Jaime “aprisiona” Pagot com licença e endurece relações com o PR
Seria um ato simples não fosse um detalhe: o afastamento vai obrigar o suplente Luís Antônio Pagot, homem de estreita confiança do governador Blairo Maggi, a renunciar o mandato que lhe foi conferido pelo Senado Federal para ocupar o cargo de diretor-presidente do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DNIT). Explica-se: o regimento interno do Senado obriga que o primeiro suplente assumir o cargo. Caso não o faça, dentro dos tramites e prazos estabelecidos, dá se como renunciada a condição de suplente. Ou seja: Pagot está entre a cruz e a espada.
Primeiro aos aspectos legais. Diz o artigo 5º: “O primeiro suplente, convocado para a substituição de Senador licenciado, terá o prazo de trinta dias improrrogáveis para prestar o compromisso, e, nos casos de vaga ou de afastamento nos termos do art. 39, II, de sessenta dias, que poderá ser prorrogado, por motivo justificado, a requerimento do interessado, por mais trinta dias”. A licença de Campos enquadraria num prazo de 30 dias para Pagot assumir. Isto é: Pagot precisa deixar o Dnit e assumir por pelo menos um dia para dizer que estaria se licenciando para retornar ao órgão governamental.
A obrigatoriedade está no parágrafo 1º do artigo 5º. O texto é dilacerante: se, dentro dos prazos estabelecidos “o suplente não tomar posse e nem requerer sua prorrogação, considerar-se-á como tendo renunciado ao mandato, convocando-se o segundo suplente, que terá, em qualquer hipótese, trinta dias para prestar o compromisso”. Ganha com isso o petebista Osvaldo Sobrinho. Explica-se, assim, por outro turno, os esforços do trabalhistas por um alinhamento político da sigla mais favorável.
Eis o problema: articuladores democratas acreditam que, dificilmente, por mais influência que o governador Blairo Maggi tenha junto ao Governo Federal, Pagot seria reconduzido ao cargo. O político levou oito meses para conseguir vencer etapas e resistências oposicionistas. Até hoje Pagot está na “mira” de senadores do PSDB. Especialmente porque o DNIT é responsável por comandar um orçamento fabuloso e age estrategicamente no aspecto político.
Essa situação representa um “tiro fatal” nas pretensões de Pagot, que é de disputar o Governo do Estado em 2010. Mesmo cargo desejado por Jaime Campos. Em outras palavras, a licença de Campos é estratégica para enfraquecer as pretensões do grupo liderado por Maggi, qual seja, a de se manter no controle político do Estado. Maggi tem também o controle econômico de Mato Grosso, por ser o principal representante do agronegócio – carro-chefe da economia do Estado.
"Se Jaime afastar volta o processo a estaca zero, já que terá um desdobramento muito grande" – alertou um interlocutor influente da turma da botina. Trocando em miúdos: racha à vista.
O primeiro delineamento para um acordo eficiente começa com o despojamento por parte de Pagot e do próprio Partido da República. Isso significa “rifar” eventuais candidaturas estratégicas para os democratas. Uma delas, em Várzea Grande. Os democratas querem a qualquer custo a eleição de Júlio Campos. Na segunda-feira, no entanto, a questão caminhou para o lado oposto, isto é, com o PR oficializando o nome de Murilo Domingos para disputar a eleição em Várzea Grande contra Júlio. Nos bastidores, os republicanos tentam convencer os democratas de que Murilo é interessante para o processo, como forma de combater Maksuês Leite.
A entrada de Pagot no DNIT contou com esforço do democrata, que atuou inclusive como relator do processo. Na época, Jaime já articulava sua candidatura a governador em 2010. O político esperava que a aliança entre os grupos, hoje, respectivamente, no DEM e no PR, fosse mantida. Em 2010, com a possibilidade de Jaime ser eleito, Pagot, como primeiro suplente, ficaria em definitivo no Senado, até 2014. Mas diante das sinalizações e falta de entendimentos, o quadro mudou. Ou seja: com o pedido de licença, Jaime cobra uma “fatura” da turma liderada por Maggi.
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