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Quarta - 14 de Novembro de 2007 às 14:46
Por: José Carlos Dias

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A sabedoria popular tem em seu acervo a frase “vão-se os anéis, mas ficam os dedos”. A interpretação alegórica justifica a complexidade dos processos de negociações. Ela pode explicar, por exemplo, porque os Estados praticam as chamadas renúncias de receita, que em casos exacerbados são até chamadas de “guerra fiscal”.

A história é velha. Vem da década de 80, quando houve farta distribuição de áreas, investimentos em infra-estrutura e, em muitos casos a renúncia fiscal. Buscava-se a industrialização, com a geração de empregos, ampliação do consumo local e implemento de receita para fazer frente ao crescimento do Estado.

Todo mundo conhece os processos de colonização de pelo menos uma centena de municípios mato-grossenses que atraíram para o Centro-Oeste o produtor rural do sul/sudeste, com amplos incentivos da Sudam e do próprio Banco do Brasil. Neste último caso, traduzidos nas políticas de preço mínimo, aquisição de safra, que na época fizeram de Mato Grosso o maior consumidor de máquinas e insumos agrícolas.

Não houvesse este processo, estaríamos assistindo as capivaras em nossas roças de toco destinadas à subsistência. No entanto foram os incentivos que propiciaram a economia forte que Mato Grosso exibe hoje para o mundo. O processo rendeu mais do que lucro. Possibilitou a definição do Estado como o mais importante na agropecuária nacional. E em nenhum momento foi questionado, extemporaneamente, em colunas de jornais, blogs e palanques eletrônicos.

Tais processos de incentivos interessam a todos. E Mato Grosso busca hoje, com plena competência, atrair o empreendedor industrial, voltado para uma economia globalizada. Para cada renúncia de R$ 1,00 dos programas de incentivo, o Estado obtém uma receita de R$, 1,43. Isto faz do subsídio importante investimento visando o desenvolvimento econômico e social.

Vamos aos números. A Sadia, para ficarmos em um único exemplo, ao desenvolver seu processo de crescimento com incentivos do Prodeic, prevê rodar 70 milhões de quilômetros, consumindo combustível, realizando manutenção de veículos, ocupando trabalhadores, consumindo em restaurantes. Todas atividades que desenvolvem a economia, geram empregos e renda e que não são subsidiadas.

No momento em que finalizava este artigo, a Cargill, uma das maiores empresas do setor em que atua, anunciou as obras de terraplanagem da sua unidade industrial que será implantada nos próximos meses em Primavera do Leste. Será um investimento de R$ 210 milhões para processar duas mil toneladas de grãos por dia, gerando 160 empregos diretos, fora os indiretos.

A Cargill anunciou ainda que a capacidade de processamento de grãos será ampliada em 50%, ou seja, passando para três mil toneladas/dia, ao final de um ano de atividade da empresa. Fica, portanto, a pergunta: vamos continuar gerando renda e empregos dentro de Mato Grosso ou exportá-los para outros estados como alguns poucos defendem em seus discursos obtusos?

Não podemos focar nosso ponto de vista em posturas obtusas daqueles que, por terem sido atropelados pela história, semeiam o “progresso” em colunas de jornais, blogs e palanques eletrônicos condenando, contraditoriamente, os incentivos fiscais. O que temos que fazer é uma atualização de modo de pensar, inserindo os dados complexos da época atual como elementos de análise. E isto sem perder de vista a sabedoria popular. Afinal as renúncias do Prodeic podem ser comparadas ao anel que se dispensa para que se consiga manter os dedos. Se Mato Grosso não as oferecer, outros estados o farão.

* José Carlos Dias é jornalista e secretário de Estado de Comunicação Social





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