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Politica Brasil
Segunda - 23 de Abril de 2007 às 13:50

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Era uma vez dois grandes amigos com opiniões divergentes. Durante muito tempo, moraram na mesma casa - o governo - e aí conseguiam resolver suas diferenças, quase nunca tornadas públicas. Cada amigo pensava de um jeito, mas um sempre apoiava o outro, principalmente contra o inimigo comum, a oposição. Até que foram despejados da casa.

Do lado de fora, a relação entre PSDB e Democratas (ex-PFL) vem passando por problemas. Nesta entrevista exclusiva a Terra Magazine, o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), critica o antigo aliado e diz que não quer discutir a reeleição. Para ele, o assunto não faz parte da reforma política:

- Se o PSDB tem problemas internos, existe uma coisa chamada convenção. E a convenção é que tem que resolver os problemas internos do PSDB e do PT, e não a Constituição brasileira.

Ele acredita que a reeleição, embora tenha sido apoiada por seu partido, foi aprovada de forma "equivocada" no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). E ataca os tucanos:

- Foi para atender a um partido, e esse mesmo partido agora quer acabar com a reeleição para atender seus próprios interesses. (...) Não dá para, a cada 5 ou 10 anos, mudarmos a Constituição para atender ao presidente Lula e ao PSDB.

Os dois amigos, segundo ele, não brigaram. Continuam com suas divergências, "até porque são dois partidos diferentes", diz, e têm objetivos distintos. Com exceção de um, que continua o mesmo do começo da história: derrotar o inimigo comum:

- (Os objetivos) serão derrotar o governo do PT, eu não tenho dúvida disso.

Leia os principais trechos da entrevista com o presidente dos Democratas.

Terra Magazine - Qual é o projeto de reforma política que o Democratas defende? Rodrigo Maia - A primeira questão que nós defendemos é que, antes de iniciar qualquer discussão, possamos garantir que não haverá retrocessos em relação à última decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a fidelidade partidária. Temos muito medo de que a discussão permanente de reforma política acabe gerando um retrocesso em relação a essa decisão, porque ela por si só já é um grande avanço. Já revoluciona a política brasileira. A partir do momento em que o mandato é garantido pela filiação, essa decisão não vai ficar restrita apenas a parlamentares, mas vai ser estendida a governadores, senadores e prefeitos. Agora, saindo da base de que nós não mexeremos nisso, o que nós entendemos ser o caminho ideal é caminhar para o voto distrital. Esse seria, na nossa avaliação, o principal ponto. Nós temos uma proposta do voto em lista, apresentada por um deputado do nosso partido, e poderíamos caminhar para o voto distrital misto para fazer uma transição e depois chegar ao distrital.

Juridicamente, como está a questão dos parlamentares que trocaram de partido? Essa é uma questão que é um fato inédito. Então os advogados estão analisando, deram entrada na Câmara e eu não sei de que forma o Arlindo (Chinaglia, presidente da Câmara) vai responder. Nós estamos preparando, em conjunto (com outros partidos), um mandado de segurança para ir ao Supremo. Para que o STF, de uma vez por todas, ratifique essa decisão e que, a partir daí, seja uma coisa já automática. Sabemos que, dos 11 ministros do Supremo, já tivemos cinco manifestações a favor e uma contra a decisão do TSE. Os três que votaram no TSE, claro, e mais dois que se manifestaram a favor da tese. Depois da decisão, os partidos mais fortes vão poder obrigar cada um dos filiados a fazer política interna. Hoje a coisa mais fácil do mundo é haver uma briga interna, a pessoa perder e trocar de partido. É o que acontece de praxe: 'se você não resolver para mim, eu troco de partido'.

E sobre a reeleição?

Nós não vamos tratar de reeleição agora. Porque nós entendemos que reeleição não é uma proposta de reforma política, é uma solução interna de partidos políticos. Se o PSDB tem problemas internos, existe uma coisa chamada convenção. E a convenção é que tem de resolver os problemas internos do PSDB e do PT, e não a Constituição brasileira. Então, apesar de nós entendermos que a questão da discussão pode e deve vir a ser tratada em algum momento, na nossa avaliação não é nesse momento que ela deve ser tratada. A gente não pode pensar em mexer na Constituição para atender aos interesses internos do PT e do PSDB.

E em relação do mandato de cinco anos, o senhor entende que não faz parte das propostas?

Não. E eu não sou a favor do mandato de cinco anos, porque tem que se avaliar como vai fazer o tratamento, a ampliação de todos os mandatos. Eu acho que não é uma discussão para esse momento. Avalio que nós erramos ao ter criado a reeleição da forma que foi criada. Eu acho que ela foi criada de uma forma equivocada. E digo porque certamente uma parte do meu partido naquele momento votou a favor. Mas eu entendo que, se já foi equivocada, pior será agora. Foi para atender a um partido, e esse mesmo partido agora quer acabar com a reeleição para atender a seus próprios interesses. Então vamos deixar a discussão da reeleição um pouco mais para frente. Tivemos as eleições de 1998, 2002 e 2006 com reeleição. Então, já que foi aprovado e com o custo que teve para o Brasil, vamos deixar que a reeleição perca apoio na sociedade primeiro, porque depois a gente pode discutir. Resolver o problema dos outros pela Constituição não dá. O PSDB resolveu criar a reeleição e ele próprio quer acabar com ela, para atender aos interesses do próprio partido. Não dá para, a cada cinco ou dez anos, mudarmos a Constituição para atender ao presidente Lula e ao PSDB. Nós não vamos querer tratar da questão da reeleição de forma alguma.

O PFL está passando por transformações, mudança de nome, de programa, renovação do quadro, o PSDB parece pouco alinhado a ele... É só uma impressão ou a oposição está enfraquecida?

Não. A oposição é minoria e foi assim que o eleitor decidiu. Nós temos o mesmo objetivo, que é vencer as eleições de 2010. Os caminhos não necessariamente são os mesmos. Até porque são dois partidos diferentes. Cada um tem a sua estratégia de curto, médio e longo prazo, montadas de formas completamente distintas. A única coisa de que nós temos certeza é que, em longo prazo, procuramos o mesmo objetivo. Então eu não vejo nenhum problema de o PSDB estar pensando de uma forma no curto prazo e nós estarmos pensando de outra. Eu tenho certeza de que, nas próximas eleições, os objetivos serão convergentes. Serão derrotar o governo do PT, eu não tenho dúvida disso.





Fonte: Terra Magazine

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