Tese de Maggi sobre desmatamento em MT ganha apoio internacional
Um dos maiores especialistas sobre floresta tropical no mundo, Daniel Nepstad, do Centro de Pesquisas Woods Hole, nos Estados Unidos, afirmou ao jornal “Financial Times” que o uso das imagens de satélite produzidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para medir o nível de desmatamento da floresta pode provocar uma "nova onda de anarquia". Ele fez duras críticas ao instituto, ao destacar que as imagens que apontaram o elevado índice de devastação na Amazônia, em especial em Mato Grosso, “são imprecisas”. Segundo Napstad, os dados do INPE só deveriam servir como base para a verificação in loco do desmatamento em si.
Trata-se do primeiro grande apoio internacional de uma tese há muito defendida pelo governador Blairo Maggi, que provocou, entre outras situações, a queda da então ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. Até aqui, o governador de Mato Grosso tem sido apontado como o "grande vilão" perante a comunidade internacional da intrincada situação envolvendo a Amazônia. Ambientalistas são pródigos em dar sustentação aos ataques contra o gestor estadual.
As críticas mais ácidas contra Maggi nos últimos tempos, no entanto, são internas. A começar pelo novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, indicado para a vaga de Marina Silva. Se proclamando como “eco-chato”, Minc acirrou os ânimos ao declarar que se deixasse, Maggi plantaria soja até nos Andes. No período entre o “sim” ao ministério e a posse, hoje, ele ironizou diversas vezes o governador de Mato Grosso. Numa delas, chamou Maggi de “o cara” e mandou o governador “brigar com Lula”.
Segundo o jornal, Minc, “toma posse hoje em meio a uma disputa sobre o aparente aumento do desmatamento na região da Amazônia". Disputa que, diga-se de passagem, ajudou a fomentar. O conflito envolve dados de satélite sobre desmatamento e medidas punitivas baseadas nos dados, adotadas pelo Governo contra pecuaristas e fazendeiros nas regiões mais afetadas.
"Definir medidas do Governo com base em dados tão incertos é simplesmente errado" - disse Napstad ao influente jornal de Londres, Inglaterra. Segundo o jornal, o Governo vê a pressão sobre os fazendeiros como essencial para combater o desmatamento, mas para Nepstad, ela pode estar tendo o efeito contrário. "Houve uma batalha infeliz entre o governo e o setor dos fazendeiros desde a liberação dos dados do fim de 2007" - disse o pesquisador, se referindo ao anúncio de que o desmatamento tinha voltado a crescer depois de anos em declínio.
"Baseado nesses dados preliminares, o governo anunciou em janeiro medidas punitivas contra pecuaristas e fazendeiros nos locais com taxa mais alta de desmatamento. A partir de julho, será cortado o financiamento subsidiado para fazendeiros que não conseguirem provar que suas propriedades estão dentro da lei ou que estão adotando medidas para cumprir a determinação legal. Isto inclui a preservação da floresta em 80% de sua propriedade", diz o FT.
De acordo com o jornal, esta exigência foi criada na última década, mas a maioria dos produtores já havia violado a lei, ou decidiu ignorá-la. "A qualidade dos dados e o tamanho do aumento (do desmatamento), se existir, não justificam as medidas punitivas, que terão criminalizado um setor no meio de uma grande experiência", disse o especialista, se referindo à moratória da soja, que levou comerciantes a parar de comprar soja colhida em áreas desmatadas desde 2006.
O especialista ainda defende a proposta de lei a ser votada pelo Congresso - à qual o governo se opõe - que diminui para 50% a área a ser preservada pelos fazendeiros em suas propriedades. "Se houver benefícios econômicos claros para aqueles que cumprirem a determinação no nível de 50%, o resultado poderia ser um declínio no desmatamento", afirma Nepstad.
Com BBC Brasil
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