IBGE “descobre” mulher de 118 anos em Campo Grande
Ao lado de Vivente Fogaça, que morreu há mais de 60 anos, Rosa de Jesus confessa que sentia proteção, carinho e hoje, sem ele, muita saudade. Foram apenas dez anos de convivência e para o amado ela não consegui realizar um desejo, o de ter filhos, mas criou cinco crianças do primeiro casamento do viúvo. “Ele era branco, queria ter um filho comigo pra saber o que saía”, recorda em meio a gargalhadas. Ela é negra.
Rosa de Jesus nasceu em Buqueirão (BA) em 1888, mesmo ano em que a princesa Isabel proclamava o fim da escravidão no Brasil. Os pais, recorda, nunca foram cativos, e ela diz nunca ter sofrido discriminação racial. O assunto, aliás, nem lhe é assim familiar, como qualquer outro evento político, porque ela só lembra de ter ficado em casa para ajudar a mãe na lavoura. “Meus pais não foram cativos, graças a Deus, e eu não fui cativa e quando crescemos quase não saía de casa”.
A disciplina materna, imposta após a morte do pai, impediu Rosa de estudar. “Só lembro que inventei de ir a uma escola lá no Norte e aprendi A, B, C, D, Lê, Fê, e Rê”. Ela não sabe escrever o nome e confessa não sentir falta disso. Sente saudades do tempo em que com os irmãos bebia muito leite de cabra e suspira ao pensar em beiju, farinha de mandioca, feijão, “aquela comida grosseira que me deu sustança”. Hoje ela é tão saudável que nem mesmo a diabetes e a hipertensão lhe preocupam. “Ah, eu como fruta né porque o médico falou, feijão é meu prato preferido. Só que às vezes os meninos me dão doce e eu gosto. Só que não é todo dia não”.
Ao falar da saúde o sorriso centenário de Rosa, ou Dinda para os conhecidos, dá lugar a um semblante compenetrado. “É preciso ter opinião, por isso eu deixei de fumar, aquilo não me dava lucro”. Rosa recorda que o infarto que teve há alguns anos até poucos não lhe impediam de dançar a catira, emendar retalhos de pano, caminhar pela casa e conversar. Tudo era mais fácil antes de quebrar uma das pernas, há cerca de 14 anos, mas nada que considera importante deixou de fazer parte da vida por vontade dela.
Em uma cadeira de fios, com roupa de festa, a Rosa Dinda lembra com carinho do Vicente e dos cinco filhos dele que ela criou. O marceneiro a tratava como princesa, lhe fez tão bem que ela preferiu não encontrar outro marido. “Ele era muito bom e se eu casasse e encontrasse um carrasco? Eu não”. Sem planejar, o marido lhe proporcionou uma companhia para o resto da vida, a amiga de Rosa, Maria Gama Teodoro, já com 87 anos. “O filho dela casou com a minha filha e nós fomos nos aproximando, nos aproximando e faz 14 anos que decidimos morar juntas”, conta Maria.
É com a ajuda de amigos, netos, noras e filhos que as duas passam os dias. Se há desavenças, o sorriso maroto de Maria denuncia, embora ambas sejam unânimes em dizer que, para viver bem, nessa vida é preciso gostar de tudo.
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