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Meio Ambiente
Sábado - 18 de Agosto de 2007 às 23:12

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Como a linha de chegada de uma maratona, a plataforma de metrô de Times Square em uma recente tarde de verão na cidade de Nova York poderia servir de base de um estudo sobre o suor humano. Lá, vemos desde o ensopado (uma mulher obesa vestindo shorts e um top mínimo molhado de suor, vermelha e abanando-se vigorosamente), até o pouco úmido (um senhor vestindo terno e gravata lendo o jornal calmamente).

Quem acreditaria que todo ser humano possui o mesmo modelo de ar condicionado interno funcionando a todo vapor?

O suor é nosso refrigerador interno, parte de uma máquina biológica exclusivamente humana. A máquina goteja e, vez ou outra, falha: longas esperas em plataformas inertes são capazes de inspirar reflexões sombrias sobre como iremos suportar um planeta em pleno aquecimento. Mas os especialistas recomendam otimismo: o organismo é forte, ajustável e até passível de reprodução por engenheiros que trabalham para fazer de nós, seres suados, pessoas mais confortáveis.

Maquinaria

O organismo humano funciona dentro de uma margem minúscula de temperaturas internas ideais. Toleramos o resfriar extremo, normalmente nos recuperando de longos períodos de hipotermia com temperatura corpórea chegando a 7 ou mais graus abaixo do normal. Contudo, temos pouca tolerância ao superaquecimento, ainda que dure pouco tempo.

O cérebro não funciona direito com quatro ou cinco graus de febre e uma temperatura interna de 43ºC, que mal chega a dez graus acima do normal, costuma ser indicada como o limite máximo da sobrevivência. Por isso, um bom sistema de ar condicionado interno é fundamental, tanto para dissipar o calor gerado pelo metabolismo do corpo, como para atenuar o calor absorvido em um clima de verão extremo.

"É o simples, comum e velho suor que fez dos seres humanos o que são hoje", escreve a antropóloga evolucionista Nina G. Jablonski em seu recente livro "Skin" (Pele). "Sem tantas glândulas sudoríparas para nos manter resfriados com o suor, ainda estaríamos cobertos dos pêlos grossos de nossos ancestrais, vivendo como macacos".

A pele dos animais inibe o resfriamento induzido pelo suor e por isso eles, em geral, possuem outras formas de perder calor. Nos seres humanos, como argumenta Jablonski, as glândulas sudoríparas se desenvolveram à medida que os pêlos do corpo foram desaparecendo, permitindo um resfriamento ideal do cérebro hominídeo em desenvolvimento e um estilo de vida ativo mesmo sob sol escaldante.

Em ocupações sedentárias em clima temperado, as pessoas não precisam suar. O calor metabólico excessivo é transferido dos vasos sanguíneos na superfície da pele para o ambiente. Como a pele não é completamente impermeável, parte da evaporação da água das células epiteliais contribui com um pouco de resfriamento extra.

No entanto, quando o dono do corpo resolve se exercitar, os músculos produzem calor demais para ser absorvido pelo ar. O mesmo acontece quando a temperatura ambiente chega aos 30 graus: a pele pára de perder calor para o ar e acaba o absorvendo. Em seguida, os nervos sensores da temperatura na pele e o interior do corpo avisam o cérebro para liberar um fluxo de suor para evaporação e resfriamento em peso.

A umidade reduz a evaporação e faz com que todos suem mais. Uma brisa aumenta a evaporação e torna a pele mais fria (a menos que o ar esteja tão quente que o corpo absorve o calor). A desidratação reduz drasticamente a produção de suor. A queimadura de sol também.

Quanto você sua?

Entretanto, os padrões de suor individual variam muito. Idade, sexo, genética, peso e forma influenciam, disse Craig Crandall, especialista em regulação de temperatura do Southwestern Medical Center da Universidade do Texas e do Presbyterian Hospital, ambos em Dallas, nos Estados Unidos. Atividades que não requerem esforço e roupas também influenciam – embora estas últimas atuem de maneira contrária ao que poderíamos supor.

Algumas pessoas possuem menos de 2 milhões de glândulas sudoríparas; outras chegam a ter 4 milhões. Pessoas que suam muito podem ter glândulas cinco vezes maiores do que o tamanho médio; glândulas grandes são mais sensíveis ao estímulo nervoso e produzem mais suor.

A temperatura interna de cada pessoa gira em torno de um padrão determinado geneticamente, variando pouco em relação aos 36,5ºC definidos pelo hipotálamo - região do cérebro que atua como termostato. Ficamos um pouco mais frios pela manhã, e um pouco mais quentes no final da tarde. As mulheres ficam com meio grau acima após a ovulação. Com a menopausa, o termostato feminino fica nitidamente exaltado, imaginando excesso de calor onde não existe e produzindo suor desnecessário.

Os homens tendem a ser mais estáveis termicamente, mas não por muito tempo: a partir dos 60 anos, ambos os sexos suam menos, mesmo que estejam em boas condições físicas e que sejam expostos a calor extremamente excessivo. Daí surgiram as estatísticas de que, durante as ondas de calor, os mais velhos correm risco maior de insolação.

Quanto à obesidade, Crandall diz que é uma questão complicada. A gordura pode isolar o interior de temperaturas externas muito quentes, mas também pode prejudicar a transferência de calor do interior do corpo para a pele. O fato de carregar mais peso gera mais calor metabólico do qual é preciso se livrar. Isso significa mais suor, mas pesquisas sugerem que pessoas obesas não são capazes de produzir mais glândulas sudoríparas para lidar com a carga extra de calor. A irradiação do calor da pele para o ar pode se tornar particularmente importante no controle de calor dessas pessoas.

De modo geral, porém, esses fatores influenciam pouco a taxa de suor. As diferenças mais intensas são provenientes de atividades que não requerem exercício. Até mesmo passadas rápidas e curtas ou sacudidas nas pernas produzem calor metabólico que se transforma em suor, assim como sentimentos como raiva e frustração. A pessoa mais suada em uma plataforma de metrô provavelmente é aquela que acabou de correr para alcançar o trem e o perdeu, explicou Crandall.

Quando o assunto é roupas, usar menos nem sempre é melhor. Em estudos realizados durante a 2ª Guerra Mundial, os pesquisadores pediram que voluntários se sentassem sobre caixotes de madeira no deserto da Califórnia. Alguns usavam uniformes militares pesados no padrão verde oliva, outros vestiam uniformes mais leves e outros ficaram "quase nus". Os sem roupas suaram cerca de 30% a mais do que os demais, um indicativo de quanto calor a pele desprotegida estava absorvendo do ambiente.

Sendo assim, saiba você, guerreiro urbano, que seminudez nas plataformas do metrô pode ser desfavorável, bem como se abanar, caminhar de um lado para o outro e gesticular quando o trem atrasa.




Fonte: The New York Times

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