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Cidades/Geral
Sexta - 22 de Fevereiro de 2008 às 09:13
Por: Kléber Lima

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Pelo menos três cidades de Mato Grosso vivem um fenômeno semelhante e incrivelmente perturbador para a ciência política. Várzea Grande, Barra do Garças e Tangará da Serra, cada uma à sua maneira, viveram a experiência da novidade política na última eleição de prefeito, com apostas altas dos eleitores em nomes que poderiam representar uma ruptura histórica para seus municípios, mas, ao contrário do que desejava, o que a sociedade passou a experimentar foi o caos e o pesadelo.

Em Várzea Grande, a sociedade apostou em Murilo Domingos como a esperança de construir uma alternativa ao grupo que vinha hegemonizando a cidade havia praticamente 50 anos, com o objetivo central de modernizar estrutural e politicamente a ex-Cidade Industrial.

Em Tangará da Serra, os eleitores viram em Júlio César Ladeia a oportunidade de retomar o caminho do crescimento sustentável, depois do caos vivido pela cidade com as sucessivas crises políticas e institucionais na Prefeitura e na Câmara, envolvendo corrupção e até assassinato.

E em Barra Garças – ah, Barra do Garças! – a sociedade acreditou que de menino rebelde e comprometido com as causas populares de antanho, o Chaparral prefeito poderia recolocar a cidade nos trilhos da revitalização econômica, recuperando sua vocação de Capital do Araguaia, da Cultura, do Turismo e da Qualidade de Vida.

Os três portadores da esperança do povo tiveram, de fato, a oportunidade histórica de promover tais mudanças. É importante ressaltar que tais mudanças são de certo modo radicais, e impõem um alto custo à sociedade para tomá-las. Algo semelhante ao que a campanha de José Serra tentou fazer com a opinião pública no segundo turno das eleições presidenciais de 2002, quando Regina Duarte, a Namoradinha do Brasil, entrou no ar durante a propaganda eleitoral para afirmar que tinha “medo” da eleição do Lula, porque não saberia onde aquela aventura levaria o país.

O povo de Várzea Grande, Tangará da Serra e Barra do Garças superou esse medo - que a rigor contamina qualquer sociedade diante de uma encruzilhada -, e elegeu o novo, movida unicamente pela esperança.

Esperança que foi negligenciada toscamente pelos três prefeitos, que, não por acaso, hoje são campeões de rejeição entre todos os municípios de Mato Grosso.

O que se segue ao caos nessas cidades é a frustração e o remorso. E o remorso não é o simples arrependimento. Mas, o sentimento de culpa, o medo da punição por ter cometido um pecado ou desvio moral.

Com esse estado de espírito estabelecido, o medo torna-se mais forte, colocando em perigo real a esperança. Talvez o mais certo a fazer, nesse caso, é se redimir e tentar consertar as coisas, recuperando a segurança, a estabilidade, concluem as três sociedades.

Esse fenômeno determina a atmosfera política nas eleições nessas três cidades este ano. Candidatos que utilizarem o surrado discurso “do novo” podem simplesmente criar um descompasso cognitivo muito forte com os eleitores, uma vez que a sociedade não busca o novo, mas o seguro, o estável, aquilo ou aquele que não vá surpreendê-la novamente de forma a agravar seu remorso.

KLEBER LIMA é jornalista pós-graduado em marketing e analista político em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.





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