Macacos ajudam sem esperar recompensa, dizem cientistas
Trocando em miúdos: os bichos parecem ser capazes de altruísmo, coisa que hoje é normalmente considerada uma exclusividade do comportamento humano. Para Felix Werneken e seus colegas do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, os achados sugerem uma origem extremamente antiga para a generosidade desinteressada que vemos no homem moderno. E voltam a mostrar que a diferença entre humanos e animais - principalmente os grandes macacos - é muito mais uma questão de grau do que um abismo intransponível.
À primeira vista, o altruísmo parece uma aberração do mundo animal. Ajudar de graça um indivíduo que não tem parentesco com você seria, em tese, um gasto inútil de energia, já que a função primária dos seres vivos é se dedicar à própria sobrevivência e reprodução.
Por isso, os biólogos evolutivos costumam explicar ações altruístas como, na verdade, nepotistas - vale a pena ajudar os próprios parentes porque eles carregam os mesmos genes que você; na prática, parte de você se reproduz com eles -, ou como situações do tipo "uma mão lava a outra": praticar uma boa ação no presente se reflete em receber uma ação desse tipo no futuro, vinda do mesmo indivíduo que você ajudou. Em resumo: não existe esse negócio de almoço grátis.
Braço forte, mão amiga
Os experimentos arquitetados por Werneken e companhia conseguiram afastar, pelo menos em parte, ambas as possibilidades, já que os chimpanzés que eles estudaram deram uma mãozinha aparentemente desinteressada a humanos que eles nunca tinham visto e a companheiros de espécie que não eram seus parentes.
Num dos testes, a equipe simulava uma briga entre dois humanos, postados do lado de fora das jaulas dos macacos. Um dos humanos tirava um pauzinho das mãos do outro e o jogava dentro da jaula. A pessoa "atacada", então, estendia o braço, tentando em vão resgatar o artefato e, quando era necessário, tentando chamar a atenção do chimpanzé chamando-o. Em outro teste, os pesquisadores colocavam comida atrás de uma porta com grades. Um dos macacos estava do outro lado da porta e não conseguia alcançar a comida. No entanto, numa jaula adjacente, estava outro primata, o qual tinha acesso a um mecanismo que permitia abrir a porta e deixar seu colega passar e pegar o alimento.
Os resultados: na imensa maioria dos casos, os bichos responderam à necessidade de humanos ou colegas de espécie entregando o pauzinho ou puxando o mecanismo para a abrir a porta, mesmo sem receber nada em troca. O mais curioso é que os resultados foram praticamente idênticos aos obtidos com bebês de um ano e meio em condições parecidas, que também mostram altruísmo espontâneao - a única diferença é que os bebês demoravam menos tempo para entender o que a pessoa queria. Tantos macacos quanto crianças realizavam a boa ação mesmo quando eram obrigados a escalar uma corda ou atravessar um pequeno labirinto para cumpri-la.
Para o pesquisador holandês Frans de Waal, que trabalha na Universidade Emory (Atlanta, EUA) e é um dos maiores especialistas em grandes macacos do mundo, os resultados são convincentes, mas não são necessariamente prova de que não há relação entre o altruísmo de humanos e chimpanzés e o interesse em algum tipo de recompensa.
Para Waal, o único jeito de o altruísmo "uma mão lava a outra" funcionar é que os animais tenham um sistema emocional interno que o favoreça. Assim, eles agiriam instintivamente de forma generosa, sem pensar conscientemente no possível benefício que deveria advir quando o indivíduo ajudado pudesse retribuir o favor.
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