Primo acusa senador de fazer manobra para ficar com fazendas
Para Antônio Gomes de Vasconcelos, 68, primo do senador Renan Calheiros (PMDB), o presidente do Senado está por trás de uma manobra que colocou a fazenda Cocal, que pertence à família de sua mulher há cerca de 200 anos, como sendo propriedade de Dimário Cavalcante Calheiros, também primo de Calheiros e irmão adotivo do senador.
"É ele [Renan] quem manda no cartório [de registro de imóveis]", disse Vasconcelos.
Dimário Calheiros era quem administrava as fazendas da família de Renan em Alagoas até romper com o senador, em 2003. Ele disse que já intermediou a compra de pequenas áreas rurais para a família Calheiros, mas que elas não eram registradas em seu nome.
"Não tem nada no meu nome. Eu nunca fui laranja", disse Dimário. Segundo ele, o seu nome aparece como dono da fazenda Cocal por erro do Ibama.
Vasconcelos disse que descobriu que a fazenda Cocal estava em nome de Dimário a partir de uma lista de proprietários que teriam áreas desapropriadas para a criação da Estação Ecológica de Murici, em 2005.
Na época, Dimário fez um termo de declaração no Ministério Público Federal negando que fosse dono da fazenda.
Segundo Vasconcelos, a família de sua mulher não perdeu a fazenda porque o esquema foi descoberto. "[Renan] não chegou a tomar a propriedade porque anularam a lista", disse.
A procuradora Niedja Rocha, do Ministério Público Federal em Alagoas, disse que a Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), responsável pela criação da estação ecológica, encaminhou à procuradoria um documento do cartório de Murici que informava que Dimário Calheiros constava como dono da fazenda Cocal.
Segundo Rocha, o objeto do procedimento administrativo apura questões envolvendo o funcionamento da estação ecológica e qualquer eventual citação de parlamentares federais serão encaminhados à Procuradoria Geral da República por causa do foro privilegiado.
Usina Bititinga
O técnico agrícola Genival Mendes de Melo acusa o deputado federal Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão de Renan, de se apropriar irregularmente de fazenda que pertencia à extinta usina Bititinga, com sede em Murici. Segundo Melo, que era ex-funcionário da usina, em 2005 ele arrematou num leilão judicial a fazenda São Bernardo, com 571 hectares, que pertencia à usina como quitação de dívidas trabalhistas.
Ele disse, no entanto, que a área já havia sido incorporada a uma outra fazenda que pertence a Olavo Calheiros. "Quando cheguei lá [na fazenda] com o Incra para fazer a medição, o administrador disse que só podia medir a área com autorização do deputado."
Segundo Melo, ele tem documento provando que a fazenda pertencia à usina Bititinga há 108 anos e que foi passada a ele diretamente.
A reportagem procurou os gabinetes de Renan e de Olavo, mas não obteve resposta.
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