Aquecimento global ameaça piorar situação nos países tropicais pobres, alerta
Estas são as conclusões da segunda parte do estudo do IPCC - que está dividido em quatro partes e que deve ser concluído antes do fim do ano - que devem servir de referência para um novo compromisso ambiental mundial, sucessor do Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. A primeira parte, divulgada em fevereiro, prevê um aumento de 4 graus na temperatura do planeta até o fim do século e atribui a homem a culpa por esse aquecimento.
O esboço final do documento afirma que, além do clima da Terra, a saúde humana pode ser afetada de forma sutil e às vezes pouco perceptível pela mudança climática. Doenças como malária, cólera, insolação e alergias causadas por pólen são apenas algumas das que podem se intensificar devido ao aquecimento global, afirmam especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), a maior autoridade científica da ONU sobre o aquecimento global e seus impactos.
O relatório de 1.400 páginas que será publicado pelo IPCC na próxima sexta-feira informa que o aquecimento global já aumentou o território dos mosquitos e carrapatos, ajudou a disseminar a diarréia, aumentou a extensão e a localização de temporadas de pólen e a intensidade das perigosas ondas de calor.
Nas próximas décadas, tais problemas devem aumentar e, para muitas pessoas, a fome e a desnutrição se somarão a este cenário, continua.
"Impactos sanitários adversos serão maiores nos países de baixa renda", adverte.
"Os que correm maior risco, em todos os países, são os idosos e as crianças, as sociedades tradicionais, as fazendas de subsistência e a população costeira", continua.
Por exemplo, se a produção de alimentos for afetada por secas ou inundações, isto atingirá a nutrição ou pode vir a causar um êxodo rural que irá aumentar a população de favelas, onde doenças transmissíveis e superlotação são comuns.
Um estudo sobre a onda de calor que afetou a Europa ocidental em 2003 mostrou que quase um terço da mortalidade excedente da Suíça foi causada por ozônio ao nível do chão, um tipo de poluição causada pela reação da luz do sol e das emissões de gases pelo tráfego, que pode ser perigosa para pessoas com problemas respiratórios e cardíacos.
Um outro estudo citado no relatório estima que o número de pessoas com risco de passar fome em Mali, um dos países mais pobres do mundo, irá quase dobrar entre 64 e 72 por cento em 2050 se nada for feito para ajudar a população a se adaptar à ameaça.
O documento se concentra nas populações das seguintes áreas:
- ZONAS COSTEIRAS E ABAIXO DO NÍVEL DO MAR: um quarto da população mundial de seis bilhões de habitantes vive dentro do limite de 100 km de distância e 100 metros de elevação da costa.
Dependendo dos níveis da poluição por carbono na atmosfera, estas áreas estão em risco com a elevação do nível dos mares, de tempestades mais poderosas, de enchentes na costa, de danos à pesca e a entrada de água salgada nos recursos de água doce.
Segundo uma estimativa, quase 5% da população de Bangladesh poderá enfrentar inundações se as temperaturas se elevarem 2ºC, o nível do mar aumentar 30 centímetros e o padrão de chuvas de monção aumentar em 18%, que são estimativas de médio alcance.
Isso poderá aumentar para 57% a população em um modelo de computador para uma estimativa de elevação da temperatura de alto alcance de 4º C, uma elevação do nível do mar em 100 centímetros e um aumento de 33% na incidência de monções.
- REGIÕES MONTANHOSAS: as geleiras estão recuando rapidamente no Himalaia, na Groenlândia, nos Alpes Europeus, nos Andes e no Leste da África, provocando para algumas populações um risco futuro de insegurança de água. Quase um quarto da população da China, por exemplo, vive nas regiões do oeste do país, onde o derretimento das geleiras representa a principal fonte de água doce na estação seca.
Um clima mais quente também possibilitará a sobrevivência de mosquitos em altitudes que antes eram frias demais, enquanto chuvas mais intensas irão aparecer, causando uma série de deslizamentos e enchentes.
- REGIÕES POLARES: a população autóctone que compreende menos de 10% da população circumpolar é "particularmente vulnerável" à mudança climática, tanto pela ameaça a seu habitat quanto por seu estilo de vida. Temperaturas mais quentes aumentarão a variedade de fauna vetora de doenças e afetará a nutrição negativamente devido a mudanças na migração e na distribuição animal.
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