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Economia
Terça - 19 de Junho de 2007 às 08:25

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Enquanto o preço médio do litro do álcool hidratado teve queda de 39% na porta das usinas paulistas nas últimas oito semanas, o produto recuou apenas 8% em média nos postos do Estado de São Paulo, conforme dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Rubens Ometto, presidente do grupo Cosan (usinas), atribui essas diferenças a uma concentração na distribuição, o que distorce o mercado. "Como está, o mercado não é perfeito. Quando há excesso de produção, os preços caem nas usinas, mas essa queda não chega aos consumidores", afirma ele.

Ismael Perina Júnior, presidente da Orplana (associação dos plantadores de cana), diz que a concentração na distribuição e a demora do repasse dos preços pelos postos acaba afetando não só os consumidores, que deixam de pagar menos, mas também os produtores, que são pagos conforme os preços recebidos pelas usinas.

O não-repasse do preço menor praticado pelas usinas para os consumidores inibe o aumento do consumo, interferindo nos preços finais recebidos pelos produtores. Com excesso de oferta, os preços caem e já não cobrem nem os custos de produção, argumenta Perina.

A preocupação maior dos produtores é que esse cenário persista. Afinal, as usinas ainda não chegaram ao pico da safra, quando as 350 unidades produtoras produzirão 50 milhões de litros de álcool por dia e apenas 30 empresas distribuirão 90% desse volume ao varejo.

O grande volume produzido pelas usinas imprime forte recuo de preços ao produto. Essa redução, no entanto, não é acompanhada pelas distribuidoras e pelo varejo.

Margem

Há um ano, as margens brutas do setor de distribuição eram de R$ 0,11 por litro. As da revenda, de R$ 0,18. Na semana passada, as distribuidoras conseguiam R$ 0,275 por litro na margem bruta, e as revendas, R$ 0,351, conforme dados da ANP.

As distribuidoras já atuam com margens menores neste mês --estavam em R$ 0,44 por litro na segunda quinzena de maio. Chegou a vez, no entanto, dos postos, que subiram as margens para R$ 0,35, após estarem em R$ 0,25 na segunda quinzena do mês passado.

Essas margens elevadas provocam distorções no mercado. O consumidor paulista, apesar de o Estado ter o menor ICMS sobre o produto e ter uma melhor logística de distribuição, paga R$ 1,325 por litro, valor superior ao R$ 1,304 pago pelos usuários de Mato Grosso.

Essa concentração, que inibe o acompanhamento da queda de preços das usinas para os consumidores finais, é fruto da própria "boa intenção" da ANP, segundo o mercado.

A resolução nº 7, deste ano, que proíbe o revendedor varejista de adquirir qualquer espécie de combustível (gasolina, diesel ou álcool) de outra bandeira que não a sua, é boa para inibir eventuais aditivos ilegais à gasolina.

Com relação ao álcool, no entanto, ela não faz sentido, segundo produtores do setor. O álcool seria sempre igual em todas as unidades de produção e de distribuição, afirmam os produtores.

Apesar de os preços do álcool estarem livres nos três elos da cadeia --produção, distribuição e revenda--, esse engessamento dos preços prejudicaria o consumidor e não permitiria um desenvolvimento maior do mercado, dizem.

Liberdade

Ometto afirma que o poder de fogo dos distribuidores é muito grande hoje, principalmente quando se leva em consideração a distribuição de gasolina, álcool e diesel. O mercado ficaria mais bem adequado com liberdade de compras e de vendas e com mudança na legislação tributária, defende ele.

A liberdade de compra e venda permitiria aos postos buscar o álcool onde fosse mais barato. Poderiam ser criados centros de distribuição pelo país, evitando o "passeio" e o encarecimento do álcool. O consumidor sairia ganhando, e o mercado seria mais perfeito. Claro que a ANP continuaria fiscalizando essas operações para garantir a qualidade do produto, diz Ometto.

O empresário acredita, ainda, que poderia haver mudança do recolhimento dos impostos nas unidades produtoras. Se essas medidas forem adotadas, "o consumidor vai ganhar, e muito, porque a concorrência passa a ser perfeita", diz Ometto.

O sistema atual de comercialização restringe as operações e dificulta o desenvolvimento do mercado com a participação de novos parceiros e de negociações em Bolsa, diz o produtor. O mercado está engessado e é necessário aumentar o ganho de eficiência, deixando o setor mais solto, avalia Omet.





Fonte: Folha de S.Paulo

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