Eleição não é política
Significa que eleição tem leis próprias que a diferem da noção simples de política. Eleição é guerra com data marcada para o final. E só tem dois resultados: o vencedor e os perdedores. Não há prêmio nem troféu para o segundo colocado. Política trabalha com o infinito e pode sim resultar em empates, em ganhos recíprocos. Eleição possui estratégias específicas, com regras próprias, muito além do bom senso político ou da legislação eleitoral. Política também possui as suas, mas essas são amplamente mais flexíveis e subjetivas.
O professor titular da UFRJ Cid Pacheco defende a criação acadêmica da categoria “Ciência Eleitoral”. Com quase 50 anos atuação profissional em publicidade e marketing eleitoral, Pacheco defende que eleição é diferente de política, embora decorra dela. Logo, quem entra numa eleição pensando apenas que está fazendo política, na verdade vai dar com os burros n’água.
Um exemplo. O PT precisou perder três eleições consecutivas com o candidato Lula para entender que eleição não é simplesmente política. Somente quando o partido se rendeu às regras do jogo eleitoral, adotando um marketing profissional, logrou êxito eleitoral.
Ainda é comum candidatos e partidos tentarem fazer apenas política durante uma disputa eleitoral. As esquerdas, por exemplo, gostavam e aproveitar as eleições da “educar politicamente o eleitor”. Acabavam não prosperando nem num nem noutro objetivo. Lembre-se: “Política é o que acontece entre uma eleição e outra”. Se quer educar as massas ignaras, então faça isso entre uma eleição e outra. Na eleição, entre para disputá-la e vencê-la. E isso implica compreender que as massas, o grosso do eleitorado, tem limitações políticas, e que talvez seja mais fácil convencê-la a dar-lhe seu voto utilizando um bom jingle de 60 segundos do que um discurso denso e politicamente correto.
Não estou defendendo que os políticos saiam do comando das campanhas eleitorais. Ao contrário, as decisões precisam e devem ser tomadas pelos políticos. Marketing e pesquisas não podem decidir as coisas durante a eleição. Senão, não seria necessário fazer eleição, bastaria abrir um prazo para campanhas e depois fazer pesquisas para homologar o vencedor.
O marketing eleitoral deve formular alternativas, à luz desse mundo vasto que é uma eleição. A partir dos instrumentos e técnicas adequadas, diagnosticar corretamente o ambiente eleitoral, as positividades e negativas de todos os candidatos, os anseios do eleitor, e propor um posicionamento que seja capaz de ganhar os corações e mentes de quem decide o pleito. Mas, a decisão por esta ou aquela estratégia deve ser sempre política, no sentido estrito.
Um exemplo da importância da política. O DEM rasgou pilhas de notas de R$ 100,00 com as pesquisas do IBOPE para resolver a disputa interna entre Júlio Campos e Wallace Guimarães. As primeiras pesquisas, inclusive dos institutos locais, já indicavam que pesquisa não era um instrumento adequado para a definição da disputa pelo cenário de igualdade entre os dois democratas. Num cenário desses, o tipo de pesquisa contratada foi absolutamente inadequado, porque mediu tão-somente intenção voto. Se ao menos tivessem solicitado um projeto de pesquisa específico para o caso, esse poderia ter rendido resultados mais satisfatórios. Como? Fazendo avaliação dos atributos (positividade e negatividades) de cada candidato, por exemplo.
Não há nenhuma contradição no que acabo de dizer com o enunciado deste artigo. Se é verdade que política é o que acontece entre uma eleição e outra – e é, não duvidem -, a hora é de fazer política, porque a eleição ainda não começou.
KLEBER LIMA é jornalista pós-graduado em marketing e consultor político. E-mail: kleberlima@terra.com.br / www.kmcomunicacao.com.br.
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