Estudo diz que Congresso tem mais 'ruralistas' e menos 'evangélicos'

Um estudo mostra que o número de parlamentares eleitos identificados com a Igreja caiu cerca de 18% entre a legislatura passada e a atual. O envolvimento dos políticos da bancada evangélica no escândalo dos sanguessugas durante a legislatura passada foi um duro golpe nas pretensões de bispos e pastores que tentaram conseguir uma vaga no Congresso Nacional nas eleições do ano passado. De 2002 a 2006, o Congresso chegou a ter 60 parlamentares tidos como da bancada evangélica, entre titulares e suplentes, contra apenas 41 nos três primeiros meses da nova legislatura.

"A bancada evangélica, prejudicada pelo envolvimento de vários de seus integrantes em diversos escândalos, em especial o das ambulâncias, está menor no atual Congresso. Na legislatura 2003/2007, chegou a reunir mais de 60 parlamentares", diz estudo, publicado no livro 'O que esperar do novo Congresso - Perfil e agenda da legislatura 2007/2011', feito em conjunto pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e o site Congresso em Foco.

Outra categoria que perdeu representatividade no Congresso atual é a dos sindicalistas, que caiu de 74 para 63, 57 deles na Câmara dos Deputados e 6 no Senado. Em contrapartida, cresceu a presença de empresários e ruralistas no Congresso atual. De acordo com o estudo, o número de políticos que se declaram empresários rurais, pecuaristas e agricultores ou que são fortemente identificados com o setor passou de 111 para 120 entre as duas legislaturas. O estudo mostra ainda que 219 parlamentares são empresários, a maior representação do grupo desde 1995.

Entre os integrantes da bancada ruralista está o deputado Homero Pereira (PR-MT), que, em sua primeira eleição, conseguiu uma cadeira na Câmara. Ele foi o segundo deputado mais votado em Mato Grosso, com pouco mais de 100 mil votos. Pereira é um velho conhecido do setor agrícola. Além de presidir a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), ele liderou o 'tratoraço' em junho de 2005, quando produtores rurais invadiram a Esplanada dos Ministérios para alertar o governo e a sociedade para a crise que atingia o setor agrícola.

O estudo confirma que a participação de mulheres tem aumentado ao longo das eleições. Nas eleições de 1990, foram eleitas 25 mulheres, contra 33 quatro anos depois. Em 1998, a participação feminina sofreu uma ligeira queda, para 29, e voltou a subir substancialmente em 2002, para 42. Em 2006, foram eleitas 45 mulheres para a Câmara e o Senado, 16 delas reeleitas. De fevereiro até agora, 56 mulheres passaram pelo Congresso atual, entre titulares e suplentes que assumiram o cargo pelo menos uma vez, sendo 45 na Câmara e 11 no Senado.

O estudo, que analisou 618 parlamentares, mostra que a participação de negros ainda é muito baixa. São apenas 13 na Câmara e 2 no Senado na atual legislatura. Nenhum dos 618 parlamentares é descendente de índios. Já a bancada dos parentes tem 122 parlamentares, 92 na Câmara e 30 no Senado. A grande maioria deles é formada por filhos de políticos. O estudo contabiliza na bancada dos parentes todos aqueles que foram eleitos com base nos sobrenomes dos parentes, como filhos, maridos, esposas, genros e noras, por exemplo.

O levantamento mostra também que, dos 618 que assumiram ou exerceram mandato entre fevereiro e abril, como titular ou suplente, 275 (44,5%) não foram parlamentares federais na legislatura anterior. Dessas 275, 68 já foram deputados federais ou senadores, mas ficaram pelo menos quatro anos longe do Congresso. Outros 206 restantes chegaram pela primeira vez ao Congresso. Desses, 65 nunca haviam exercido um mandato eletivo. Dos parlamentares analisados, 101 respondem na Justiça a 197 acusações criminais.

O livro, que será lançado nesta quarta-feira, tem 400 páginas e foi organizado por Sylvio Costa, diretor do Congresso em Foco, e o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor de Documentação do Diap. O estudo também traz um balanço da legislatura passada.