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Cultura
Sexta - 28 de Setembro de 2007 às 21:21
Por: Francisco Quinteiro Pires

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SÃO PAULO - Ao criar o "Dicionário Musical Brasileiro", Mário de Andrade escreveu o seguinte verbete: "Instrumento de cordas dedilhadas, constituído por uma caixa de ressonância de fundo chato, em forma de oito, e um braço dividido em trastos em cuja extremidade suas seis cordas são fixadas e afinadas por cravelhas." Assim ele definia o violão, que ao longo do século 20 se tornou o instrumento mais popular do País. Para contar a sua história e a dos grandes violonistas do passado e do presente, a edição ampliada do livro "Violões do Brasil" será lançada em dois shows, sábado e domingo, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo

"Para a apresentação, que jogará um olhar sobre o violão brasileiro, escolhemos 14 violonistas de diferentes personalidades e com caminhos violonísticos diversos", conta Myriam Taubkin, organizadora da publicação. Zé Menezes, João Lyra, Zé Barbeiro pisarão no mesmo palco que Maurício Carrilho, Alessandro Penezzi, Badi Assad, alguns dos 23 músicos que falam na publicação sobre sua relação com o violão. Os depoimentos estão reunidos em DVD, vendido com o livro.

Nesta reedição, "Violões do Brasil" (R$ 85, 240 págs.) traz um ensaio fotográfico de Angélica Del Nery sobre a luteria e dados atualizados - que vão de uma breve biografia até o telefone - de cerca de 500 violonistas e luthiers (profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de corda).

"Violões do Brasil" abre com um capítulo sobre a história do violão, que veio da Península Ibérica e ganhou o ritmo brasileiro. Além de discutir o polêmico passado do instrumento, a pesquisadora Maria Luiza Kfouri escreve o perfil de 19 violonistas fundamentais, entre eles Satyro Bilhar, Dilermando Reis, Dino 7 Cordas e Garoto.

"Existe um antes e um depois de Garoto", diz o cearense Zé Menezes, de 86 anos, que fará na apresentação uma homenagem ao violonista de São Paulo e ao maestro gaúcho Radamés Gnatalli.

"Nos anos 50, houve uma transformação no jeito de tocar violão, a partir de então se passa a falar de contraponto", continua ele que compôs a música "Contrapontando" para marcar essa mudança.

Multiinstrumentista, que dedilha do bandolim ao violão tenor, Zé Menezes considera o violão um dos mais complicados de tocar, mais até do que o piano, "porque para achar uma nota nas cordas você precisa dos quatro dedos, enquanto se pode fazer isso no teclado com um dedo".

Antes coisa de bandido, o violão invadiu os lares brasileiros, a partir dos anos 30 do século passado, sem se preocupar se eram abastados ou modestos. "O instrumento era mal visto, ele e o pandeiro não entravam em salão", conta Zé, que deixou de se casar certa vez porque o pai da pretendida não permitiu um violonista na família.

"Criei meus cinco filhos com o violão", diz Zé Menezes. Quando define o que o instrumento significa, ele responde simplesmente - "é a minha própria vida." Para os violonistas, o violão não é só um instrumento de cordas. A valsa "Violão" (Paulo César Pinheiro e Sueli Costa) explica melhor essa relação - "Um dia eu vi numa estrada/ um arvoredo caído/ não era um tronco qualquer/ era madeira de pinho/ e um artesão esculpia/ o corpo de uma mulher/ (...) e o artesão finalmente/ nessa mulher de madeira/ botou o seu coração/ e lhe apertou contra o peito/ deu-lhe um nome bonito/ e assim nasceu o violão." E, assim, a poesia das cordas vai chegar no fim de semana aos ouvidos dos apaixonados pelo instrumento.

Violões do Brasil. Organização de Myriam Taubkin. Edições Sesc SP e Editora Senac São Paulo. 240 págs., R$ 85. Sesc Vila Mariana (608 lug.). Rua Pelotas, 141, 11-5080-3000. Sáb., 21h; dom., 18h. R$ 10 a R$ 20




Fonte: Estadão

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