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Internacional
Quinta - 12 de Julho de 2007 às 09:46
Por: Bob Fernandes

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O presidente do Brasil, Lula, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, brigaram e não estão se falando. Por meia dúzia de vezes, nas últimas semanas, Chávez buscou Lula por telefone. O presidente do Brasil não devolveu as ligações.

As conseqüências são várias, e só uma conversa entre ambos pode deter a escalada.

Desde janeiro, fruto do descontentamento de Chávez, a Venezuela atrasa pagamentos de obras e serviços de empresas privadas brasileiras que operam no país. Com os ruídos num crescendo, Chávez radicalizou mais um pouco. Estão congelados esses pagamentos.

Na quarta, 11 de julho, por telefone, este blogueiro de Terra Magazine manteve conversas também com o Palácio do Planalto. Resposta ao congelamento: se ele se consolidar, "as coisas só vão piorar".

As contas entre Lula e Chávez já não são poucas, e algumas são antigas.

Lula, há dias, depois de se recusar outra vez a atender a um telefonema do presidente, disse a um amigo, em tom de desabafo, que a qualquer hora iria "ter uma conversa" com Chávez.

Lembrará, se esta conversa se der, que quando Chávez vivia a greve petroleira em 2002 o então recém-eleito presidente do Brasil fez chegar à Venezuela um navio carregado de petróleo.

Lembrará também a criação do grupo de "países amigos", sugestão brasileira para ajudar a dirimir a crise política no país vizinho. No entender de Lula essa sugestão foi, a princípio, mal compreendida por Chávez, que desejava um grupo só de países totalmente aliados.

Queixa-se ainda Lula dos últimos petardos orais do presidente da Venezuela.

Para quem depende do Congresso brasileiro para ter aprovado o ingresso no Mercosul, considera Lula, Chávez fez subir desnecessariamente a temperatura ao detonar o Senado -"a direita brasileira"- após críticas à não renovação da concessão da RCTV.

E mais. Irritou-se Lula com a fieira de declarações do líder venezuelano contra "um Mercosul velho". Entende Lula que Chávez tem que decidir se quer ou não embarcar no projeto e deixar de torpedeá-lo.

Por fim, recorda que, quando passava por momentos difíceis, Chávez vinha ao Brasil a toda hora. Disse o presidente a um amigo que não vai agora ficar ligando e batendo na porta de Hugo Chávez.

O presidente da Venezuela, por outro lado, tem suas razões. Entende, para começar, ser absolutamente visível que o executor da política externa brasileira, o chanceler Celso Amorim, não simpatiza com ele e não respeita suas posições.

Por essas -e outras-, quando da troca de embaixadores do Brasil em Caracas, há três anos, por muitos meses Chávez evitou receber o atual embaixador, Souza-Gomes. Situação, enfim, superada.

Naquele mesmo ano, a apenas três dias do referendo que por voto popular decidiria pela permanência ou não de Chávez no poder, uma exígua delegação do PT, com nem meia dúzia de parlamentares, chegou a Caracas e ao Palácio Miraflores.

Comunicado da presença dos deputados na ante-sala, Hugo Chávez, sentado em sua cadeira na Sala de Despachos, ao fundo um óleo com a imagem de Simon Bolívar, desdenhou:

Se Lula cobra gestos de solidariedade que já teve, Chávez também. Recorda que, nos momentos mais difíceis da crise política do lado de cá da fronteira, jamais faltou a Lula, seja com discurso ou com presença física.

Mais até. Em 2003, no Recife, pré-lançamento de um projeto comum, a Refinaria Abreu e Lima, orçada em alguns US$ bilhões, ele, Chávez, em cerimônia para 300 empresários num hotel da Boa Viagem, chegou a bater continência para Lula e dizer: -Sou um soldado à disposição do Brasil e de um projeto comum.

Disso, as testemunhas são muitas.

Posto tanto, um palpite, este do blogueiro, quanto ao pano de fundo para os desentendimentos, à parte sentimentos humanos. De um lado a realidade do petróleo venezuelano. De outro, o sonho brasileiro do etanol, do biocombustível. No meio, o mercado mundial consumidor de energia.





Fonte: Terra

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