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Politica Brasil
Sábado - 08 de Setembro de 2007 às 12:02

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O show da banda paulista SNJ-Somos Nós a Justiça encerra na noite dês sábado (8) a programação do 3º Festival Consciência Hip Hop, promovido pela Central Única das Favelas de Mato Grosso (Cufa-MT). A programação acontece à partir das 18 horas, na Praça Tradições Culturais, no Porto.

Debates, apresentações artísticas de break, B. Boys, MCs e performances de grafiteiros, entre outras atividades, têm movimentado Cuiabá. Na noite desta sexta-feira (7) várias bandas locais se apresentaram no palco do festival, e a estrela da noite foi a banda de rap africana Sevenlox, composta de músicos vindos da Guiné-Bissau. Batalhas de MCs e dançarinos de break também animaram a noite na Praça das Tradicões Culturais, onde foi armada uma Feira Urbana.

Neste sábado (8) encerra-se também a programação do "Consciência Seminário", mesa de debates que está reunindo representantes do hip hop, produtores culturais e autoridades do segmento para discutir formas de fortalecer a cultura hip hop na região Centro-Oeste. Os debates acontecem à partir das 14 horas, no Clube Feminino, no centro da Capital.

Ontem (7), o "Consciência Seminário" reuniu cerca de 200 rappers, DJs, B. Boys, grafiteiros e outros militantes da cultura hip hop da capital e do interior de Mato Grosso, de várias cidades do Mato Grosso do Sul, de Goiânia e de Brasília. A idéia é formar uma rede de troca de experiências, fortalecendo os mecanismos de formação, circulação e consumo dos produtos da cultura hip hop.

Porém sem ter o mercado como fim principal. É o que explica Paulo Fagner da Silva Ávila, o DJ Linha Dura, um dos integrantes da Cufa-MT. "Queremos trabalhar fora dessa lógica capitalista, de 'artista estrela'. Artista é como pedreiro, tem que ralar muito."

Seguindo essa lógica, nesta edição do festival foi priorizada a participação dos grupos do interior de Mato Grosso e de grupos artísticos pouco conhecidos de outros estados. "Este ano, a idéia foi fazer uma espécie de festival underground de rap, trouxemos alguns grupos que nunca tinham saído de seu estado, para valorizar principalmente os grupos pouco conhecidos", comentou ele. Ao todo, 40 grupos participam do festival.

Investimento – A falta de organização do movimento hip hop foi a principal falha apontada pelos integrantes do movimento presentes no primeiro dia de "Consciência Seminário". Também houve reclamação quanto à falta de apoio do poder público. A conseqüência, segundo os militantes, é o espaço restrito que o hip hop ocupa nos vários municípios. "Falta espaço, porque público a gente já tem, que é o pessoal da periferia", comentou o coordenador da Cufa em Sinop, Anderson Maciel. Para ele, a organização e a centralização das ações são a chave de tudo. Apesar dos problemas, em sua opinião, o movimento tem conseguido se organizar. "Em Sinop, está aumentando a consciência dos grupos, eles já estão se tornando seus próprios produtores. Só através da organização é que vamos poder debater de frente a frente com as autoridades, sejam de que patente forem."

A necessidade de organização dos grupos também foi apontada pelos participantes de Brasília. Eles garantem que, apesar de estarem próximos dos centros de poder, a dificuldade para captar recursos é grande. E o preconceito contra hip hop é um dos principais entraves. "O Estado vê o movimento com outros olhos. Sem um empresário por trás é muito difícil para os grupos ocuparem espaços", opina o vice-presidente da Associação Original Jovem, Antônio Pereira. Ele e o presidente do Recanto das Emas Crew, Welington Matias, o Tom, relatam a realidade: "Os MCs pagam para cantar nos shows. Há uma desvalorização do hip hop. Enquanto cantores de axé ganham entre R$ 500 e R$ 600, os rappers recebem R$ 50 por show."

No Mato Grosso do Sul, a situação é parecida. Jovens de municípios como Dourados e Campo grande reclamam da dificuldade em aprovar projetos culturais. "Mandamos projetos que nunca são aprovados. Aqui no encontro, espero aprender um pouco mais sobre as leis de incentivo à cultura e a elaboração de projetos", comentou o B. Boy Daniel Ferreira, o Bob.

"Nossas obras são tão importantes quanto as do Chitãozinho e Xororó, mas não têm a mesma visibilidade", aponta o músico HG, que também vê de forma positiva a mobilização do movimento em torno da organização, a exemplo do que vem acontecendo em Dourados, onde estão surgindo novos grupos de grafiteiros e rappers. "Para ser respeitado, é preciso primeiro se respeitar, encarar o hip hop não apenas como militância, mas como arte, se profissionalizar", alertou ele, falando aos jovens reunidos no seminário.

O diálogo entre as manifestações culturais das diferentes camadas da sociedade foi a solução apontada pelo professor José Carlos Iglesias para diminuir o preconceito contra o hip hop. Filósofo e docente das faculdades Unicen, em Tangará da Serra, ele se intitula um mediador entre o movimento hip hop e a academia. Iglesias acompanha os jovens do movimento na cidade, e já os levou até para se apresentar nas dependências da universidade. O preconceito, embora esteja sendo vencido, ainda persiste, garante ele. "A elite vê o hip hop como uma contracultura, tem medo desses jovens, os vê como bandidos. No fundo é o preconceito de classe, racismo, intolerância contra o pobre. E o movimento quer ser aceito como cultura. Para isso, precisa haver um diálogo entre ambos, tanto a elite – que precisa aceitar o movimento -, como dos próprios jovens do hip hop, que precisam deixar de ter medo de se aproximar de pessoas diferentes deles."

Apoiado pelo Governo do Estado de Mato Grosso e pela Prefeitura Municipal de Cuiabá, o Festival Consciência Hip Hop já é considerado o maior evento da cultura Hip Hop da região Centro-Oeste.

O festival surgiu em 2005 com o objetivo de descentralizar e fomentar a arte crítica. Essa cultura é considerada hoje um dos instrumentos mais úteis de inclusão social no mundo. Promove a construção do conhecimento crítico através das manifestações artísticas dos jovens oprimidos, por meio do Graffiti (artes plásticas), MC (Música), DJ (Música), Break (dança) e Basquete de rua (Esporte).





Fonte: Assessoria

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