Etanol 'come a paisagem' do cerrado, diz jornal
Em reportagem intitulada "Perdendo a floresta para abastecer carros", o diário americano diz que nos últimos 40 anos o cerrado perdeu metade de sua área em conseqüência dessas atividades.
Um analista da fundação Conservation International, baseada nos EUA, disse ao jornal que a taxa de desflorestamento do cerrado é mais alta que da Amazônia, e que se o ritmo for mantido toda a vegetação que caracteriza o centro-oeste do país poderia desaparecer até 2030.
"O governo brasileiro e grandes companhias de agronegócio dizem que a expansão da soja e da cana-de-açúcar não necessariamente significa devastação do cerrado, onde vivem cerca de 160 mil espécies de animais, muitos em perigo de extinção", diz o Post.
"Eles dizem que plantam em terras degradadas e pastos abandonados, melhorando a qualidade e a produtividade do solo."
"Mas grupos ambientais argumentam que, à medida que a soja e a cana-de-açúcar substituem a pecuária e colheitas menos lucrativas, os fazendeiros penetram em áreas virgens do cerrado."
O jornal lembra que tanto a soja quanto a cana-de-açúcar para o etanol são produtos fundamentais na pauta agrícola brasileira. A produção de ambos os produtos no Brasil tende a crescer para suprir a demanda dos EUA, diz a reportagem.
No início deste ano, o presidente americano, George W. Bush, anunciou que até 2022 pretende elevar para 36 bilhões de galões por ano a demanda americana por etanol, seis vezes mais que o volume que pode ser refinado nos EUA.
Um porta-voz da empresa de agronegócio Bunge disse ao jornal que, "se os EUA iniciarem uma corrida em direção ao (plantio de) etanol, os preços da soja tendem a subir, e a demanda será coberta pelo Brasil".
O porta-voz disse ainda que, com amplas áreas de plantio ainda disponíveis, o Brasil poderia ver sua produção de soja dobrar em três ou quatro anos.
"O cerrado é perfeito para a agricultura, e será usado (se houver demanda) – não há dúvida em relação a isso", disse o porta-voz da Bunge, segundo o Post.
Amazônia
Em outra reportagem sobre o meio ambiente no Brasil, o The New York Times afirma que o Brasil está "alarmado" com indicadores de que a mudança climática já causa efeitos na Amazônia, e que por isso o governo Lula já demonstra flexibilidade nas negociações internacionais sobre o tema.
Tradicionalmente "desconfiado do envolvimento estrangeiro em sua gerência da Amazônia, que enxerga como um problema doméstico", o país passa a encarar com mais simpatia mecanismos de mercado que poderiam evitar o desflorestamento, diz o correspondente do jornal.
Para o governo brasileiro, a alternativa mais palatável para evitar a perda da área de floresta seria um mecanismo em que doações fossem feitas a um fundo administrado em Brasília.
Mas potenciais doadores mencionados em anonimato pelo jornal "preocupam-se com o desperdício e a ineficiência", e temem que seu dinheiro acabe indo parar em um "saco sem fundo".
Uma seca na Amazônia, que levantou temores em relação à capacidade agrícola do país, e a ocorrência de um furacão no sul do país estão fazendo o Brasil mudar de idéia aos poucos.
"Negociadores e observadores que acompanham as negociações internacionais sobre clima dizem que o Brasil agora está disposto a discutir assuntos que recentemente considerava fora da mesa."
Entre as propostas estariam programas de orientação mercadológica para reduzir as emissões de carbono resultantes de devastação em larga escala na Amazônia.
De acordo com o jornal, cada vez mais os brasileiros deixam de ver o aquecimento global como um "problema distante", encarando-o como algo que "os afeta".
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