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Variedades
Quinta - 30 de Maio de 2013 às 10:11
Por: Noelle Marques

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Não é de hoje que gays e relacionamentos homossexuais são representados em filmes, novelas, clipes de música e até histórias em quadrinhos. Mas os personagens e enredos dos produtos culturais conseguem, de modo satisfatório, sensibilizar a população na luta contra o preconceito? Em entrevista ao UOL, Leandro Colling, doutor pela Universidade Federal da Bahia, coordenador do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS), ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura, e ex-integrante do Conselho Nacional LGBT, diz que houve um aumento de personagens LGBTs nos produtos culturais, "mas não basta a quantidade, é preciso que essa quantidade também reflita minimamente a diversidade sexual e de gênero que existe em nossa sociedade". Colling também analisou alguns casos de representação homossexual na cultura.

 
 
UOL: Na sua opinião, há uma maior representação de gays em produtos culturais?



Leandro Colling: Sim, sem dúvida aumentou muito a presença de personagens LGBTs nos produtos culturais. Mas não basta a quantidade, é preciso que essa quantidade também reflita minimamente a diversidade sexual e de gênero que existe em nossa sociedade. Por exemplo: penso que a maioria das produções ainda trata de gays e travestis. Lésbicas, com exceção de séries como "L Word" e "Lip Service", ainda são minoria nas produções. Transexualidade (como em "Transamérica", por exemplo) e intersexualidade (do filme "XXY", por exemplo) praticamente não aparecem.



UOL: Há um avanço e uma maior aceitação da comunidade LGBT por parte da sociedade?
 
 

Colling:
Difícil dar uma resposta generalista sobre isso. Parte da sociedade aceita e parte rejeita. E quanto mais o personagem subverte normas da sexualidade e do gênero, menos aceitação ele tem.
 


UOL: Na sua opinião, gays ainda fazem mais papeis cômicos? O estereótipo prejudica?



Colling:
Não considero que o estereótipo sempre prejudica. É preciso analisar cada caso com cuidado e estabelecer algumas diferenças. Por exemplo, na trama a personagem possui uma história complexa, ri de si própria ou apenas serve como motivo de chacota e produtora de riso perverso do telespectador?
 


UOL: Há algumas HQs que apresentam gays heróis. Isso é um fenômeno novo? É positivo na luta contra o preconceito?



Colling:
Não acompanho essa produção, mas sem dúvida que a presença da diversidade sexual nesses produtos é positiva na luta contra o preconceito. O trabalho que [o cartunista] Laerte, por exemplo, vem fazendo, é lindo e fundamental.
 


UOL: As pessoas aceitam mais beijo gay feminino do que de homens?



Colling:
Creio que sim, pois o beijo entre mulheres parece ferir menos, agredir menos, o olhar do homem heterossexual, em especial.



UOL: E como o senhor avalia os gays representados nas novelas brasileiras, que tradicionalmente trazem personagens homossexuais?



Colling:
O grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade, que eu coordeno e criei na UFBA em 2007, realizou uma grande pesquisa sobre personagens LGBTs nas telenovelas da Rede Globo. A avaliação geral é de que existem três grandes formas com as quais a representação desses personagens foi construída: no início, em especial, os homossexuais estavam mais ligados com a marginalidade e a criminalidade. Depois começou a fase do estereótipo da "bicha louca" afeminada e da lésbica masculinizada, muitas vezes representada de forma a produzir o riso perverso no telespectador. Nos últimos anos, em especial dos 90 para cá, aumentou muito a presença de personagens gays e lésbicas, mas os autores das novelas fizeram o esforço de apagar as diferenças dos homossexuais em relação aos heterossexuais. Em algumas das novelas, o telespectador até tinha dúvidas se o casal era gay ou não. Além disso, esses gays e lésbicas começaram a desejar um modelo de vida muito próximo do modelo heterossexual, o que fica bem visível no ideal de casar e ter filhos, por exemplo.





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