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Cultura
Segunda - 23 de Abril de 2007 às 05:49
Por: Marília Bonna

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"Ouvi-lo, assim como à música clássica, satisfaz a minha alma", confessa o professor de violão Carlos Menezes, 51, quando perguntado sobre o que sente quando ouve ou executa o choro, popularmente conhecido como chorinho. O ritmo musical nasceu nos subúrbios do Rio de Janeiro e, desde então, encanta com sua melodia única, simultaneamente melancólica e animada, desde os mais elitizados apreciadores de música clássica até as rodas mais populares.

Embora de origem carioca, a melodia chorosa faz grande sucesso e encontra fiéis estimadores em todas as partes do país que se prepara para comemorar o Dia Nacional do Choro, hoje, aniversário de 110 anos de um dos maiores ícones do estilo musical, Pixinguinha, morto aos 76 anos.

Considerado o maior chorão de todos os tempos, o compositor de sucessos inesquecíveis como "Carinhoso" e "Lamento" foi o grande representante da camada popular no intercâmbio cultural que o choro foi capaz de desenvolver entre o povo e a elite, esta representada pela compositora Chiquinha Gonzaga. A "Chica- Polca", figura de grande prestígio entre a classe alta brasileira, identificou-se muito com o "novo ritmo", lúgubre e ligeiro, que ouvia freqüentemente reproduzido pelos negros, mistura das músicas africanas e as valsas e polcas européias.

Além da pianista, outro importante ícone do cenário musical brasileiro sem o qual essa bem-sucedida fusão não teria sido realizada foi Villa Lobos, o músico que teve a ousadia de unir o até então popular chorinho à música erudita, mesmo sendo hostilizado pelos admiradores da música clássica. Foi ele também o responsável pela propagação do ritmo no exterior.

Do ponto de vista de quem executa o choro no violão, o violonista Carlos Menezes diz que o que faz do ritmo choroso este fenômeno capaz de atrair ambas as partes é a velocidade. "O povo fica admirado pela rapidez da execução, pela estética. Já os contempladores clássicos gostam da velocidade pela elegância de estilo e pela difícil execução de um ritmo veloz".

Apesar de os antigos chorões, em sua maioria, não serem profissionais, a execução chorosa é conhecida por exigir do executor muita técnica e habilidade nas modulações dos instrumentos, segundo Menezes. Ainda que haja esse "empecilho" na difusão de chorões pelo mundo, o chorinho tem um público fiel em vários países e é reconhecido como o que há de melhor na Música Popular Brasileira.

Documentário - Na opinião do paulista Aroldo Máximo, 35, produtor audiovisual e residente em Mato Grosso há nove anos, "é muito importante sermos reconhecidos internacionalmente, não só pelo futebol e outros esportes, mas pela boa música. Isso reafirma o nosso elevado valor como nação", diz, respondendo à baixa auto-estima típica brasileira. Esse foi um dos motivos que o levou a produzir, em parceria com a Produtora Z7, e dirigir o documentário Chorinho em Cuiabá.

Trabalho de um delicado processo de pesquisa, o documentário se compromete a apresentar ao público a história do choro na capital mato-grossense com depoimentos de alguns dos pioneiros, que chega a ser mais antiga do que a do rasqueado cuiabano. "O choro, às vezes, é marginalizado na Capital por acreditarem que ele seja símbolo de outra cultura. Quero mostrar que o chorinho já é um gênero da terra, tanto quanto o siriri, o cururu e o rasqueado", explica Máximo.

De acordo com o produtor, o "ritmo de inflexões melancólicas", as quais justificam o seu nome, chegou em Mato Grosso, assim como no Brasil, com os negros escravizados. "Eles ouviam as músicas européias tocadas nas festas dos senhores e misturavam com as suas de origem", conta o diretor.

Entre os depoimentos do vídeo encontra-se o de Antônio Marinho de Souza Fortaleza, mais conhecido pelo segundo nome, dono de um bar da capital que existe há 14 anos e de uma banda musical, ambos com o mesmo nome: Choros&Serestas. Devido às comemorações do Dia do Choro, o local abrirá as portas e promoverá um evento em que será exibido o documentário de Aroldo Máximo, com direito a comida típica cuiabana e uma banda que homenageará os grandes nomes da música chorosa.

Há outros grupos musicais em Cuiabá que privilegiam o choro em seu repertório. São eles o Bionne e o Licor de Pequi.

Serviço - O Choros & Serestas fica na rua João Lourenço de Figueiredo, 163, bairro Jardim Tropical. Telefone 3634-6450. O ritmo ganha homenagens também com a apresentação da banda Bionne, formada apenas por mulheres, no Tom Chopin a partir das 18h desta segunda-feira.




Fonte: A Gazeta

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