Brasileiros descobrem espécie de macaco no AM; veja
A descrição oficial da nova espécie, que deve apresentar o uacari à comunidade científica internacional, sairá na edição de julho da revista especializada "International Journal of Primatology". O coordenador da pesquisa, Jean Boubli, conta que a descoberta aconteceu quase por acaso, durante uma expedição à área habitada pelo primata.
"Os índios e os caboclos da região comentaram com a gente que havia esse uacari [nome popular dado aos macacos do gênero Cacajao] de rabo preto. Numa das expedições, nós subimos e descemos a serra do Aracá, que tem mais de 1.000 metros de altitude. E, na descida da serra, vimos o grupo de uacaris", conta Boubli, que, apesar do nome francês, é carioca e hoje trabalha na Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.
"Conseguimos uma autorização do Ibama e recolhemos alguns exemplares. Mas, na hora, não me pareceu que o bicho fosse tão diferente assim dos uacaris já conhecidos", confessa o pesquisador.
A impressão inicial, no entanto, acabou se desfazendo. Ao comparar cuidadosamente a pelagem dos novos exemplares com a de espécimes de uacari armazenados em museus, uma das colegas de Boubli, Maria Nazareth da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, logo confirmou suas características únicas. A suspeita só foi confirmada pelas conversas com outros primatologistas e por análises de DNA: tratava-se, de fato, de uma nova espécie, provavelmente separada de seus parentes uacaris há cerca de 500 mil anos.
Álbum de família
No trabalho que será publicado no "International Journal of Primatology", os pesquisadores aproveitam para revisar todo o álbum de família dos uacaris. Com isso, macacos que eram considerados uma subespécie passam a contar como uma espécie única, batizada de Cacajao hosomi e "desmembrada" da espécie conhecida até então, a C. melanocephalus. Já o uacari-do-aracá ganhou seu nome, C. ayresi, em homenagem ao conservacionista José Márcio Ayres, já falecido, que foi um dos pioneiros no estudo e na preservação dos uacaris.
A nova espécie é, tal como seus primos, um "predador de sementes", define Boubli. Além da pelagem predominantemente preta, o bicho apresenta costas avermelhadas. De dimensões modestas, ele mede menos de 40 cm (sem contar a cauda, que não chega a 20 cm) e pesa pouco mais de 2 kg.
A situação da espécie, por enquanto, inspira cuidados, de acordo com Boubli. Ela ocupa uma área pequena para um macaco amazônico, além de ter densidade populacional baixa. Os ianômamis e os caboclos da região também costumam caçá-lo. "Se acontecer alguma perturbação ambiental mais grave, ou se a caça aumentar muito, ele pode correr perigo", alerta o pesquisador.
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