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Domingo - 27 de Maio de 2007 às 23:00

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CANNES - Foi o ano da Romênia no 60.º Festival de Cinema de Cannes. 4 meses, 3 semanas e 2 dias, de Christian Mungiu levou neste domingo, 27, a Palma de Ouro 2007. "Estou muito feliz. Até poucas semanas atrás eu não tinha nem dinheiro para lançar o filme. Que esse prêmio sirva de incentivo a todos os pequenos cineastas do mundo, porque ele é prova de que não é preciso ter um absurdo de dinheiro para fazer um bom filme", declarou o diretor, que foi aplaudido de pé, logo após receber a Palma de Ouro anunciada pelo presidente do Júri, o cineasta inglês Stephen Frears.

A reportagem do Estado teve acesso à restrita e exclusiva cerimônia realizada no Grande Teatro Lumière do Palácio dos Festivais. A entrega dos prêmios, geralmente só para convidados e profissionais de cinema, é uma atração à parte. A entrada triunfal e performática de todos os convidados pelo tapete vermelho já é garantia de glamour e alegria para os fãs que lotam a Croisette (a principal avenida à beira-mar de Cannes).

Enquanto o público se contenta em ver nem que seja um pedacinho dos famosos, os fotógrafos se estapeiam por um bom lugar e a cerimônia começa. Luxuosa, porém rápida e protocolar. Não houve espaço para grandes arroubos de alegria, nem de descontentamento, muito menos vaias. Sobraram palmas, e não só as de ouro. Mas nada muito animador.

Aliás, o que dá ânimo mesmo é ver que, apesar do cinemão de Hollywood ganhar cada vez mais espaço na Croisette, entre os premiados ainda reinam os diretores que, como bem observou Mungiu, esmeram-se por fazer ótimos e originais filmes sem precisar da maquina de moer carne que é a indústria hollywoodiana.

Coerente, o júri acertou ao conceder o Grande Prêmio para o melancólico, mas contundente, Mogari no Mori, de Naomi Kawase. “Estou muito feliz. É ótimo fazer filmes. Melhor ainda é continuar filmando. Cinema tem a capacidade de tocar as pessoas. E este é um dia muito especial para mim e para o meu país”, declarou a diretora japonesa que, ontem à noite, fez questão de ir à sessão de gala de seu filme vestida com o traje tradicional usado pelas gueixas. Entre os nomes já habitués de Cannes, estava Paranoid Park, de Gus Van Sant. O diretor dinamarquês levou o prêmio especial pelo 60º Aniversário do festival.

Consagração de Akin

Palmas, muitas palmas e até mesmo a Palma de Ouro merecia o diretor turco Fatih Akin, por seu belíssimo The Edge of Heaven. Ele não levou o premio principal da noite, mas saiu consagrado da Croisette com o premio de Melhor Roteiro e com a certeza de que nasce um grande cineasta. Premiado anteriormente com o Urso de Ouro em Berlim pelo rigoroso Contra a Parede, Akin era só expectativa minutos antes da premiação. “Você é de onde mesmo?”, perguntou ele à reportagem do Estado, que aguardava o início da sessão a seu lado. “Eu quero muito conhecer o Brasil. Acho que temos muito em comum, nós, os turcos e os brasileiros, não acha?” De fato. O cinema de Akin é emocionado e emocionante. Que venham outros belos filmes e, em breve, uma Palma de Ouro para este novo expoente do cinema mundial.

Esta foi a tônica de Cannes, uma seleção variada e até mesmo condescendente. Não havia porque filmes como We Own the Night, por exemplo, concorrerem à Palma de Ouro. A não ser pelo lobby do cinema norte-americano. Mas sobram razões para apostar em nomes novos, e outros nem tão novos assim, mas que são ainda, como bem observou o brasileiro Walter Salles (que esteve em Cannes exibindo seu curta em homenagem ao aniversário do festival na seleção A Chacun son Cinéma - A cada um, o seu cinema; e participando da sessão do clássico Limite, de Mario Peixoto, que integra a lista dos filmes restaurados pela World Cinema Foundation, lançada por Martin Scorsese nesta semana), "Cannes ainda é o templo e o reduto do cinema de autor".

Um belo exemplo foi a Melhor direção para Julian Schnabel por Le Scaphandre et le Papillon. “Eu insisti desde sempre para este filme ser rodado em francês. Estou feliz por isso. E pensei que estava fazendo um filme sobre um homem paralisado, mas vejo hoje que acabei fazendo um filme sobre mulheres”, declarou Schnabel, que já esteve no Brasil na Mostra de Cinema de São Paulo, organizada por Leon Cakoff e Renata Almeida (que, a propósito, estiveram presentes em todas as sessões mais representativas do festival) com seu lindo Antes do Anoitecer, estrelado por Javier Bardem.

Por falar no ator espanhol, ele era apontado como um dos favoritos à Palma de Melhor Ator por sua performance impecável no nem tão impecável assim novo filme dos irmãos Ethan e Joel Coen, No Country for Old Men. Mas o júri provou mais uma vez que estava mesmo era de olho nos chamados outsiders. Quem levou o prêmio de melhor ator foi o russo Konstantin Labronko, pelo vigoroso The Banishment, de Andrei Zviaguintsev. O prêmio de melhor atriz acabou indo também para uma, digamos, desconhecida. Quem vai levar a Palma para casa é a sul-coreana Jeon Do-Yeon por sua atuação em Secret Sunshine, de Lee Chang-dong.

A lista foi completa com a entrega dos Prêmios do Júri para o ousado e polêmico Persépolis, animação da iraniana Marjane Satrapi, e Stellet Light, de Carlos Reygadas. “Estou particularmente feliz. Primeiro porque é uma raridade e um orgulho muito grande ter uma animação presente entre tantos ótimos filmes. Segundo porque faço questão de dedicar este meu filme a todos os iranianos”, declarou Marjane, que havia sido acusada de se recusar a dar entrevistas à imprensa de seu país. Durante a semana, ela fez questão de desmentir e falar com os representantes dos jornais iranianos e, inclusive, com a TV Al Jazeera. Marjane em seu filme fala de assuntos tabus em uma sociedade tão fundamentalista como a iraniana. Não poupa ninguém. Há críticas à Revolução Iraniana, ao Aiatolá Khomeini, aos costumes ultraconservadores impostos pelos líderes extremistas islâmicos (principalmente às mulheres). Imperdível.

Ainda na lista de premiados, o melhor curta-metragem foi Ver Llover, de Eliza Miller. A tradicional Camera D’Or, para o estreante do ano, foi para Meduzot, de Etgar Keret e Shira Geffen, que integrou a Semana Internacional da Crítica. Control, de Anton Corbun, que integrou a Quinzena dos Realizadores, levou Menção Especial.





Fonte: Estadão

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