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Politica Brasil
Terça - 20 de Novembro de 2007 às 18:00
Por: Adriana Vandoni

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O fato é corriqueiro, um acidente de trânsito. Claro que com algumas peculiaridades. Meu carro estava estacionado na porta de um restaurante, daqueles restaurantes que ainda se senta na calçada. O restaurante da Ítala. Você conhece? É o melhor arroz com costelinha do planeta e o bolinho de mandioca com carne seca, não existe igual.

Pois bem, num sábado escaldante estávamos lá, um grupo de amigos e amigas jogando conversa fora. Resolvendo os problemas do mundo, entende? Meu carro estacionado na única sobra da rua. Olhei pra ele e comentei com uma amiga:

- Consegui a única sobra da rua.

No exato momento que falava isso, um estrondo interrompeu nossas divagações dos problemas políticos do mundo e nossos devaneios econômicos. Uma mulher descia a rua falando ao celular e simplesmente estuprou meu carro. É verdade! Entrou sem frear, sem reação alguma. A conversa devia estar mesmo muito boa! Corremos até lá e a mulher, assim meio que irritada, com razão, afinal, onde já se viu aquele carro estar estacionado logo lá, né? Desceu do seu carro já querendo questionar que o carro estava errado. Tudo bem, minha filha, vamos chamar a perícia. Meu carro tem seguro e fazendo a perícia, fica pra você apenas a franquia.

De repente, do nada, a mulher teve um ziquizira e fugiu do local. Não pude fazer nada e nem ia, afinal, só se a agredisse e isso não é do feitio nem meu, nem dos que estavam lá. O máximo que fiz foi fotografar. Fotografei a mulher fugindo de ré por uma ladeira enorme. Ela ainda tentou de dentro do carro, me tomar o celular com o qual estava fotografando aquela deprimente fuga.

A polícia militar que foi chamada chegou, fez a ocorrência já com o nome do proprietário do carro. Um conhecido e atuante comerciante da cidade.

Ah, pensamos, não teremos problemas, é só conversar com ele e tudo será resolvido. Afinal, ele é comerciante, é um homem conhecido no estado, ao que tudo indica tem bons antecedentes, até ocupa um cargo de grande representatividade em Mato Grosso, ligado ao comércio.

Tudo certo? Não. Comecei a desconfiar que a coisa não seria pacífica quando apareceram uns vizinhos do restaurante que viram de casa o acidente, para contar que aquela mulher mora no edifício mais próximo ao local da batida e que tem por costume estacionar nas garagens das casas da frente e quando os moradores vão reclamar ela simplesmente responde: você sabe com quem está falando? Meu pai é autoridade.

Dito e feito! Simplesmente o dono do carro não quis pagar. Não pagou. E pouco está se lixando para o fato ter seu nome envolvido em uma questão de mau pagador.

Pois é, existe lei que me assegura o direito do recebimento. Adianta? O que devo fazer? Bem, o carro, foi concertado, pago por mim. Mas e a conta? Tentei ligar novamente e falei com a mulher, filha do ilustre proprietário do carro, e ela me veio com uma justificativa linda, veja bem: “Vocês estavam alcoolizados”.

Quem? As mais de dez pessoas que estavam no restaurante? Olha filha, eu não bebo, já sou umas duas doses acima do normal, mas mesmo que eu estivesse caindo de bêbada, o carro estava estacionado, ele não estava alcoolizado dançando na rua.

Não adianta, contra cinismo e mau caratismo não existem leis.

O que esses dois precisam, pai e filha, é de vergonha na cara, é de honestidade. Agora me diga, qual a autoridade este homem tem para conduzir um órgão tão importante para o funcionamento do comercio no estado, como o de dar legalidade aos atos do registro público de empresa mercantil e disponibilizar informações mercantis à sociedade, se nem das suas contas ele dá conta?

Por fatos corriqueiros como esse é que encontramos as explicações para o grande embuste que virou o Brasil.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ. Site: www.prosaepolitica.com




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