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Politica Brasil
Segunda - 18 de Fevereiro de 2008 às 13:59
Por: Adriana Vandoni

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Todo jornalista persegue um furo jornalístico. Uma matéria que seja por ele publicada em primeira mão, uma fonte mais quente que dos outros jornalistas, uma informação capaz de abalar as estruturas, enfim, um furo jornalístico é o sonho de consumo de qualquer veículo de informação e de qualquer jornalista.

Mas como saber quando um assunto é um furo? Sim, porque às vezes um jornalista pode focar o furo errado. Vamos exemplificar.

Um dos casos mais emblemáticos, senão o maior, foi o caso Watergate, quando Bob Woodward e Carl Bernstein, dois jornalistas do Washington Post, descobriram que o presidente americano Richard Nixon estava espionando o partido adversário. A informação lhes foi passada por um informante, na época, anônimo, recebeu o apelido de “Garganta Profunda”. O caso acabou culminando na renúncia do presidente americano.

Mas vamos “abrasileirar” a explicação com outro exemplo. Imagine a situação: um jornalista receber a informação, de uma fonte quente, que no dia 17 uma reunião sigilosa estará sendo realizada numa empreiteira qualquer ou nas dependências de um sindicato, por exemplo, no Sindicato da Construção Civil. Da reunião participarão empreiteiros e um representante do poder público. Eles decidirão, a quatro paredes, o resultado de uma grande licitação, burlando a Lei. Descobrir o episódio, registrar, inclusive com fotos, e escrever sobre o ocorrido, seria um furo jornalístico. Será uma bomba jornalística, claro! Óbvio que se outros receberem a mesma informação e a publicarem antes, lá se foi seu grande furo.

Nestes últimos dias Mato Grosso foi surpreendido pelo grave estado de saúde do senador do DEM, Jonas Pinheiro. Político influente e respeitado pelo setor agrícola do estado, sua súbita doença causou um reboliço na imprensa local, que passou a dar plantões à espera das últimas notícias.

Até aí tudo dentro dos conformes. É certa a cobertura da imprensa, apesar do desconforto para os familiares, trata-se de uma pessoa pública, portanto, é papel da imprensa acompanhar a evolução do quadro clínico e reportar aos leitores.

A modernidade da internet permite a rapidez de segundos na divulgação da notícia, e a ansiedade ocasionada pela possibilidade de dar o furo é um prato cheio para que ocorram erros crassos e a perda de bom senso. Soma-se a isso o fato do sensacionalismo ser uma das formas mais eficazes para atrair novos leitores.

Acontece que neste caso, junto à notícia e ao direito da população a ela, estão envolvidos o sofrimento e angústia de familiares, e não é papel da imprensa querer adivinhar, ou fazer prospecção da notícia baseada em informações de pessoas não qualificadas para tais informações. Conseguir em primeira mão o boletim “médico”, seria demonstração de competência na busca da notícia. Noticiar desta forma, mesmo com o sofrimento de parentes, é um caso que depende do bom senso e consciência do jornalista. Numa situação dessas, não veria a publicação do “boletim médico” como uma “aberração” na busca do furo, mas prever o que estará escrito em um boletim médico, baseado em suposições ou em achismos, não é papel da imprensa.

Como diz o título deste artigo, os furos jornalísticos, alvo e desejo do jornalismo, são matérias investigativas, verdadeiras e destemidas, e são elas que a população, e leitores, irão considerar como o necessário e um bom jornalismo.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ. Professora universitária.





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