ironizou diversas vezes o governador de Mato Grosso. Numa delas, chamou Maggi de “o cara” e mandou o governador “brigar com Lula”.

Segundo o jornal, Minc, “toma posse hoje em meio a uma disputa sobre o aparente aumento do desmatamento na região da Amazônia". Disputa que, diga-se de passagem, ajudou a fomentar. O conflito envolve dados de satélite sobre desmatamento e medidas punitivas baseadas nos dados, adotadas pelo Governo contra pecuaristas e fazendeiros nas regiões mais afetadas.

"Definir medidas do Governo com base em dados tão incertos é simplesmente errado" - disse Napstad ao influente jornal de Londres, Inglaterra. Segundo o jornal, o Governo vê a pressão sobre os fazendeiros como essencial para combater o desmatamento, mas para Nepstad, ela pode estar tendo o efeito contrário. "Houve uma batalha infeliz entre o governo e o setor dos fazendeiros desde a liberação dos dados do fim de 2007" - disse o pesquisador, se referindo ao anúncio de que o desmatamento tinha voltado a crescer depois de anos em declínio.

"Baseado nesses dados preliminares, o governo anunciou em janeiro medidas punitivas contra pecuaristas e fazendeiros nos locais com taxa mais alta de desmatamento. A partir de julho, será cortado o financiamento subsidiado para fazendeiros que não conseguirem provar que suas propriedades estão dentro da lei ou que estão adotando medidas para cumprir a determinação legal. Isto inclui a preservação da floresta em 80% de sua propriedade", diz o FT.

De acordo com o jornal, esta exigência foi criada na última década, mas a maioria dos produtores já havia violado a lei, ou decidiu ignorá-la. "A qualidade dos dados e o tamanho do aumento (do desmatamento), se existir, não justificam as medidas punitivas, que terão criminalizado um setor no meio de uma grande experiência", disse o especialista, se referindo à moratória da soja, que levou comerciantes a parar de comprar soja colhida em áreas desmatadas desde 2006.

O especialista ainda defende a proposta de lei a ser votada pelo Congresso - à qual o governo se opõe - que diminui para 50% a área a ser preservada pelos fazendeiros em suas propriedades. "Se houver benefícios econômicos claros para aqueles que cumprirem a determinação no nível de 50%, o resultado poderia ser um declínio no desmatamento", afirma Nepstad.

Com BBC Brasil





Fonte: 24 Horas News

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