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Cantora matogrossense afirma sua afinidade com a Bahia
Vanessa da Mata, 31, tem um caso de amor com o público da Bahia. Desde o primeiro disco, em 2002, ela lota suas apresentações no estado. Agora, quando traz o concerto homônimo do novo CD, Sim, não poderia ser diferente. Os ingressos para os shows de amanhã (21h) e domingo (20h), no Teatro Castro Alves, esgotaram rapidamente. A grande procura motivou uma sessão extra, domingo, às 18h, que também já está sold out.
É claro que isso é reflexo de uma carreira consistente, construída gradualmente e consolidada com o lançamento do ótimo álbum Sim. Mesmo assim, por telefone, do Rio, Vanessa reafirma a afinidade que tem com a Bahia. É algo, inclusive, de origem familiar. Os seus avós nasceram em Angical (BA) e foram tentar a sorte em Alto Garças, cidade do interior do Mato Grosso com pouco mais de oito mil moradores e belas cachoeiras.
“Uma parte importante do que alimenta minha música veio de minha avó, Sinhá. Várias canções minhas falam dela, como A força que nunca seca, gravada por Maria Bethânia (em 1999). Ela era uma fortaleza, uma benzedeira, matriarca de origem humilde à qual os latifundiários da cidade, reis da soja, iam pedir a bênção e que criou 32 pessoas. Era uma figura tão especial que passou a vida dizendo que ia morrer aos 80 anos. Faleceu em 2005, dez dias antes de fazer 80 anos”, conta.
A ligação da artista com o estado onde o Brasil nasceu passa ainda pela formação da banda que a acompanha no show que será mostrado também em Feira de Santana, hoje, no Garage, às 21h, e que tem cenário de Hélio Eichbauer, iluminação de Maneco Quinderé e figurinos de Martu. Três dos cinco músicos são baianos: Davi Moraes (guitarrista nascido no Rio, mas filho de Moraes), Cesinha (bateria) e Marco Lobo (percussão).
Completam o grupo o baixista André Rodrigues e o tecladista Donatinho, filho do mestre João Donato. Burilado em apresentações em Portugal, Nova York e Corumbá (MS), o show com cenário e tudo chega à Bahia após passar por Porto Alegre e São Paulo. O repertório mescla canções dos três álbuns da cantora, mas prioriza os temas de Sim, sério candidato a melhor disco da música popular brasileira na temporada.
Produzido por Mario Caldato (Beastie Boys, Jack Johnson, D2) e Kassin (Los Hermanos, Caetano Veloso), o álbum firma Vanessa da Mata como um relevante novo nome da MPB contemporânea. Autora intuitiva, ela sabe compor melodias e letras bonitas, criando uma personalidade própria, delicada, forte e cercando-se de bons colaboradores (como os lendários regueiros jamaicanos Sly Dunbar e Robbie Shakespeare).
O sucesso da cantora, num mercado dominado pela mediocridade, é um alento. Puxado por Boa sorte/Good luck, dueto com o astro americano Ben Harper, e uma das músicas mais tocadas no momento no país, Sim foi lançado pela Sony BMG em maio e contabiliza números excelentes para o atual mercado fonográfico: 50 mil unidades (somados CD normal; CD em versão com DVD; e CD zero, formato com cinco faixas vendido a R$9,99).
Preconceito - O disco anterior de Vanessa, Essa boneca tem manual (2004), bateu em 120 mil cópias e emplacou a faixa Ai ai ai... como a música mais executada no Brasil em 2006 e recordista de truetones (toque para celular) com 370 mil downloads. E pensar que, no início da carreira, ela ouviu muita gente de rádio dizer que o seu tipo de música jamais seria popular, que era sofisticada demais para a grande audiência.
“Eles falam esse tipo de coisa como uma regra, um preconceito. É como se o povo só pudesse gostar de determinado tipo de música. É uma mentalidade do tempo em que a indústria do disco ainda era muito poderosa e determinava que gênero ou música deveria tocar, qual seria a onda do momento. Eu sempre disse que minha MPB, como dizem que faço, era de gosto popular e que não mudaria meu jeito para alcançar o sucesso”.
Vanessa da Mata combina suavidade e firmeza quando canta e quando expõe o que pensa. No texto do encarte do álbum e na faixa Absurdo, por exemplo, ela condena a ética perversa de quem faz tudo por dinheiro, aquilo que talvez seja a raiz do mal que contamina a sociedade brasileira em muitos níveis. Por criação familiar, é uma mulher que não vê na origem humilde de uma pessoa uma desculpa para ela se corromper.
“O brasileiro não enxerga mais que pode haver honra na humildade, gosta de pedir e dar esmolas, acha que ser pobre é um defeito moral. O trabalho, se for simples, não é honrado. Nos Estados Unidos, os jovens de classe média quando estão de férias costumam se empregar para ganhar um dinheiro extra, para comprar algo que querem, mesmo que os seus pais possam lhes dar. Aqui, se contentam com a mesada”, afirma.
É essa bonita e inteligente artista que os baianos terão o prazer de ver novamente, no palco. Ah!, e não ache absurdo se ela, de repente, desafinar numa canção. Vanessa da Mata não abre mão da emoção em prol da técnica. “Não existe cantor perfeito sendo humano e se movimentando no palco, não ficando parado. A não ser que você use um auto-tune (um dispositivo virtual que afina a voz), o que cantoras como Madonna e Beyoncé devem usar. Maria Bethânia, minha grande referência ao vivo, Elis, Gal, todas já desafinaram, porque usam a emoção. O canto perfeito é aquele que passa emoção viva”.
É claro que isso é reflexo de uma carreira consistente, construída gradualmente e consolidada com o lançamento do ótimo álbum Sim. Mesmo assim, por telefone, do Rio, Vanessa reafirma a afinidade que tem com a Bahia. É algo, inclusive, de origem familiar. Os seus avós nasceram em Angical (BA) e foram tentar a sorte em Alto Garças, cidade do interior do Mato Grosso com pouco mais de oito mil moradores e belas cachoeiras.
“Uma parte importante do que alimenta minha música veio de minha avó, Sinhá. Várias canções minhas falam dela, como A força que nunca seca, gravada por Maria Bethânia (em 1999). Ela era uma fortaleza, uma benzedeira, matriarca de origem humilde à qual os latifundiários da cidade, reis da soja, iam pedir a bênção e que criou 32 pessoas. Era uma figura tão especial que passou a vida dizendo que ia morrer aos 80 anos. Faleceu em 2005, dez dias antes de fazer 80 anos”, conta.
A ligação da artista com o estado onde o Brasil nasceu passa ainda pela formação da banda que a acompanha no show que será mostrado também em Feira de Santana, hoje, no Garage, às 21h, e que tem cenário de Hélio Eichbauer, iluminação de Maneco Quinderé e figurinos de Martu. Três dos cinco músicos são baianos: Davi Moraes (guitarrista nascido no Rio, mas filho de Moraes), Cesinha (bateria) e Marco Lobo (percussão).
Completam o grupo o baixista André Rodrigues e o tecladista Donatinho, filho do mestre João Donato. Burilado em apresentações em Portugal, Nova York e Corumbá (MS), o show com cenário e tudo chega à Bahia após passar por Porto Alegre e São Paulo. O repertório mescla canções dos três álbuns da cantora, mas prioriza os temas de Sim, sério candidato a melhor disco da música popular brasileira na temporada.
Produzido por Mario Caldato (Beastie Boys, Jack Johnson, D2) e Kassin (Los Hermanos, Caetano Veloso), o álbum firma Vanessa da Mata como um relevante novo nome da MPB contemporânea. Autora intuitiva, ela sabe compor melodias e letras bonitas, criando uma personalidade própria, delicada, forte e cercando-se de bons colaboradores (como os lendários regueiros jamaicanos Sly Dunbar e Robbie Shakespeare).
O sucesso da cantora, num mercado dominado pela mediocridade, é um alento. Puxado por Boa sorte/Good luck, dueto com o astro americano Ben Harper, e uma das músicas mais tocadas no momento no país, Sim foi lançado pela Sony BMG em maio e contabiliza números excelentes para o atual mercado fonográfico: 50 mil unidades (somados CD normal; CD em versão com DVD; e CD zero, formato com cinco faixas vendido a R$9,99).
Preconceito - O disco anterior de Vanessa, Essa boneca tem manual (2004), bateu em 120 mil cópias e emplacou a faixa Ai ai ai... como a música mais executada no Brasil em 2006 e recordista de truetones (toque para celular) com 370 mil downloads. E pensar que, no início da carreira, ela ouviu muita gente de rádio dizer que o seu tipo de música jamais seria popular, que era sofisticada demais para a grande audiência.
“Eles falam esse tipo de coisa como uma regra, um preconceito. É como se o povo só pudesse gostar de determinado tipo de música. É uma mentalidade do tempo em que a indústria do disco ainda era muito poderosa e determinava que gênero ou música deveria tocar, qual seria a onda do momento. Eu sempre disse que minha MPB, como dizem que faço, era de gosto popular e que não mudaria meu jeito para alcançar o sucesso”.
Vanessa da Mata combina suavidade e firmeza quando canta e quando expõe o que pensa. No texto do encarte do álbum e na faixa Absurdo, por exemplo, ela condena a ética perversa de quem faz tudo por dinheiro, aquilo que talvez seja a raiz do mal que contamina a sociedade brasileira em muitos níveis. Por criação familiar, é uma mulher que não vê na origem humilde de uma pessoa uma desculpa para ela se corromper.
“O brasileiro não enxerga mais que pode haver honra na humildade, gosta de pedir e dar esmolas, acha que ser pobre é um defeito moral. O trabalho, se for simples, não é honrado. Nos Estados Unidos, os jovens de classe média quando estão de férias costumam se empregar para ganhar um dinheiro extra, para comprar algo que querem, mesmo que os seus pais possam lhes dar. Aqui, se contentam com a mesada”, afirma.
É essa bonita e inteligente artista que os baianos terão o prazer de ver novamente, no palco. Ah!, e não ache absurdo se ela, de repente, desafinar numa canção. Vanessa da Mata não abre mão da emoção em prol da técnica. “Não existe cantor perfeito sendo humano e se movimentando no palco, não ficando parado. A não ser que você use um auto-tune (um dispositivo virtual que afina a voz), o que cantoras como Madonna e Beyoncé devem usar. Maria Bethânia, minha grande referência ao vivo, Elis, Gal, todas já desafinaram, porque usam a emoção. O canto perfeito é aquele que passa emoção viva”.
Fonte:
Correio da Bahia
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/207111/visualizar/
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