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Meio Ambiente
Domingo - 18 de Novembro de 2007 às 13:20

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Uma solução “de meio-termo” aceita apenas no final de uma longa negociação foi necessária para colocar no relatório final do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) uma menção à floresta amazônica.

Por iniciativa brasileira, incluiu-se um quadro apresentando exemplos de regiões que podem ser afetadas pela mudança climática em todo o mundo, entre as quais estão a Amazônia e o semi-árido nordestino.

"Até meados do século, projeta-se que aumentos de temperaturas associados à redução do nível de água no solo ocasionarão uma substituição gradual da floresta tropical por savana no leste da Amazônia", diz um trecho do quadro. “A vegetação semi-árida tende a ser substituída por vegetação árida.”

A tabela, que não constava dos últimos rascunhos do relatório político do IPCC, foi aprovada apenas na quinta-feira à noite, depois que negociadores brasileiros insistiram na necessidade de citar possíveis conseqüências do aquecimento global sobre a maior floresta tropical do mundo.

Na quarta-feira, a BBC Brasil apurou que os negociadores haviam deixado de mencionar um tema tão sensível para o Brasil ao aprovar a parte do relatório que alertava para os impactos a serem percebidos nos ecossistemas e regiões mais ameaçados.

Os cientistas destacaram a diminuição do gelo no Ártico, a exposição das pequenas ilhas à elevação do nível do mar, as chances de tempestades nos deltas de rios asiáticos e a vulnerabilidade da África.

‘Visão nortista’

A inclusão da Amazônia nos relatórios do IPCC vinha sendo defendida pela delegação brasileira desde a apresentação do segundo documento, em Bruxelas, disse à BBC Brasil o coordenador-geral de Mudança Climática do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Domingos Gonzalez Miguez, negociador-chefe em Valência.

Ele afirmou que os cientistas relutavam em colocar a floresta tropical brasileira nos textos por falta de informações sobre os possíveis impactos da mudança climática no ecossistema. Já as evidências sobre o impacto no semi-árido eram mais fortes, por conta de estudos sobre este tipo de vegetação – não necessariamente no Nordeste brasileiro – publicados no exterior.

“O quadro foi um compromisso (de meio-termo), uma solução encontrada para incluir a Amazônia no relatório-síntese”, afirmou o negociador.

Para Miguez, a presença reduzida de cientistas latino-americanos em comparação com as delegações de países desenvolvidos ajuda a explicar o foco menor em outras regiões. Outra razão é a prioridade dada pelo IPCC a pesquisas publicadas nas principais revistas acadêmicas estrangeiras. Acaba-se dando mais peso aos estudos realizados em inglês, embora a maior parte da literatura sobre a Amazônia esteja em português ou espanhol.

Como resultado, ele afirmou, o IPCC corre o risco de acabar chancelando uma visão “nortista” dos fenômenos climáticos, sob a perspectiva de países do hemisfério norte.

Contraste

A ausência da Amazônia no relatório-síntese do IPCC neste ano contrastaria com as palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que neste sábado divulgou o documento oficialmente em Valência.

“Na Amazônia, vi como a floresta, o 'pulmão da terra' está sendo sufocada”, disse o secretário-geral, que acaba de voltar de um giro pela América do Sul, aos representantes de 130 países. "Se a previsão mais forte do grupo (IPCC) se tornar realidade, grande parte da selva amazônica se transformará em savana."

O IPCC analisa vários modelos que estimam o impacto da mudança climática sobre a Amazônia. A continuarem as atuais políticas públicas, entre 10% e 25% da floresta poderia virar savana até 2080, dizem os cientistas, uma hipótese que o IPCC considerou “mais provável que improvável”.

Entre os modelos considerados mais "catastróficos", está o elaborado pelo britânico Hadley Centre, que mostra o ecossistema desaparecendo completamente até 2080.





Fonte: BBC Brasil

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