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Internacional
Domingo - 24 de Junho de 2007 às 08:26

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Era uma vez uma jovem americana que foi pedida em casamento pelo seu príncipe encantado. Diante da perspectiva de ela realizar um sonho que boa parte das garotas acalentam, família e amigos compartilharam da sua alegria.

Mas o júbilo aos poucos foi virando preocupação, e depois terror. A menina já não era a mesma. Andava para cima e para baixo com uma pilha de revistas sobre casamento debaixo do braço. Contratou um organizador profissional de matrimônios para ajudá-la nos preparativos --e quantos! Inteligente e de bom senso antes, ela passou a falar sobre um assunto só: a cerimônia, organizada como se fosse uma operação militar. Quando ela deu uma enorme bronca na amiga que não podia acompanhá-la, na tarde de uma quarta-feira, à oitava prova do seu vestido, ninguém mais teve dúvidas. Havia se transformado em um monstro... a "Noivazilla", híbrido de noiva com Godzilla.

Definida como uma mulher obcecada com o casamento perfeito --para atingir esse objetivo, ela não mede esforços, endivida-se e enlouquece quem está à sua volta--, a Noivazilla é personagem que prolifera assustadoramente nos EUA. São muitos os relatos da destruição que elas têm provocado.

Uma quis que todas as suas madrinhas tingissem o cabelo no mesmo tom de loiro, para ficar mais bonito no altar. Outra exigiu que o salão de festas fosse decorado com flores roxas combinando com o papel de parede do quarto de hotel onde passaria a noite de núpcias. E ainda teve a que obrigou os padrinhos a se submeterem a uma pedicure já que, durante a celebração, na praia, todos deveriam ficar descalços. As insanas aventuras das noivas durante o planejamento do casório viraram até reality show: "Bridezillas", exibido pelo Women's Entertainment (no Brasil, chama-se "Noivas Neuróticas" e passa no canal da TV paga Discovery Home & Health).

"Muito se tem falado da Noivazilla. Porém eu achava injusto responsabilizar a noiva pela quantidade de exageros cometidos nos matrimônios. Não se trata de um problema individual e sim de um problema cultural, revelador de como funciona a sociedade americana hoje", diz Rebecca Mead. A jornalista faz parte do time da prestigiosa revista "New Yorker" e passou os últimos três anos pesquisando o tema para escrever o livro "One Perfect Day - The Selling of the American Wedding (um dia perfeito --a venda do casamento americano)", ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

Ritual perdido

Ao contrário do que acontecia com os nossos avós, o casamento não representa mais um ritual de passagem para a vida adulta. Tampouco marca o início da intimidade sexual entre dois parceiros ou o instante em que eles decidem morar juntos e constituir família. Pode estar aí, no entendimento de Mead, a explicação para o fato de a cerimônia nupcial agora ser encarada como um gigantesco e impecável show. Trata-se de marcar com o máximo de pompa esse momento a fim de que ele de fato signifique alguma coisa para aquelas pessoas.

Vivendo na sociedade mais consumista do planeta, naturalmente deu-se que noivas (e noivos também, claro) ficaram ainda mais vulneráveis aos apelos mercantis. "Não é que a indústria do casamento provocou esse movimento, mas soube aproveitá-lo", ressalta Mead. "A festa ideal é a que a indústria define como sendo a ideal."

Cinderela

Também estamos falando da nação onde nasceu e é mais forte o culto às celebridades. Então, as noivas acabam fortemente encorajadas -por um setor que em 2005 movimentou cerca de US$ 161 bilhões (R$ 312,3 bilhões)- a viver a cerimônia como a chance de serem estrelas. Daí a gama interminável de serviços que são oferecidos a elas, de tratamentos faciais com pó de ouro até ginástica para fortalecer os bracinhos que vão jogar o buquê e empréstimos bancários especiais para financiar o sonho.

"Em última análise, a indústria vende a ilusão de que um ritual perfeito também vai levar a uma vida conjugal perfeita", explica Mead. O "felizes para sempre" dos contos de fada. Até o Walt Disney World promove casamentos. Desembolsando a partir de US$ 20 mil [R$ 38,8 mil], dá para dizer o "sim" em frente ao castelo da Cinderela.

A fantasia está tão arraigada no imaginário das moças que nem a realidade é capaz de desconstrui-la.

"Uma pessoa que organiza casamentos disse que encontrou uma ex-cliente que havia tido uma festa de sonho mas se divorciou. A garota chorou, se lamentou. Mas afirmou que, da próxima vez, faria algumas coisas diferentes, mas contrataria a mesma consultora para montar celebração", conta Mead.





Fonte: Folha de S.Paulo

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