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Politica Brasil
Terça - 04 de Março de 2008 às 07:22
Por: Vera Rosa

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Acusado de favorecer políticos de seu partido em vários convênios, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, vai deixar a presidência do PDT. O melhor momento para anunciar a decisão, no entanto, ainda será acertado com o Planalto. Lupi já conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que seu substituto no PDT deve ser o atual secretário-geral do partido, Manoel Dias. Ele pretendia até mesmo afastar-se do comando da legenda nesta semana, mas declarações dadas pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, fizeram com que resolvesse segurar um pouco mais o anúncio.

Múcio afirmou, no fim de semana, que toda a "marola" sobre a assinatura de convênios entre o Ministério do Trabalho e organizações não-governamentais (ONGs) e prefeituras ligadas direta ou indiretamente ao PDT só ganhou destaque porque Lupi é presidente do partido. Mais: argumentou que o colega deveria se licenciar do comando da legenda para sair da linha de fogo. "É preciso escolher, porque não faz sentido o governo se desgastar com isso", argumentou.

Suas observações provocaram uma crise no PDT. Sob a alegação de que foi "mal interpretado", Múcio telefonou ontem para Lupi e pediu desculpas. Depois, ligou para líderes dos partidos no Congresso, na tentativa de desfazer a situação constrangedora.

Em dezembro passado, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República recomendou a Lula a demissão de Lupi, apontando incompatibilidade entre a função de ministro e o comando do PDT. O presidente, porém, ficou furioso com o fato de a comissão ter dado publicidade à decisão. Em conversas reservadas com auxiliares, Lula reclamou várias vezes dos métodos usados pelo colegiado que, no seu diagnóstico, tinham o objetivo de pressioná-lo. Disse que não dispensaria Lupi e ganhou tempo para construir uma solução negociada.

FORMATO

Na prática, a saída do ministro da presidência do PDT vem sendo avaliada dentro do partido e do governo já há algum tempo. No PDT, os senadores Cristovam Buarque (DF) e Jefferson Péres (AM) ajudaram a convencê-lo a se afastar para não desgastar a legenda e o governo.

O que se discute agora é o formato, ou seja, se o afastamento será por meio de licença ou de renúncia. Motivo: o mandato de Lupi termina em pouco mais de um mês e nos dias 13 e 14 de abril o PDT fará um congresso para definir sua nova direção. Único candidato até agora, o ministro planeja se afastar pouco antes da eleição no PDT e passar o bastão para Manoel Dias, que é um dos fundadores do partido.

Desde que Lula resolveu enfrentar a Comissão de Ética, a situação de Lupi só se agravou e ele foi alvo de uma saraivada de denúncias, envolvendo o repasse de verbas do Ministério do Trabalho - em convênios para treinamento e recapacitação de trabalhadores suspeitos de irregularidades - para políticos e entidades ligados ao PDT.

Na sexta-feira, por exemplo, o Estado revelou que a prefeita de São Gonçalo (RJ), Maria Aparecida Panisset, obteve dois convênios com o ministério comandado por Lupi, no valor de R$ 1,141 milhão, depois de trocar o DEM pelo PDT.

DEFESA

Na semana passada, Lupi negou as acusações de favorecimento em uma entrevista previamente combinada com o Planalto e disse estar sendo vítima de "perseguição política". Mesmo assim, anunciou o cancelamento de três convênios com ONGs para treinamento de trabalhadores, alegando razões técnicas, como "falta de documentos". Foi elogiado por Lula, que ficou satisfeito com suas explicações e enxergou na atitude um "comportamento republicano".

Sem conseguir a dispensa de Lupi, o então presidente da Comissão de Ética, Marcílio Marques Moreira, demitiu-se há 8 dias e não escondeu o "desapontamento" com a falta de providências do governo. "Pedimos a saída do ministro porque não se pode servir a dois senhores: o partido e o governo", afirmou.

Amigo do presidente, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence assumiu a cadeira de Marcílio Marques Moreira e avisou que espera as explicações de Lupi. Preparado sob medida para rebater as acusações contra o titular do Trabalho, um levantamento produzido pela Advocacia-Geral da União (AGU) mostra que na maioria dos países um ministro de Estado pode acumular sem problemas sua função no governo com o comando de um partido.





Fonte: Estadão

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