Repórter News - reporternews.com.br
Politica Brasil
Segunda - 17 de Dezembro de 2007 às 07:43

    Imprimir


Aos 66 anos de idade, 40 dos quais militando no PMDB, o deputado federal Carlos Bezerra se remoça como nos tempos de estudante do Colégio Estadual quando o assunto é política e o seu partido. Advogado formado sob a influência da Escola Francesa, é adepto à leitura de clássicos da literatura mundial, como Homero, Platão, Cervantes, Sheakspeare, Dostoievisk, Oscar Wilde e, claro, os franceses Victor Hugo e Voltaire, frequentemente citados por ele.

Bezerra já foi prefeito de Rondonópolis por dois mandatos, deputado estadual, deputado federal, governador do Estado e Senador da República, chegando a presidir a poderosa Comissão de Assuntos Econômicos da Casa, e relatar o Orçamento Geral da União.

É pai de três filhos e casado com a ex-deputada federal Teté Bezerra, sua “companheira de vida, de luta e de sonhos”, como diz, com quem já tem netos.

Nesta entrevista exclusiva ao Diário, Carlos Gomes Bezerra fala sobre as eleições do ano que vem, a unidade interna do PMDB, a relação do partido com o governo do Estado, economia de Mato Grosso e incentivos fiscais, entre outros assuntos.

--------------------------------------------------------------------------------------------------

Diário de Cuiabá – Como o PMDB vai se portar nas eleições do ano que vem em Mato Grosso. Há alguma diretriz universal para todos os municípios?

Carlos Bezerra – Sim. O diretório nacional tirou uma diretriz chamada “2008, A Vez do PMDB”. Significa que vamos iniciar um grande processo de mobilização das nossas bases em todo o país, formando e integrando nossa militância, para lançarmos o maior número de candidatos a vereador e prefeito. Em Mato Grosso, vamos ter candidatos a prefeito ou a vereador em todos os municípios do Estado. Estamos nos preparando para lançar um candidato viável a presidência da República em 2010.

Diário – Onde o PMDB terá candidatos mais fortes a prefeito em Mato Grosso no ano que vem?

Bezerra – Teremos candidatos competitivos nas principais cidades. Rondonópolis, Sinop, Colíder, Barra do Garças, Várzea Grande, Cáceres, Rosário Oeste, Chapada, Vila Rica, Sorriso, Alta Floresta e Poconé são alguns dos exemplos, isso sem falar nas cidades onde já temos os prefeitos que serão candidatos à reeleição, como Paranatinga, Dom Aquino, Colniza e Jauru. Todos os analistas dizem que o PMDB será o grande vitorioso nas eleições do ano que vem em Mato Grosso. Esse é nosso objetivo.

Diário – Isso dará para compensar a perda do Walter Rabello em Cuiabá?

Bezerra – Um partido não se faz de um homem só. Um partido é construído por muitos soldados. Temos 41 anos de existência no Brasil. Quase isso em Mato Grosso. Muitos entraram e saíram do PMDB. A maioria, no entanto, fracassou depois de abandonar o partido. Esse assunto está encerrado no PMDB. Não somos de ficar chorando perdas. Ainda estudamos o lançamento de uma candidatura forte em Cuiabá. Se isso não for possível, analisaremos qual projeto será melhor para a cidade e melhor para o partido. Com certeza, teremos um grande resultado eleitoral ano que vem em Cuiabá e em todo o Estado, e sairemos mais fortes.

Diário – Desculpa insistir, mas o Walter diz que saiu do partido porque não teria apoio à sua candidatura, e que o senhor não apoiaria a candidatura dele. Procede?

Bezerra – Ele sabe que isso não é verdade. Todo o partido em Cuiabá estava comprometido com a candidatura própria, e ele seria o nosso candidato. Não existe traição no PMDB. Traidor não fica em nosso partido. Ele preferiu outro caminho. Respeitamos isso. Mas exigimos respeito ao partido que lhe deu dois mandatos, de vereador e de deputado estadual. Como já disse, Walter Rabello são águas passadas. Nos ocupamos agora dos que preferiram ficar no partido e com aqueles que poderão se filiar conosco. Somos o segundo maior partido de Mato Grosso. Vamos voltar a ser os primeiros. É isso que nos interessa.

Diário – Comenta-se nos bastidores que haveria uma disputa interna no PMDB entre o senhor e o vice-governador Silval Barbosa. É por causa de 2010?

Bezerra – O Silval Barbosa é vice-governador do Estado porque o PMDB, bancou seu nome no ano passado, e o presidente do partido era eu. O Silval é um grande companheiro e uma das novas lideranças não apenas do PMDB, mas de Mato Grosso. Todo o trabalho que fazemos no PMDB é para estimular o surgimento de novas lideranças. A propósito, grande parte das lideranças que Mato Grosso teve nos últimos 30 anos, talvez a maioria, ou era do PMDB ou nos fazia oposição. Ou seja, ou o PMDB cria as lideranças, ou elas são criadas em função do PMDB. Portanto, somos um partido vivo, que possui pessoas das mais diversas origens e formações. Essas contradições internas, essa diversidade, é que formam um tecido partidário vigoroso.

Diário – Mas, quem será o candidato a governador pelo PMDB em 2010, o senhor ou o Silval?

Bezerra – A nossa diretriz básica é que teremos candidatos majoritários em 2010, e com chances reais de eleição. Quanto aos nomes, não está na hora de definirmos. Essa coisa de lançar nome três quatro anos antes das eleições é coisa de patrão. No PMDB, somos todos índios, não temos cacique. O Silval é certamente um nome forte para as eleições de 2010. O processo de revitalização do PMDB que estamos iniciando vai nos dar outros nomes. Quanto mais nomes tivermos, mais força eleitoral teremos.

Diário - Mas, no caso do governo Blairo Maggi o senhor e o Silval têm posições divergentes, não tem?

Bezerra – Temos a mesma posição, que é a posição do partido, consensuada pela Executiva Regional e a bancada de deputados estaduais. Optamos por não participar oficialmente do governo, não indicando cargos. Não temos nenhum cargo do PMDB no governo do Estado. Nossos deputados estaduais optaram por uma postura de independência, avaliando pontualmente cada matéria que o governo envia. Ocorre que o Silval é vice-governador eleito. Ele tem uma relação institucional com o governo, não apenas política. Essa é a única diferença. Repito: somos o partido de Mato Grosso que possui a maior e mais vigorosa unidade interna. Nossa unidade é programática, está acima das questões pessoais.

Diário – Recentemente o partido esteve à frente de uma articulação pela criação da CPI dos Incentivos Fiscais, que acabou não saindo na Assembléia. Essa não foi uma postura de oposição ao governo do Estado?

Bezerra – Esse é um dos assuntos mais importantes para Mato Grosso na atualidade. Quando o PMDB governou o Estado, de 1987 a 1990, criamos os primeiros programas de Incentivo Fiscal. O primeiro foi o Programa de Desenvolvimento da Indústria (PRODEI), em 1988, que resultou na criação de um fundo (FUNDEIC). Mas, veja bem a diferença: o que o PMDB criou foi uma política de incentivo, para atrair indústrias que estão atuando no Estado até hoje, como a Antártica. Já a Coca-Cola e a Sadia estavam prestes a deixar Mato Grosso, e o Prodei as segurou no Estado, inclusive ampliando suas plantas. O que o governo faz hoje em dia é renúncia fiscal. É bem diferente. Mato Grosso tem perdido muito com essa política de renúncia fiscal. Estamos sendo ultrapassados por Mato Grosso do Sul. Em 1985, um ano antes do PMDB assumir o governo, o PIB de Mato Grosso era o 21º do Brasil, e o de Mato Grosso do Sul era o 15º. Em 1990, quando acabamos nosso governo, já éramos o 17ª maior PIB do Brasil. Ganhamos cinco posições, mais de uma por ano de governo do PMDB. A participação do estado no PIB nacional em 1985 era de apenas 0,69%. Depois do governo do PMDB, passou a ser de 1,20%, em 1999. Preparamos o Estado para crescer, e isso resultou no maior crescimento da década de 90, da ordem de 87%. Então, esse é um assunto que interessa ao PMDB onde quer que ele seja tratado. A CPI poderia ter sido uma boa oportunidade para a sociedade mato-grossense tomar conhecimento desses dados e ajudar a apontar os caminhos.

Diário – O senhor disse há pouco que no PMDB só tem índios, mas o senhor é tratado por cacique no meio político. A que se deve isso?

Bezerra – Estou no PMDB há 40 anos. Nunca recusei uma tarefa do partido. Fui forjado na luta pelo restabelecimento da democracia. Na época da ditadura - período inclusive em que estive preso e não pude sequer socorrer uma filha minha que morreu durante minha prisão – política era coisa muito séria. Qualquer descumprimento de uma tarefa partidária representa risco de morte para os militantes envolvidos. Até hoje tenho esse critério de fazer política: seriedade no cumprimento das decisões partidárias, como se ainda houvesse risco de morte. Muitos, no entanto, não levam política a sério. A ditadura não apenas matou e desapareceu com milhares de pessoas. O crime capital da ditadura foi matar a nossa escola de líderes, a nossa escola política, quando fechou sindicatos e abafou o movimento popular. Temos uma legião de políticos hoje em dia sem formação política e com falhas de caráter muito sérias. Portanto, não gostam de cumprir as tarefas partidárias. Por isso reclamam dos que cumprem e exigem que cumpram as suas. Como disse, nunca troquei de partido, e sempre me submeti às decisões dos fóruns do PMDB. Quem me acusa de cacique na verdade são os que não sabem ou não respeitam as instâncias partidárias, aqueles que vão para os partidos apenas para atender suas conveniências. Mas, na minha idade e com o tempo de militância que tenho na política e no PMDB não preciso mais explicar nada disso. Tenho uma história de entrega às causas públicas, republicanas, que falam por mim.

Diário – Essa despolitização afeta o PMDB também?

Bezerra – Afeta todos os partidos. Somos um partido de massas, e um partido assim não tem como filtrar quem ingressa. É por isso que o PMDB está desenvolvendo um grande programa de formação política dos seus filiados e militantes. Lançamos em Cuiabá, na semana passada, um curso que vai formar mais de 16 mil filiados mato-grossenses na primeira etapa. É um curso muito sério e muito bem elaborado pela Fundação Ulisses Guimarães, presidida no Estado pela deputada Teté Bezerra, em parceria com a Universidade de Brasília e Ulbra, do Rio Grande do Sul. Vamos usar a tecnologia, oferecendo o curso por teleconferência. Nossa meta, a médio prazo, é oferecer o curso para todos os filiados ao partido. Além disso, temos os núcleos por segmento, como o PMDB Mulher, que inclusive fez em Cuiabá um grande encontro do Centro-Oeste, no mês de outubro, o PMDB Juventude e o PMDB Sindical. Temos movimento até no nome. Somos um partido de mobilização social, de luta popular. Vamos fortalecer esses núcleos para melhorar nossa inserção de massas e nossa representação social. Não basta a um partido como o nosso eleger vereadores, prefeitos, deputados, governador. Temos que nos enraizar no meio do povo. E isso vai educando nossa militância e tornando mais saudável nosso tecido partidário.

Diário – O senhor voltou para a Câmara Federal esse ano, depois de quatro anos longe de Brasília. Como foi voltar ao Congresso?

Bezerra – Na verdade eu nunca me afastei de Brasília, assim como nunca deixe de militar na política e no PMDB, com mandato ou sem mandato. Mesmo sem mandato, trabalhei na viabilização de muitos investimentos para Mato Grosso nos últimos quatros anos. Inclusive Cuiabá está recebendo quase R$ 8 milhões de recursos que eu consegui em Brasília com a nossa capacidade de articulação. Construí, ao longo desses anos de atuação na vida pública, uma grande rede de relacionamento, de networking. Consegui, ao longo dos mandatos que exerci como deputado federal e senador, criar um respeito muito grande no legislativo e mesmo no Executivo. Tenho uma assessoria técnica muito experiente e competente. A deputada Teté, durante o período em que esteve em Brasília, também foi muito eficiente na defesa dos interesses de Mato Grosso. Agora o deputado Victório Galli está prestando grandes serviços ao Estado em Brasília. No PMDB, atuamos como bancada, como partido, e isso torna as coisas mais fáceis. Inclusive porque temos o interesse comum, sejamos de Mato Grosso ou de algum estado do Sul ou Nordeste, no desenvolvimento equilibrado do Brasil, acabando com as desigualdades regionais, que fazem com que apenas seis estados do Sul/Sudeste detenham quase 80% do PIB nacional, como acaba de revelar o IBGE. Onde houver um peemedebista, lá estará um político comprometido com a integração nacional, com o desenvolvimento sustentado e com a democracia.





Fonte: Diário de Cuiabá

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/194035/visualizar/