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Garra e sabedoria de uma das primeiras feministas
SÃO PAULO - Uma mulher à frente do seu tempo. Em poucas palavras, esta foi Rosa Okubo. “A família costuma brincar que ela deve ter sido uma das primeiras feministas”, revela o neto de Rosa, Mário Massao, diretor do Instituto Rosa Okubo. Desde a época em que morava no Japão, no início do século 20, Rosa se diferenciava das outras mulheres. As japonesas, em geral, eram criadas para serem donas de casa; ela concluiu os estudos e foi dar aulas.
- Rosa é personagem do filme 'I Hate São Paulo'
No Brasil, não foi diferente. Rosa marcou caminhos por onde passou. Acompanhada do marido, Tamigoro Okubo, e de dois filhos, Tereza e Júlio, chegou ao Brasil em 1924. Aqui, teve mais três filhas: Luiza, Madalena e Emília. Durante o tempo em que trabalhou na lavoura de café, em Piratininga, no Interior, deu aulas de japonês para crianças e jovens. E não ficou só nisso. “Quando viu uma mulher em dificuldades na hora do parto, decidiu ajudá-la. Com apenas um manual de primeiros socorros em mãos - que recebeu durante a viagem ao Brasil - fez o parto de emergência e se tornou a ‘parteira’ da fazenda”, conta Massao.
Cumprido o contrato com a fazenda, a família Okubo se instalou na Capital. Tamigoro abriu uma casa de câmbio e penhor. “A minha avó dizia para ele que não se deve mexer com a infelicidade das pessoas e tinha razão”, disse Massao. O negócio não deu certo e Tamigoro retornou para a fazenda. Rosa ficou em São Paulo - preocupada com a educação dos filhos.
Sozinha, sem falar a língua portuguesa e sem profissão definida, decidiu vender uma das jóias que tinha trazido do Japão para manter a casa. Escolheu um anel com pérola e brilhante - a jóia fazia muito sucesso entre as mulheres brasileiras. “Esta venda lhe trouxe muitas alegrias. Ela nos contava que nenhuma outra teve o mesmo sabor”, relembra Massao. “Aquele ato representou a alimentação dos filhos.”
A venda também fez com que Rosa descobrisse uma fonte de renda. “As pérolas eram raras e muito apreciadas pela alta sociedade da época.” Com o tino comercial aguçado, Rosa convenceu um cultivador de pérolas, Kokicho Mikimoto, da mesma província que ela, Mie-Ken, de que poderia vender as pérolas no Brasil. Argumentou que o negócio seria deixado aos filhos e netos. E assim surgiu a Casa de Jóias Rosa Okubo. “Ela rompeu grandes barreiras. O mercado da joalheria era masculino e, além disso, teve de convencer Mikimoto de que uma mãe de família poderia fazer um negócio prosperar no Brasil”, conta o neto.
Rosa abriu sua própria joalheria em 1934 e suas peças rapidamente fizeram sucesso - eram exclusivas, característica da marca Rosa Okubo até hoje.
Ela, mesmo sem ser ourives, criou colares de diamantes que se desmontavam formando pulseiras e broches. Fazia questão de acompanhar todas as etapas da confecção. “Ela era tão preocupada com o conforto do uso da jóia que fazia os trabalhadores da joalheria usarem as peças para ver se estavam bem feitas.”
Além de se transformar na “Rainha das Pérolas”, Rosa se tornou uma referência da cultura japonesa para os brasileiros e ajudou a vencer o preconceito que existia por parte dos ocidentais. Com as jóias, Rosa teve acesso a um público de elite, formadores de opinião e foi transformando a visão sobre a cultura japonesa. “A vovó fazia questão de divulgar a cultura japonesa entre os clientes”, lembra Massao. Além disso, ela se preocupava com as questões sociais e doava jóias para entidades e associações.
“Ela conseguiu envolver todos da família no negócio”, afirma Massao. Os filhos seguiram carreira na joalheria. Além deles, sete netos, duas noras e um bisneto. “Minha avó sempre foi matriarca, o centro das atenções, das decisões da família. A maior herança que ela nos deixou foi a nossa formação”, relembra, emocionado.
Desbravadora e atenta a novos negócios, Rosa Okubo, nos anos 40, também investiu no ramo de construções e no mercado de capitais. Adepta aos esportes, começou a praticar golfe aos 70 anos e incentivou a participação das mulheres no esporte. Criou em 1966 a Taça Rosa Okubo, primeiro torneio de golfe feminino no Brasil, realizado por 26 anos.
Mário Massao lembra da avó como uma mulher alegre e otimista, que costumava dizer que era preciso acreditar e ter força para superar os momentos difíceis. Atualmente, a empresa Jóias Rosa Okubo tem projeção internacional e ganhou vários prêmios. “A história da minha avó é parecida com a de muitos imigrantes. Todos sofreram e passaram por dificuldades. Mas se sacrificaram e deixaram para nós uma grande herança cultural e a comemoração do centenário da imigração faz valer o mérito deles para não ser esquecido”, diz Massao. Rosa Okubo morreu em 1995, aos 102 anos.
- Rosa é personagem do filme 'I Hate São Paulo'
No Brasil, não foi diferente. Rosa marcou caminhos por onde passou. Acompanhada do marido, Tamigoro Okubo, e de dois filhos, Tereza e Júlio, chegou ao Brasil em 1924. Aqui, teve mais três filhas: Luiza, Madalena e Emília. Durante o tempo em que trabalhou na lavoura de café, em Piratininga, no Interior, deu aulas de japonês para crianças e jovens. E não ficou só nisso. “Quando viu uma mulher em dificuldades na hora do parto, decidiu ajudá-la. Com apenas um manual de primeiros socorros em mãos - que recebeu durante a viagem ao Brasil - fez o parto de emergência e se tornou a ‘parteira’ da fazenda”, conta Massao.
Cumprido o contrato com a fazenda, a família Okubo se instalou na Capital. Tamigoro abriu uma casa de câmbio e penhor. “A minha avó dizia para ele que não se deve mexer com a infelicidade das pessoas e tinha razão”, disse Massao. O negócio não deu certo e Tamigoro retornou para a fazenda. Rosa ficou em São Paulo - preocupada com a educação dos filhos.
Sozinha, sem falar a língua portuguesa e sem profissão definida, decidiu vender uma das jóias que tinha trazido do Japão para manter a casa. Escolheu um anel com pérola e brilhante - a jóia fazia muito sucesso entre as mulheres brasileiras. “Esta venda lhe trouxe muitas alegrias. Ela nos contava que nenhuma outra teve o mesmo sabor”, relembra Massao. “Aquele ato representou a alimentação dos filhos.”
A venda também fez com que Rosa descobrisse uma fonte de renda. “As pérolas eram raras e muito apreciadas pela alta sociedade da época.” Com o tino comercial aguçado, Rosa convenceu um cultivador de pérolas, Kokicho Mikimoto, da mesma província que ela, Mie-Ken, de que poderia vender as pérolas no Brasil. Argumentou que o negócio seria deixado aos filhos e netos. E assim surgiu a Casa de Jóias Rosa Okubo. “Ela rompeu grandes barreiras. O mercado da joalheria era masculino e, além disso, teve de convencer Mikimoto de que uma mãe de família poderia fazer um negócio prosperar no Brasil”, conta o neto.
Rosa abriu sua própria joalheria em 1934 e suas peças rapidamente fizeram sucesso - eram exclusivas, característica da marca Rosa Okubo até hoje.
Ela, mesmo sem ser ourives, criou colares de diamantes que se desmontavam formando pulseiras e broches. Fazia questão de acompanhar todas as etapas da confecção. “Ela era tão preocupada com o conforto do uso da jóia que fazia os trabalhadores da joalheria usarem as peças para ver se estavam bem feitas.”
Além de se transformar na “Rainha das Pérolas”, Rosa se tornou uma referência da cultura japonesa para os brasileiros e ajudou a vencer o preconceito que existia por parte dos ocidentais. Com as jóias, Rosa teve acesso a um público de elite, formadores de opinião e foi transformando a visão sobre a cultura japonesa. “A vovó fazia questão de divulgar a cultura japonesa entre os clientes”, lembra Massao. Além disso, ela se preocupava com as questões sociais e doava jóias para entidades e associações.
“Ela conseguiu envolver todos da família no negócio”, afirma Massao. Os filhos seguiram carreira na joalheria. Além deles, sete netos, duas noras e um bisneto. “Minha avó sempre foi matriarca, o centro das atenções, das decisões da família. A maior herança que ela nos deixou foi a nossa formação”, relembra, emocionado.
Desbravadora e atenta a novos negócios, Rosa Okubo, nos anos 40, também investiu no ramo de construções e no mercado de capitais. Adepta aos esportes, começou a praticar golfe aos 70 anos e incentivou a participação das mulheres no esporte. Criou em 1966 a Taça Rosa Okubo, primeiro torneio de golfe feminino no Brasil, realizado por 26 anos.
Mário Massao lembra da avó como uma mulher alegre e otimista, que costumava dizer que era preciso acreditar e ter força para superar os momentos difíceis. Atualmente, a empresa Jóias Rosa Okubo tem projeção internacional e ganhou vários prêmios. “A história da minha avó é parecida com a de muitos imigrantes. Todos sofreram e passaram por dificuldades. Mas se sacrificaram e deixaram para nós uma grande herança cultural e a comemoração do centenário da imigração faz valer o mérito deles para não ser esquecido”, diz Massao. Rosa Okubo morreu em 1995, aos 102 anos.
Fonte:
Estadão
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/198973/visualizar/
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