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Politica Brasil
Terça - 23 de Outubro de 2007 às 13:58
Por: Lourembergue Alves

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Há certo desencanto com a política. Não existe luz no final do túnel. Tudo parece estar turvo. Contribui para isso uma série de fatores, entre os quais o envolvimento de políticos em corrupções, negociatas e até mesmo o alheamento do presidente da República com relação a estes atos, muitos deles ocorridos à porta de seu gabinete, coordenados e dirigidos por alguns de seus ex-auxiliares diretos. É uma crise e tanta. Talvez comparada com aquela provocada pelo golpe burocrático-militar, que encerrou um período de liberdade política como nunca havia existido no país, uma vez que nos anos subseqüentes a 1964, as liberdades públicas foram eliminadas de vez, com as questões de interesse da coletividade a ficarem a cargo de um grupo de brasileiros dotados de poderes especiais.

Aquele era um ambiente propício à resistência e ao protesto, mesmo diante das baionetas e das botas da ditadura. Sempre se inventava uma maneira de romper o cerco da opressão. Utilizou-se, inclusive, de músicas para criticar o regime, tais como “A Banda”, de Chico Buarque; “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim; e “Disparada” e “Caminhando”, de Geraldo Vandré. Todas responsáveis a conduzirem filhos e pais ao ritmo de repulsa ou de não-concordância. As prisões não lhes serviam de empecilhos. Tampouco de desestímulos.

Hoje, os tempos são bem outros. Muito distintos daqueles. Parece até existir um movimento que leva o brasileiro comum a um estado inicial de forte excitação (foi isso que se viu, por exemplo, durante a posse do presidente Lula da Silva em 2002), em seguida de ímpetos de desilusão (pois o ex-metalúrgico “nada vê”, “nem sabe”) e depois de uma nostalgia profunda que induz à apatia. A participação na discussão sobre o desarmamento em 2005 não elimina os efeitos do banzo. Tanto que cada vez mais se tem, muito forte, a descrença nas instituições, iniciadas nos anos 90, mas agravada recentemente, pois os jovens, entre 16 e 18 anos, sequer estão aí “para tirar o título de eleitor”. Caíram os pedidos. Em 1992, ano da saída do hoje senador Collor de Mello da presidência da República, foram expedidos 3,22 milhões títulos para as pessoas nessa faixa etária; ao passo que em junho de 2007, apenas 2,09 milhões dos jovens requereram tal documento. O prazo limite para o pedido dessa documentação é março de 2008. Preocupado, o TSE resolveu continuar com a sua campanha pela televisão e rádio com intuito de atrair os jovens.

Acontece, porém, que a juventude está desiludida com o mundo da política. Vê-o tão-somente como espaço da corrupção. Nada a faz mudar de opinião. Nem a família. Tampouco a escola. Aliás, principalmente esta última que, há algum tempo, já adotou a cartilha do “não discutir política”, embora estranhamente se diga estar preocupada com a formação do cidadão. Não tem como! Pois a escola passa todo tempo a cortar as asas da liberdade. Outro dia, um jovem secundarista ficou muito desapontado com a atitude da direção escolar, que reagiu de forma repressora e nenhuma pouco pedagógica, só porque ele, na condição de líder de sua turma, havia feito, via carta, uma série de reivindicações a escola, do “tipo sabonete no banheiro”. E olhe que o tal educandário não pertence a nenhuma rede pública de ensino.

Tem-se, então, o retrato fiel do descompasso entre o que deveria ser com o que é feito. Há, portanto, um despreparo da escola no quesito formação política. Perdem-se todos, jovens e idosos. Nada adianta, portanto, uma campanha arrojada em prol da importância do título de eleitor, se não existe uma ação pedagógica que transcende o simples ato procedimental. Muito menos se vê uma vontade de acabar com a impunidade, erva daninha de sustentação do cartorialismo. Talvez, por isso, a situação vivida causa tanto mal quanto a registrada no regime burocrático-militar, materializada no desencantamento político.

Lourembergue Alves é professor da UNIC e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.comn.br.





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