Choques no Quênia deixam mais de 30 mortos
No pior incidente, 22 pessoas foram mortas quando um grupo armado com facões e lanças atacou um acampamento para desabrigados da violência, na província de Rift Valley.
Três pessoas ainda teriam sido mortas a golpes de facão em uma favela de Nairóbi e outros cinco morreram quando um grupo armado atacou um vilarejo, também em Rift Valley, no leste do Quênia.
Na terça-feira, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan deve chegar ao país para tentar mediar a crise detonada pelo resultado das eleições presidenciais do último dia 27 de dezembro.
O comissário de Desenvolvimento da União Européia, Louis Michel, já se reuniu com o presidente reeleito, Mwai Kibaki, e o líder da oposição Raila Odinga e pediu que os dois lados parem de alimentar as tensões.
Confrontos mortais
Os corpos das três vítimas mortas na favela de Mathare, no domingo, tinham marcas de facões.
Segundo testemunhas, teria sido um confronto entre membros da comunidade Kikuyu, do presidente Kibaki, contra integrantes da comunidade Luos, de Odinga.
Um repórter da agência de notícias Associated Press viu o corpo de um homem que tinha sido espancado até a morte, aparentemente um Luo morto por um grupo de Kikuyus.
Outro homem passou por ele, com sangue jorrando de seu braço mutilado depois de um ataque com facões.
Uma mulher da etnia Luo disse à agência de notícias Reuters que um grupo perguntou a ela a que tribo ela pertencia.
“Mesmo antes de eu poder responder, eles pegaram minha bolsa e queriam me cortar com um facão”, disse ela.
“Fui salva pela graça de Deus, eles tiraram tudo o que eu tinha.”
Musalia Mudavadi, do Movimento Democrático Laranja, de Odinga, visitou os feridos no hospital e atacou as ações da polícia.
“Nós agora estamos vendo casos em que a polícia está abrindo caminho e permitindo que as pessoas se ataquem”, teria dito ele à Associated Press.
Segundo o correspondente da BBC no Quênia Adam Mynott, boa parte do país permanece pacífico, mas as áreas onde há tensão étnica continuam extremamente perigosas.
Apesar dos protestos das agências de ajuda humanitária, os acampamentos para as pessoas que tiveram que deixar suas casas por causa da violência estão sendo fechados em Nairóbi e Mombaça.
O governo argumenta que as áreas afetadas das duas cidades já estão seguras e que os moradores já podem voltar para casa.
Silêncio positivo
Os correligionários de Odinga, que acusa o presidente Kibaki de ter fraudado o resultados das eleições, afirmam que vão recomeçar os protestos na quinta-feira.
Em Kisumu, no oeste do Quênia, onde cerca de 100 pessoas foram mortas nos choques, os líderes do MDL vão participar de uma cerimônia religiosa no principal estádio da cidade, em memória das vítimas.
Ao todo, mais de 600 pessoas morreram nos choques, iniciados no dia 30 de dezembro, e mais de 250 mil pessoas tiveram que deixar suas casas.
O comissário da UE, que se reuniu com representantes dos dois lados do conflito, disse que está preocupado com o uso excessivo de força da polícia contra os manifestantes da oposição.
Mas Louis Michel também criticou a decisão da oposição de retomar os protestos, que podem levar a mais violência.
“Agora é preciso um cessar-fogo militar e um cessar-fogo da retórica semântica”, disse ele.
“Precisamos de quietude, precisamos de um pouco de silêncio positivo.”
O Movimento Democrático Laranja, que defende a realização de uma nova eleição, havia originalmente pedido um boicote às empresas que apóiam o presidente Kibaki.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia levantou dúvidas sobre a votação, listando um catálogo de irregularidades na sexta-feira.
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