Aquecimento global ameaça Himalaia, diz especialistas
Mas um dos autores de um estudo da ONU sobre o clima disse que a aceleração do derretimento pode perturbar seriamente o fluxo dos rios e os padrões pluviais em toda a Ásia. "Se a taxa de aumento das temperaturas não mudar, as geleiras sobre o platô de Qinghai-Tibete vão encolher rapidamente, de 500 mil quilômetros quadrados em 1995 para talvez 100 mil quilômetros quadrados em 2030", disse Wu Shaohong, da Academia Chinesa de Ciências, em entrevista coletiva.
As geleiras no Himalaia e no Planalto de Qinghai-Tibete são uma importante fonte de água para grandes rios, como o Yang-Tsé (China), o Mekong (Sudeste Asiático) e o Ganges (Índia). Há incerteza sobre a rapidez com que o aquecimento global atingiria as geleiras, disse Wu a jornalistas após a conferência para explicar as previsões divulgadas neste mês pelo Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática.
Outro importante climatologista chinês, Qin Dahe, fez uma estimativa mais modesta, dizendo que cerca de um quarto das geleiras do platô do Tibete pode derreter até meados do século. Mas, mesmo com estimativas mais conservadoras, os climatologistas dizem que o desaparecimento das geleiras vai ameaçar o padrão de chuvas, o fluxo dos rios e a agricultura em toda a Ásia. Rios alimentados por geleiras podem inicialmente subir, devido ao degelo, e depois secar, com o sumiço do gelo.
"As geleiras são vitais para a economia nacional e a subsistência das pessoas", disse Qin. Um importante climatologista indiano disse que o sul da Ásia também seria ameaçado pelo fim das geleiras. "Trata-se de uma região que é realmente o celeiro do sul da Ásia", disse Rajendra Pachauri, presidente da comissão da ONU, referindo-se ao norte do subcontinente indiano, que depende das águas das montanhas. Pachauri disse que os lençóis freáticos também seriam ameaçados pelo degelo.
"Teremos de nos adaptar. Teremos de usar a água muito mais eficientemente do que no passado", afirmou, acrescentando que a única chance de conter o aquecimento é convencer os países ricos a cortarem dramaticamente as suas emissões de gases do efeito estufa. Há poucos dias, a China divulgou publicamente sua primeira avaliação nacional sobre a mudança climática, que prevê uma redução de cerca de 27% na área coberta por geleiras no oeste do país até meados do século.
Por causa disso, alerta o relatório, "muitos lagos vão transbordar e então encolher, pântanos vão recuar, a desertificação vai se ampliar e os pastos vão diminuir".
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