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Politica Brasil
Sábado - 07 de Julho de 2007 às 17:14
Por: Waldir Bertúlio

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Acabo de ler a obra (muito recomendável) "Escritos Políticos", de John Milton, poeta renascentista que dedicou parte de sua vida a defesa intransigente da Republica. Fiquei imaginando que a nossa sonhada e distante República pode ser mais uma vez condenada pelo voto. (agora de senadores).

Max Weber chamou "Ética das convicções e Ética das Responsabilidades" aquela condição em que pode surgir líderes dotados de grandeza e moral para enfrentar desvios e abusos na condução pública.

Vivemos nesse momento em um pais onde paradoxalmente a miséria da fome e da ética andam juntas, com grande parte dos políticos encharcados por uma relevância obtusa e totalmente imerecida. Um pequeno mundo esquizofrênico, como disse em ato falho (autoacusação) o senador Renan Calheiros. Joaquim Roriz foi mais objetivo, menos dissimulado, renunciando logo ao mandato. Como temos visto, acreditam piamente que a impunidade vencerá, e retornará "novinho em folha", para novas contendas saqueadoras. Naquele lado, no parlamento, a ostentação, (é o maior custo de parlamentar no mundo depois do EUA), a empáfia e a opulência.

No outro lado, crianças adormecidas para esquecer a fome, velhos enclausurados na obsessão das privações, homens e mulheres rejeitados por um mercado de trabalho onde não são mais necessários. Mulheres jovens com a aparência carcomida, pensando em sanar dividas impossíveis de serem pagas. A violência, a ruptura dos laços sociais, a selvageria do mundo das drogas, apagando a identidade desta gente. É neste espelho implacável, que podemos encontrar esta imagem, onde as máscaras podem ser retiradas. No parlamento o "script" é conhecido, o PMDB sempre irá do lado que obtiveram cargos e benesses no governo. Mas tem ainda gente do velho MDB, como Pedro Simon, que grita pela restauração da dignidade. A maioria do Congresso escolhe a banda hegemônica da acidez vingativa de Stanislaw Ponte Preta: locupletemo-nos todos! Às vezes fico pensando em um "conto de amarelinha" (Júlio Cortazar) também aqui em MT, com políticos tendo que provar sua riqueza de dinheiro, seu patrimônio econômico financeiro. É incrível e bovina esta certeza de impunidade com a ostentação de poder financeiro e possibilidade de que repentinamente autoridades judiciais se credenciem a fazer uma verdadeira "operação mãos limpas". A jornalista Eliane Castanhede, pesquisando decisões do STF, verificou que nos quarenta anos passados nenhum político foi punido.

Supondo partir de uma constatação bem simples: se o político não ganhou no premio maior da Esportiva sem fraude, se não recebeu herança milionária, se vive dos rendimentos de cargo público, existirá geração espontânea de bens materiais e financeiros? Eu entendo a alquimia (fazer ouro) na metáfora junguiana, de burilar e fazer riqueza ética e de dignidade.

Agora, vemos até as últimas conseqüências a briga intestina pelo cargo sonhado pelas empreiteiras (Dnit). Este desgaste é infinitamente maior que o desgaste da malfadada indicação a ministro da Agricultura patrocinada tempos atrás pelo governador de MT. O relator da comissão para aprovar "a toque de caixa", tem no postulante o seu suplente na mesma coligação. Perdeu a chance de declarar impedimento ético para tal operação. Na "trairagem" em curso poderá até sobrar holofotes que rendam investigação contra si próprio. âncora geral é o Planalto que cultiva impunidade, o loteamento e o aumento de cargos na quantidade e na remuneração, em uma equação que envolve partidos, base aliada, mandatos, lobbys, recursos orçamentário e negociatas.

Assistimos ao avanço de figuras políticas em um desfile bizarro para a disputa de poder em 2008 e 2010. As nulidades crescem como carcinomas. Em um realismo triste e míope, onde os menos desonestos (?) pensam estar bancando otários se não aderirem ao jogo golpista e sujo.

Waldir Bertúlio é sanitarista, professor da Universidade Federal de Mato Grosso e escreve aos sábados neste espaço





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