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Politica Brasil
Domingo - 19 de Agosto de 2007 às 10:11

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São Paulo - Mesmo com a crise no mercado de crédito de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos (subprime) trazendo dificuldades em operações no exterior - como o adiamento do empréstimo de US$ 20 bilhões para a compra da Chrysler pelo Cerberus - os planos de consolidação por empresas brasileiras não devem ser afetados. No Brasil as operações estão distantes de contágio, uma vez que, segundo especialistas, a maior parte das transações entre companhias locais é feita com capital próprio. Além disso, elas têm a opção de usarem suas próprias ações como moeda, a exemplo do que ocorreu no ano passado com a compra do BankBoston pelo Itaú, da Vivax pela Net e a fusão de Submarino e Americanas.com, que resultou na B2W. Se a volatilidade persistir e continuar a derrubar as bolsas, o que pode vir a acontecer é uma mudança nos preços relativos das empresas envolvidas nas operações. "Lógico que o comportamento dos mercados pode influenciar um pouco, no primeiro momento, mas não de forma contundente", observa o professor Haroldo Mota, da Fundação Dom Cabral.

Pesquisa da KPMG revela que no primeiro semestre deste ano foram registradas 294 fusões e aquisições no País. O volume foi 28% maior do que no mesmo período do ano passado. Foram 123 operações entre companhias domésticas, com avanço de 53%. Já as transações onde a ponta compradora era estrangeira passaram de 103 para 124. As lideradas por brasileiras adquirindo estrangeiras ficaram em 47 negociações. Os setores que mais se destacaram no semestre foram: alimentos, bebidas e fumo (31 operações), tecnologia da informação (23), produtos químicos/ petroquímicos e shopping centers (22 cada) e metalurgia e siderurgia (20).

No mercado, no entanto, fala-se em números ainda mais expressivos, da ordem de 411 transações realizadas no período de janeiro a julho, ante 573 em todo o ano passado. Raul Beer, sócio da PricewaterhouseCoopers, acredita que esse volume pode chegar a 750 negócios até o final de 2007, sendo as médias empresas responsáveis pela maior parte dos negócios.

Negociações prolongadas

Os especialistas observam que uma operação de compra é desenhada ao longo de meses e até mesmo anos. Tratam-se de negociações extensas e complexas, envolvendo estruturas acionárias, acordos de acionistas e estratégia de negócio. Por isso, é consenso entre executivos de importantes consultorias que não será uma mudança no cenário macroeconômico externo de curto prazo que vai alterar o curso de uma transação com todas essas variáveis. Assim, no entender de Beer, o que acontece hoje no cenário de fusões e aquisições do Brasil não é reflexo do excesso de liquidez internacional ou de uma onda especulativa. Para o executivo, é o potencial de expansão da economia que chama a atenção.

Beer explica que se o País crescer a taxas de 4% a 5% ao ano, as empresas terão que investir simplesmente para garantirem suas fatias no mercado. Se quiserem avançar em market share precisarão estar dispostas a estratégias ainda mais agressivas. Nesse sentido, os competidores têm duas opções para expandirem os negócios: montar um novo parque ou comprar um já em funcionamento.

Como as empresas se juntam para ganhar tamanho, escala, melhorar suas estruturas de custo fixo e aumentar a rentabilidade do negócio, conforme observa Ricardo Fleury, Sócio da Trevisan Consultoria, os movimentos de aquisições são contemplados nos planos estratégicos de qualquer corporação.

No Brasil, muitas operações esbarram no custo do crédito bancário, o que leva as sociedades a se valerem de outros instrumentos para compor o funding necessário e viabilizar as compras. "Embora o sistema financeiro seja muito capitalizado, não chega a estimular esses financiamentos", chama a atenção Alan Riddell, diretor de Estruturação de Projetos Financeiros da KPMG. Os últimos dados do Banco Central sobre operações de crédito mostram que em junho o custo médio dos empréstimos destinados às pessoas jurídicas era de 23,7% ao ano.

Cláudio Ramos, sócio de Corporate Finance da KPMG, lembra que não existe obrigatoriedade de divulgação da estrutura desses empréstimos, mas, assim como os demais especialistas, diz que as compras brasileiras são pouco alavancadas e, na maior parte das transações, ocorrem a base de recursos próprios. Os últimos dados do Banco Central sobre operações de crédito mostram que em junho o custo médio dos empréstimos destinados às pessoas jurídicas era de 23,7% ao ano.

Mecanismos que facilitam a operação

O professor Haroldo Mota ressalta que o mercado financeiro é rico em instrumentos que podem tornar as aquisições viáveis. Ele cita como exemplo a venda de ações em bolsa. Desde o ano passado, esse processo acelerou e de lá pra cá mais 60 companhias decidiram por esse mecanismo. Agora, parte dessas mesmas sociedades, como administradoras de shopping centers e empresas de construção, utiliza os recursos para comprar outras e crescer.

As ações podem ainda ser utilizadas como moeda, conforme Riddell. Nesse caso, o adquirente paga a operação entregando papéis de sua empresa, sem envolver desembolso financeiro. O vendedor, por sua vez, torna-se sócio, geralmente, minoritário da compradora. O Itaú, por exemplo, pagou US$ 2,2 bilhões em ações ao Bank of America para levar o BankBoston. Riddell observa que a condição para esse tipo de negócio acontecer com mais facilidade é o capital aberto.

Uma outra forma seria comprar uma companhia e emitir dívida dessa empresa, como fez a Friboi. Quando a aquisição da Swift pela controladora da Friboi, no valor de US$ 1,4 bilhão, foi anunciada, o funding para a liquidação do negócios era composto por US$ 400 milhões provenientes do caixa da controladora e uma captação de US$ 1 bilhão em nome da Swift, nos Estados Unidos.

Os fundos de private equity também são alternativas. Eles aparecem como credores ou doadores de capital próprio, ou seja, ou emprestam os recursos ou se interessam em comprar parte da companhia.

Futuro promissor

E se 2007 deve terminar com números recordes de fusões e aquisições, as perspectivas daqui para frente são ainda melhores. Ramos, da KPMG, enxerga um cenário ainda mais promissor quando o Brasil atingir o grau de investimento. Ele lembra que há muitos fundos interessados em participar de empresas nacionais e que hoje têm restrições porque o País ainda não é investment grade. "Mas, tão logo consiga devemos assistir a uma segunda onda de compra de empresas."

E na avaliação do professor Haroldo Mota, da Dom Cabral, mesmo que a empresa tenha que tomar empréstimo no sistema financeiro para expandir as operações, pode valer a pena se alavancar, em um primeiro momento, e garantir a estratégia de longo prazo e, porque não, a sustentabilidade da companhia.




Fonte: AE

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