Aliados recuam e votação sobre Renan é adiada
Ele é acusado de ter recebido apoio financeiro de um lobista para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos.
Com medo de perder a votação, Renan não quis arriscar, cedeu à oposição e liberou seus aliados a aceitarem o adiamento.
O relator do processo, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), resistiu à proposta e chegou a criar um impasse no Conselho de Ética. Alegou que ficaria desmoralizado com o adiamento da votação.
Os colegas fizem um apelo a Cafeteira. Depois de bater o pé, o senador aceitou o adiamento. Disse que recebeu um telefonema da mulher. Segundo ele, o próprio Renan teria telefonado para ela a fim de que o convencesse a aceitar o adiamento. "Estou atendendo a um apelo de minha mulher", afirmou.
A votação do relatório deve ocorrer somente na semana que vem, provavelmente na terça-feira (19), após perícia em cima dos novos documentos apresentados por Renan para rebater reportagem do Jornal Nacional desta quinta-feira (14).
A reportagem mostra divergências nos recibos de rendimentos rurais apresentados pelo presidente do Senado para comprovar a origem do dinheiro da pensão.
A solicitação de adiamento foi feita pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), a pedido de Renan, durante a sessão do conselho.
Segundo Jucá, Renan propôs até a convocação do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, que seria o intermediário entre ele e Mônica Veloso.
A postura do presidente do Senado em recuar e propor o adiamento ocorreu depois de ele perceber o risco de não conseguir aprovar o relatório de Cafeteira.
A oposição, que apresentou relatórios paralelos para continuar as investigações, torcia para reverter o cenário nesta sexta.
Com um placar apertado a seu favor, o presidente do Senado temia, por exemplo, perder os votos dos aliados Eduardo Suplicy (PT-SP) e Renato Casagrante (PSB-ES), que sinalizaram nesta manhã a possibilidade de ficarem ao lado da oposição.
Além disso, Renan não contava com o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), que não compareceu à reunião do Conselho de Ética alegando motivos de saúde.
Encontros secretos
O clima foi tenso no Senado desde o início da manhã desta sexta. Renan reuniu-se cedo com senadores aliados no gabinete da líder do PT, Ideli Salvatti (SC).
Logo depois, o presidente do Senado recebeu integrantes do Conselho de Ética em seu gabinete para um encontro reservado, inclusive Cafeteira, que reafirmou que não mudaria seu relatório.
A visita de Cafeteira, relator do processo, provocou revolta em alguns integrantes do Conselho de Ética. A todos, Renan mostrou documentos para tentar refutar a reportagem do Jornal Nacional.
Renan ainda procurou os senadores da oposição, contrários ao arquivamento do processo.
Os líderes do Democratas, José Agripino (RN), e do PSDB, Arthur Virgilio (AM), não disfarçaram o contrangimento de um encontro reservado com Renan a poucos minutos da reunião do Conselho de Ética.
A conversa a portas fechadas ocorreu no gabinete do tucano Marconi Perillo (PSDB-GO). "Não sou líder estudantil. Como iria dizer para o Renan não entrar?", disse Arthur Virgilio.
A oposição, porém, não se convenceu e manteve a posição de aprovar um relatório que pede a continuidade das investigações. "Não muda nada", afirmou Agripino.
O presidente do Senado negou que tenha feito pressão aos colegas. "Não quero formar cabeças, mas mostrar a verdade. Hoje, tive condições de esclarecer tudo", afirmou.
Em seu relatório paralelo, o senador Demóstenes Torres (DEM-SP) pede a manutenção do processo para poder chegar a um "juizo adequado" do caso.
"Somente a devida apuração dos fatos, com a oitiva das pessoas envolvidas e o periciamento das provas apresentadas pela defesa do presidente Renan Calheiros, possibilitará chegar a um juízo de valor adequado, elemento essencial à definição de rumo do procedimento", defendeu o senador.
Além dele, os senadores Jefferson Peres (PDT-AM) e Marconi Perillo apresentaram relatório semelhante.
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