Amazônia: Lula quer 'desenvolvimento com preservação'
"Não somos daqueles que defendem a Amazônia como se fosse um santuário da Humanidade", afirmou Lula. "Do lado brasileiro moram quase 25 milhões de pessoas que querem trabalhar, que querem comprar, que querem ter carro, que querem ter acesso aos bens materiais que a própria humanidade produz", disse o presidente.
O desafio, disse Lula, é "como aproveitar para o bem de toda a Humanidade a extraordinária biodiversidade da Amazônia".
Lula lembrou que a viagem de Sarkozy à Guiana Francesa, um departamento ultramarino da França, era "a primeira visita do presidente francês à Amazônia francesa" e disse que ele não havia sido nem seria picado por um mosquito transmissor da malária "para mostrar que aqui não é tão inóspito".
Depois de ouvir Lula lhe dar as boas vindas e se referir ao local do encontro, na Guiana Francesa, como se estivesse em casa, Sarkozy lembrou que os presidentes estavam em território francês e que não se importaria de, para ser simpático com Lula, cruzar o rio até o território brasileiro.
"Da próxima vez que nos encontrarmos aqui, nos encontraremos no meio do rio. Eu venho nadando até a metade e você vai nadando até a metade", brincou Lula.
O presidente brasileiro disse que era um privilégio para a França fazer fronteira com a Amazônia, único país europeu nesta situação. "Isso dá à Franca certo status para falar de Amazônia, por pertencer à Amazônia. E isso não é pouca coisa", afirmou.
Sarkozy defendeu a entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da Onu, além de outros países em desenvolvimento, como Índia, China, México, África do Sul e mais um país árabe.
"O Brasil deve ocupar o lugar que tem direito no mundo. O G-8 deve se transformar em G-13", disse, referindo-se ao grupo de cinco países emergentes que já participa de parte dos encontros dos países mais ricos do mundo.
Ponte
Os dois presidentes anunciaram o início da construção da ponte ligando Oiapoque, no Amapá, a Saint George de l´Oyapoque, na Guiana Francesa. A construção deve ficar pronta em 2010 e custar R$ 38,6 milhões.
Em 1996, foi assinado um acordo entre os governos brasileiro e francês para a construção de uma estrada ligando Macapá, capital do Amapá, até Caiena, capital da Guiana Francesa. Até agora, somente a estrada entre Caiena e Saint George de l´Oyapoque foi concluída e a travessia só pode ser feita de barco.
Sarkozy defendeu uma maior integração comercial da Guiana Francesa com o Brasil, com a facilitação de negócios entre os dois lados, mas não acenou com mudanças no atual acordo de imigração, que prevê a deportação de estrangeiros sem documentos encontrados do lado francês.
Cerca de 40 mil brasileiros vivem no local, a maioria ilegalmente. Um grupo numeroso recebeu o presidente Lula no cais, onde ele desceu do barco da Marinha que o trouxe do lado brasileiro.
"Queremos trabalhar para que todos entrem de forma legal. Se tem um acordo que produz uma anomalia na relação, nada mais justo do que trabalhar para mudar o acordo", disse Lula.
Sarkozy também disse que o país está "disposto a revisitar todas as regras porque precisamos uns dos outros".
Ao responder à pergunta de um jornalista francês sobre o risco de a Guiana ser "invadida" por produtos brasileiros, Sarkozy disse que a proximidade com o Brasil não era "uma ameaça, mas uma oportunidade" por causa do tamanho do país. "É uma chance para a economia da Guiana", afirmou.
Os dois presidentes devem ser encontrar outras duas vezes este ano: Lula vai à França em setembro e Sarkozy visita o Brasil em dezembro, durante a Presidência francesa da União Européia. Lula ainda convidou Sarkozy a visitar o Brasil em setembro de 2009, como convidado especial das comemorações de 7 de Setembro.
Farc
As negociações para a libertação de reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), entre eles da ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt, que foi casada com um francês, também foram discutidas na conversa entre os dois presidentes.
Sarkozy agradeceu o empenho do Brasil nas negociações que culminaram na libertação de duas reféns, no mês passado.
Lula disse que o Brasil está disposto a participar uma nova negociação "desde que com a concordância do governo da Colômbia". "Senão, fica tudo mais difícil", afirmou.
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