Maggi Verde

O título deste artigo é uma cópia, e reproduz exatamente enunciado de manchete de página da edição do dia 26 de abril do caderno de Ciência do jornal Folha de São Paulo.

A reportagem assinada pelo jornalista Eduardo Geraque sustenta que o governador de Mato Grosso mudou seu “ponto de vista sobre a questão ambiental”. Significa que Blairo não vê mais as ongs ambientalistas e os ecologistas de um modo geral como inimigos pessoais ou do desenvolvimento da Amazônia.

E significa, sobretudo, que o governador, um dos maiores produtores individuais de grãos do mundo, passa a considerar o meio ambiente como ativo, e não como passivo. Isso é fundamental para se começar a pensar e formular políticas de desenvolvimento sustentado.

A reportagem é definitivamente relevante, levando-se em conta que a questão ambiental foi potencializada com a posse de Blairo Maggi como governador de um dos estados da Amazônia Legal, onde coabitam também mais dois ecossistemas delicados, que são o Pantanal e o Cerrado. Ele inaugurou na prática uma contradição viva entre a dimensão do desenvolvimentista do empresário em oposição à dimensão preservacionista do homem público.

A reportagem é ainda mais relevante na medida que Mato Grosso é um dos estados campeões na produção de quase tudo do agronegócio brasileiro, sobretudo agricultura e pecuária, que são duas atividades que particularmente oferecem um grande impacto ambiental. Logo, por essas duas razões, o que acontece por aqui acaba exercendo uma influência, às vezes até ditando normas, no que acontece em todo o país.

Eu me lembro de uma passagem, ainda em 2003, primeiro ano do seu governo, quando Blairo foi indagado por um repórter da imprensa nacional se era a favor ou contra a legalização do cultivo dos transgênicos no Brasil. Sua resposta foi mais ou menos essa: “Enquanto não houver prova de que os transgênicos são nocivos ao meio ambiente à saúde humana, sou a favor”.

Pelo enunciado da reportagem já citada, para a mesma pergunta de 2003, pode-se deduzir que o governador hoje daria resposta inversa: “Enquanto não houver provas de que os transgênicos não são nocivos ao meio ambiente à saúde humana, sou contra”. Porque esse certamente é o comportamento ecologicamente responsável e ambientalmente sustentado, embora a cultura do jeitinho brasileiro nos ensine o contrário, por exemplo, em relação às nossas leis, já que procuramos sempre suas brechas para fazer aquilo que não seja expressamente proibido.

Além e apesar da dimensão econômica do grupo AMAGGI – e há -, o governador demonstra um amadurecimento político sobre um tema antes tratado apenas economicamente. A experiência no cargo de governador deu-lhe uma experiência e uma sabedoria que só a política é capaz de produzir.

Ainda que do ponto de vista meramente econômico, Blairo já vinha exercitando a busca de uma conciliação entre o empresário – quem deve cuidar dos negócios - e o político - quem deve cuidar das pessoas – ao formular a estratégia de remoção da fronteira agrícola de Mato Grosso para a região nordeste, mais conhecida como Araguaia.

A região já sofreu imensamente com a devastação ambiental do Cerrado pela exploração da pecuária. Explorar ali, a partir de agora, a agricultura extensiva, geraria praticamente impacto novo zero, e há os que defendem, até, que haveria algum tipo de correção e também o estancamento da devastação. E isso sem contar a localização geoestratégica da região, com facilidade de acesso aos portos do sudeste, via MT 100, até a Ferronorte; via BR 158 até o Pará; e também via rio Araguaia, até chegar à Ferrovia de Carajás.

Mesmo para aqueles que possam acusar Blairo Maggi de mudar de opinião pelo interesse meramente econômico, cabe aqui um elogio reflexivo: não seria o meio ambiente um excelente negócio mesmo?!

KLEBER LIMA é jornalista e analista político em Cuiabá. E-mail: kleberlima@terra.com.br. www.kgmcomunicacao.com.br.