Pilotos do Legacy tiveram culpa, reforça delegado de MT
Sayão disse ter iniciado os trabalhos de investigação em 4 de outubro do ano passado, cinco dias depois do desastre. Na semana passada, ele concluiu o inquérito e o encaminhou ao Ministério Público, que ficará responsável, caso entenda necessário, por indiciar os pilotos, que residem nos Estados Unidos.
O delegado explicou que a PF só teve acesso completo às informações em novembro, e que os pilotos do Legacy não foram ouvidos. “Tudo referente a eles foi declarado pelo advogado”, contou. No inquérito também não há aprofundamento no caso dos controladores de vôo, tarefa que, segundo ele, está a cargo de instituições militares. “Mas há indícios de falhas desses profissionais”, adiantou. O inquérito está baseado em três frentes: 1) o plano de vôo; 2) o uso do transponder e do TCAS, o equipamento anticolisão, e 3) falhas na comunicação.
O plano de vôo, segundo o delegado da PF, foi produzido pela Embraer, empresa que vendeu o Legacy para a norte-americana Excel Air. O centro de controle do espaço aéreo, contudo, autorizou o plano. “Houve ainda uma comunicação falha entre a torre e os pilotos próximo de Brasília”. Sayão disse que, pelas regras aeronáuticas, o piloto é responsável por observar o plano de vôo. Portanto, “eles foram culpados pela não observância do programa”.
Sobre os equipamentos transponder e TCAS, o delegado afirmou que o funcionamento deles é essencial para o vôo em altas altitudes, com intenso tráfego de aviões, como era o caso. “O não uso intencional desses aparelhos é quase um suicídio”. Os equipamentos, contou Sayão, foram submetidos a exames, inclusive a caixa-preta da aeronave, e ficou constatado que eles não estavam com defeito. Outro fato que comprovaria a culpa dos pilotos americanos é que o transponder funcionou até pouco depois de Brasília, ficou desligado, e depois voltou a operar após o choque com o Boeing da Gol.
“Significa que o equipamento ficou desligado por uns 50 minutos, mas que não foi intencional. Um diálogo entre os dois pilotos mostra que eles ficaram surpresos quando souberam que o transponder estava desligado, o que comprova não ter sido programado”, declarou. Logo depois do choque, o Legacy pousou na Base do Cachimbo, no Sul do Pará. Lá, os pilotos fizeram contato com a torre, em Brasília, quando declararam, num primeiro momento, que o transponder estava sim desligado. Mais tarde, porém, Lepore e Paladino voltaram atrás, temendo eventuais problemas com a declaração.
Outro ponto levantado pelo delegado Renato Sayão Dias é que o Legacy ficou mais de uma hora voando sem fazer contato com o centro de comunicação, descumprindo normas de aviação. “É muito tempo sem contato para um vôo muito alto como aquele”, disse.
Convocação dos pilotos
Na semana passada, a CPI aprovou requerimento que pede a convocação dos pilotos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino. Mas a avaliação é que dificilmente eles virão ao Brasil depor. A comissão, no entanto, vai insistir por meios diplomáticos, consultando ainda a Justiça. Uma hipótese levantada pelos parlamentares é ir ouvi-los nos Estados Unidos. (Lucas Ferraz)
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