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Politica Brasil
Quinta - 04 de Outubro de 2007 às 14:59
Por: Fernando Leal

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Mato Grosso vai perder o status de campeão mundial de queimadas nas florestas, atribuído a ele – ainda no ano passado – por estudos independentes de dois cientistas americanos, com base em dados dos satélites Terra e Aqua, da Nasa (National Aeronautics and Space Administration) – a agência espacial dos Estados Unidos.

A previsão foi feita na noite desta quarta-feira (03), pelo deputado Wagner Ramos (PR), com base em projeto seu que passou a ser apreciado pela Assembléia Legislativa. O documento autoriza o governo a formar a Brigada de Vigilantes do Fogo – no âmbito da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) – para proteção ambiental dos parques, reservas, cerrados e florestas públicas do estado.

Citando matéria jornalística publicada no caderno de Ciência do site “folha.uol”, Ramos alertou que um dos cientistas – Louis Giglio, pesquisador do Centro Goddard de Vôo Espacial, da Nasa – monitorou as queimadas no mundo inteiro, entre 2000 e 2005, para saber que regiões do planeta queimam mais e em que épocas do ano.

O outro – Douglas Morton, da Universidade de Maryland em College Park – olhou para o arco do desmatamento amazônico – principalmente o norte de Mato Grosso – nesse mesmo período, para saber o que queima.

“Para tentar separar o que é prática agrícola do que é derrubada, Morton recheou de matemática sofisticada um raciocínio simples: madeira demora mais do que capim para queimar. Portanto, se um mesmo campo é visto pelo satélite queimando mais de uma vez em um ano, o foco de calor associado dificilmente corresponde a uma queima de pasto. A madeira de uma mata recém-derrubada, em compensação, passará meses ou anos queimando antes de a terra ser convertida para a agropecuária”, explica a matéria. O deputado republicano também apontou para uma decisão da Justiça, determinando que a Polícia Federal investigue os responsáveis pelo alto índice de queimadas no estado, que registrou 9,3 mil focos de incêndios somente em setembro.

“Fruto ou não da ação do homem ou da própria natureza, os poderes devem estar unidos no combate a esses graves incidentes. Se – por um lado – o governo tem obrigação de atuar de maneira firme no combate ao fogo e às suas origens, a Assembléia é o fórum apropriado para discussões que podem contribuir muito para a reversão do atual quadro. E é o que todos nós, parlamentares, estamos fazendo”, salientou.

Torre de Vigilância

De acordo com seu projeto, a Brigada de Vigilantes do Fogo vai atuar anualmente na conservação preventiva ambiental – nos períodos de estiagens das chuvas – onde haja maior incidência ou potencialidade de queimadas naturais ou delinqüentes.

“A brigada será composta por servidores públicos e agentes privados voluntários a serem recrutados em processos administrativos e treinados por técnicos especializados. A estrutura servirá para desenvolver atividade de vigilância e chamamento emergencial dos órgãos competentes de combate ao fogo ambiental e silvestre”, diz o documento.

Uma das ações principais a ser desenvolvida é a colocação de, pelo menos, uma torre de vigilância florestal em cada unidade de proteção ambiental. Ela servirá para “maximizar os esforços e minimizar os custos” dos trabalhos da Brigada de Vigilantes do Fogo.

Pelo projeto, o governo deverá munir a brigada deverá com equipamentos de qualidade como binóculos de alta potência, rádios, telefonia celular e veículo público para uso exclusivo na atividade de vigilância e preservação das áreas públicas.

Ele também autoriza a contratação – em regime de sobreaviso e por hora de vôo no trabalho ambiental efetivo – de aviões agrícolas, com boa capacidade de armazenamento de água para atuação imediata no chamamento emergencial da brigada. Essa ação será estratégica para debelar os princípios de incêndios florestais.

Intensidade do Fogo

Num artigo científico publicado no periódico “Journal of Geophysical Research”, o cientista Louis Giglio montou o primeiro mapa global de intensidade de fogo. A região que mais concentra pixels (pontos) de calor em seu mapeamento é a do arco do desmatamento. “A densidade de pixels de fogo detectada nessa localidade – a região mato-grossense – é duas vezes maior que em qualquer outro lugar do mundo”, escreveu o cientista. E explicou: “Essa é uma região de intensa conversão da cobertura vegetal, na qual a floresta tropical vem sendo rapidamente transformada em pasto, com queima subseqüente da floresta”.

Wagner Ramos ainda apontou outra realidade mostrada pela Folha. Segundo ela, o estudo é inovador porque usa os sensores Modis, a bordo do Terra e do Aqua, especialmente construídos para detectar focos de calor. Os outros satélites não serviam para a tarefa. “Era como tentar pesar um elefante com uma balança de banheiro”, comparou Giglio na ocasião. “O mapa montado por ele e dois colegas é o primeiro a captar queimadas de dia e de noite. Hoje, as detecções de fogo só usam imagens noturnas, o que é um problema, porque a maior parte do planeta, inclusive no arco do desmatamento, as queimadas acontecem durante o dia”, de acordo com o periódico.

Desmatamento x Queimada

Ramos citou ainda outros trechos da matéria veiculada pelo jornal Folha de São Paulo. Um deles trata do segundo estudo dos cientistas americanos, liderado por Douglas Morton. O trabalho mostrou que “o que mais queima na região do mundo que mais queima” (referência a Mato Grosso) é floresta: “60% dos focos de calor detectados em Mato Grosso no período 2000-2005 vêm de queimadas para desmatamento”.

O pesquisador, que conduz pesquisas no Brasil há sete anos, admite que seus dados são preliminares. Entretanto, sabe que o estudo deve fazer barulho, porque até agora se achava que a maior parte dos focos de calor detectados por satélite correspondesse à queima de pasto ou de resíduos de colheita em áreas previamente desmatadas.

Sobre o assunto, a Folha ouviu Paulo Artaxo, especialista em química atmosférica da USP e um dos líderes do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera/Atmosfera na Amazônia): “Isso muda completamente o nosso entendimento sobre o tema. Nós achávamos que cerca de 70% dos focos de calor viessem de queimadas agrícolas. Mas era uma percepção, não um resultado”, disse Artaxo após assistir uma apresentação de Morton, em Brasília.

“Tanto que os cientistas fazem questão de distinguir desmatamento de queimadas. Até agora, não era possível associar os focos de calor à derrubada”, completou o periódico paulista – segundo Wagner Ramos.





Fonte: Assessoria/AL

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