Brasil lança em Bali fundo contra desmatamento
O fundo deve entrar em funcionamento no fim de março e já tem promessas de atrair até lá cerca de US$ 150 milhões de doadores voluntários, de acordo com o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, um dos idealizadores do programa.
Segundo ele, ao longo de um ano de estudos, bancos, supermercados, empresas aéreas e de alimentação mostraram interesse em aplicar dinheiro no projeto.
Em troca da verba, o governo brasileiro vai distribuir diplomas que certificarão a redução de emissões de carbono equivalente a cada doação.
Esses papéis, no entanto, não podem ser negociados em qualquer mercado e vão servir apenas como certificados da iniciativa.
Sem lucro
Sem expectativas de lucro, para convencer investidores o governo conta também com o sucesso do programa de combate ao desmatamento na Amazônia, que reduziu a destruição florestal em 59% nos últimos três anos.
"Nos últimos três anos, o Brasil cortou 500 milhões de toneladas de gás carbônico com a redução nas taxas de desmatamento da Amazônia", disse Marina Silva.
"Isso significa que estamos dando nossa contribuição para combater as mudanças climáticas."
O Brasil espera atrair empresas que queiram vincular a sua imagem à diminuição de emissões de gases poluentes.
O ministro do Meio Ambiente da Noruega, Erik Solheim, participou da apresentação em Bali, e se mostrou entusiasmado com o projeto.
Solheim afirmou que o seu país quer ser "um dos primeiros a participar" da iniciativa brasileira e não poupou elogios ao governo.
"Duvido que exista no mundo qualquer outro país com florestas tropicais que tenha um Estado que funcione também e um sistema tão desenvolvido no que diz respeito ao combate ao desmatamento", disse o norueguês.
Funcionamento
O fundo – que vai funcionar fora dos cofres da União – deve ser gerido por um conselho consultivo formado pelos governos federal e estaduais, organizações não-governamentais, cientistas e empresários e operado pelo BNDES.
O grupo dos cientistas deve ser formado, nas palavras de Tasso Azevedo, por um "IPCzinho", em alusão ao Painel Intergovernamental para Mudança Climática, o IPCC, na sigla em inglês.
Quatro cientistas brasileiros, integrantes do IPCC, vão fazer parte do grupo, além de outros quatro estrangeiros.
A captação de recursos seria atrelada ao desempenho do governo no combate ao desmatamento.
Todo ano, o governo vai calcular quanto carbono deixou de ir para a atmosfera e multiplicar cada tonelada de carbono "poupada" por US$ 5.
Sem polêmica
Por sua vez, o cálculo de redução do desmatamento leva em conta que cada hectare contenha cem toneladas de carbono. Na realidade, porém, a quantidade deve ser bem maior.
"As pesquisas indicam que a floresta tem de 120 a 350 toneladas por hectare", afirma o diretor do Serviço Florestal Brasileiro.
"Para evitar qualquer crítica optamos por uma medida conservadora: 100 toneladas por hectare."
A iniciativa é a primeira incursão do governo brasileiro nos chamados RED – como são chamados os mecanismos de redução das emissões do desmatamento em países em desenvolvimento.
Durante a reunião da ONU em Bali, a questão foi motivo de discórdia entre os países em desenvolvimento.
Enquanto a maior parte dos outros países com florestas tropicais queria a inclusão da degradação (destruição em pequena escala), o Brasil preferia manter o tema fora das discussões.
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