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Politica Brasil
Quinta - 19 de Julho de 2007 às 06:15

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Investigada por suposta participação na trama das sanguessugas, como ficou conhecida a quadrilha que fraudava licitações e vendia ambulâncias a preços superfaturados ao Ministério da Saúde, a ex-deputada federal Celcita Pinheiro (DEM), hoje secretária de Assistência Social e Desenvolvimento da Prefeitura de Cuiabá, disse que um irmão seu recebera dois cheques no valor de R$ 50 mil cada de Luiz Antônio Vedoin, um dos sócios da Planam, empresa que negociava os carros.

Contudo, a ex-deputada negou que a operação que envolvera o irmão, o engenheiro eletricista Air Bondespacho e Silva e o Vedoin, tenha a ver com sua atuação parlamentar ou que a importância fora usada para custear sua campanha eleitoral.

Os cheques nunca teriam sido descontados por falta de saldo. Os R$ 50 mil seriam um meio de a organização custear parte da campanha eleitoral de Celcita, que se elegeu deputada em 2002. Ano passado, ela não conquistou a reeleição.

A quadrilha, diz a denúncia, vencia licitações por meio das emendas propostas por políticos que recebiam um percentual sobre o valor do recurso liberado pelo governo federal para a compra das ambulâncias. Esses veículos iam para as prefeituras.

O depoimento

Celcita prestou depoimento ao juiz da 2ª Vara Federal de Mato Grosso, Jeferson Schneider na terça-feira (17), mas o MidiaNews teve alcance ao conteúdo da audiência no fim da tarde desta quarta-feira.

Até o início do depoimento, na terça-feira, o processo que investiga a organização criminosa, o de número 2007.36.00.010057-2, era conduzido de maneira sigilosa.

No entanto, Schneider, atendendo a solicitação do MPF (Ministério Público Federal), quebrou parte do segredo judicial. O magistrado disse, no entanto, que vai manter reservadas daqui para frente somente as informações fiscais, bancárias e telefônicas que envolverem a ex-parlamentar.

Denúncia do MPF aceita pela Justiça Federal no início deste mês de julho, diz que Celcita era uma espécie de “braço político” do bando, também batizado pela imprensa nacional como máfia das ambulâncias. Ela negou isso em seu depoimento.

A defesa

Celcita Pinheiro foi à audiência com três advogados. Ela disse ter conhecido Darci Vedoin, pai de Luiz Vedoin, os sócios da Planam, em 2000, quando era deputada federal.

Darci, disse ela, foi até o seu gabinete, em Brasília, e a convidou para conhecer a Planam, empresa que funcionava em Cuiabá. Celcita aceitou e disse ter feito uma “rápida” visita e que, quando recebido por Darci Vedoin, “não chegou sequer a sentar-se” no escritório da Planam.

Nesse diálogo, a ex-deputada disse ter ficado sabendo que a empresa de Vedoin era quem transformava os veículos em ambulâncias para depois negociar com o Ministério da Saúde e prefeituras municipais. Celcita assegurou no depoimento ter ido uma só vez na Planam.

Na seqüência, a ex-parlamentar informa que apresentou “algumas emendas parlamentares individuais, na área de saúde, para a aquisição de ambulâncias e equipamentos médico-hospitalares”. Logo depois, ela declara ao juiz que “não se recorda do número exato dessas emendas” e quais seriam seus valores.

Controvérsia

No entanto, ela garantiu no depoimento que vai apresentar documentações comprovando as emendas propostas e aprovados e as quantias liberadas.

E disse que “jamais recebeu qualquer recurso em razão das emendas apresentadas na área da saúde, seja de Luiz Antônio Vedoin, Darci Vedoin ou de suas empresas”. Foi Luiz Antônio quem disse em depoimento que uma de suas empresas, a Santa Maria, que dera R$ 50 mil a ex-deputada, cifra que servira de moeda de troca pelas emendas. O pai de Luiz, Darci, confirma a “doação”, mas alega que os cheques não tinham fundos.

O depoimento de Celcita Pinheiro fica confuso a partir das declarações dadas por ela acerca do envolvimento de seu irmão, o engenheiro eletricista, com Luiz Vedoin.

Ela narra que logo depois da “Operação Sanguessuga” [maio de 2006] é que ficou sabendo que o irmão Air Bondespacho recebera os dois cheques de R$ 25 mil de Luiz Vedoin.

Celcita disse que em conversa com o engenheiro ficara sabendo que o valor do cheque seria uma prestação de contas por um serviço de iluminação que o irmão havia prestado a família Vedoin. Ela conta ainda no depoimento que não sabia dizer se a empreitada fora mesmo executada, que seria iluminar uma quadra de esportes construída próxima ao escritório da Planam.

Duas linhas depois, a ex-parlamentar, contudo, relembra um diálogo que teria tido com o irmão “um ou dois anos antes da denominada operação sanguessuga”. Na conversa, Celcita diz que ficou sabendo que o irmão teve de “prestar depoimento” à Receita Federal acerca dois cheques emitidos por Luiz Vedoin, que somavam R$ 50 mil.

Note o detalhe: antes, a ex-parlamentar disse que soube do cheque envolvendo o irmão e o Vedoin, logo depois da operação sanguessuga, que ocorrera em maio de 2006. Adiante, ela cita que “um ou dois anos da operação” ficara sabendo do histórico dos cheques.

Terminada essas declarações, Celcita volta a assegurar que “nunca recebeu qualquer ajuda financeira durante as suas campanhas eleitorais da família Vedoin”. E ainda garantiu que o seu marido, o senador Jonas Pinheiro (DEM), também não recebera recursos dos Vedoin.

A máfia dos sanguessugas foi indiciada pela Polícia Federal e denunciada pelo MPF por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção. Ao menos 140 pessoas e uns 80 políticos aparecem como supostos envolvidos no esquema. Durante a operação sanguessuga, ao menos 50 foram para a cadeia, mas depois solto. Ninguém fora punido ainda.

O juiz Jeferson Schneider marcou para o dia 7 de agosto a próxima audiência, onde quatro testemunhas escolhidas pela acusação, no caso, o MPF, prestarão depoimento acerca da suposta participação da ex-parlamentar com a quadrilha.





Fonte: Midia News

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