Governo, formando cidadãos
Mas, para que essa mudança realmente ocorra, é necessário que a formação profissional seja feita corretamente, isto é de maneira consciente e de acordo com a demanda do mercado e da região onde vive o aluno. Na escolha do curso, a aptidão pessoal do candidato é muito importante, mas não pode estar desvinculada da realidade que o circunda, sob pena de não levá-lo à tão sonhada realização profissional. A qualificação profissional deve ser pensada como uma forma de melhorar a qualidade de vida de quem se forma e de sua comunidade. Só se faz uma qualificação de verdade: formando cidadãos.
Para isso, é necessário ter um cuidado muito especial com a matriz curricular dos cursos técnicos e de formação inicial. Assuntos como ética, cidadania, empreendedorismo, associativismo, cooperativismo e legislação trabalhista não podem ficar fora da sala de aula. Afinal queremos formar pessoas conscientes de verdade e não apenas "apertadores de parafusos".
Cidadão é quem pensa em utilizar os conhecimentos adquiridos no curso profissionalizante para melhorar a sua vida e a de sua comunidade. É quem divide o que sabe com aqueles que não tiveram a mesma oportunidade de formação. É quem reconhece que não é uma ilha. É o que tem visão ampla sobre a educação que recebeu, quer multiplicá-la, seja abrindo um pequeno negócio e gerando empregos, incentivando seus funcionários a também se qualificarem, seja se inserindo no mundo da pesquisa e da geração de novas tecnologias ou tornando-se professor. Uma vida de oportunidades e opções se abre.
Para fazer a diferença no mundo, não é necessário realizar grandes atos. Apenas fazer bem feito o que se faz. Ainda que seja um pequeno furo numa peça que compõe um equipamento. Compreendendo isso, o aluno percebe a importância de seu conhecimento, o valor de sua formação profissional e, futuramente, o valor de seu trabalho para o desenvolvimento social e econômico de sua cidade, Estado e País. Isso tudo se aprende, sim, num banco de escola.
Acima de tudo, é preciso estimular o florescimento de empreendedores. Está claro, hoje, que o empreendedorismo pode ser aperfeiçoado, aprendido, se forem dadas ao cidadão as ferramentas para fazê-lo. Quem ganha com isto é toda a comunidade onde aquele cidadão vive e, conseqüentemente, todo o Estado, pois o desenvolvimento produzido ali irá repercutir amplamente, seja interferindo na cadeia produtiva em geral, seja criando exemplos e estimulando novas iniciativas empreendedoras.
São essas as preocupações que norteiam o trabalho do Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (Ceprotec). Para nós, formar o cidadão, não apenas inseri-lo no mercado de trabalho, mas contribuir para que a sua formação faça a diferença no desenvolvimento de sua comunidade, é a principal meta.
Estamos iniciando uma nova etapa na formação profissional, com novos cursos nos seis municípios onde o Ceprotec atua. Como de praxe, antes de definir os cursos, fizemos um amplo levantamento junto às comunidades das regiões para identificar as demandas. Participaram desse processo alunos, instituições de ensino e empresas.
Esta iniciativa visa atender as necessidades de cada região, contribuindo para corrigir os problemas da carência de mão-de-obra que afeta muitos municípios. Mas também é a forma de chamar para a própria comunidade a responsabilidade sobre suas necessidades. Queremos dizer com isto, que a formação profissional não é uma tarefa única da instituição de ensino, mas de todos, de alunos e futuros empregados, a empresários e a todos os organismos públicos, em todas as esferas. Ou seja, a formação de cidadão que estamos propondo é um desafio de todos.
· Luiz Fernando Caldart, presidente do Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica - Ceprotec
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