Repórter News - reporternews.com.br
Cultura
Segunda - 02 de Abril de 2007 às 06:18
Por: Iuri Gomes

    Imprimir


Qual o programa para uma noite de terça-feira, ainda no início da semana? Quem gosta de cinema pode conferir gratuitamente - e ao ar livre - três documentários nacionais no Jardim do Sesc Arsenal, a partir das 19h. Trata-se da primeira edição do projeto Curta no Jardim, que será realizado todo início de mês.

O objetivo da iniciativa, segundo a técnica de cinema do Sesc Ana Castro, é divulgar a produção nacional e ainda despertar o senso crítico do público - tão acostumado à produções hollywoodianas cujo conteúdo, na maioria das vezes, é previsível e passível de paradigmas estéticos e culturais alheios à realidade.

O tema dos curtas-metragens selecionados - que nessa primeira edição são documentários - tangenciam questões sociais e vão de encontro ao consumismo exacerbado, por exemplo. Engajamento político e cultural também constam nos créditos de cada produção a ser exibida.

De alguma forma está se tentando contribuir para a formação de cidadãos críticos, uma espécie de fuga do que Ana chama de "comodidade intelectual" vigente que os veículos de massa.

Multiplicidade - We Belong - Uma Celebração da Diversidade (2003) é um documentário de 26 minutos dirigido por Sérgio Sá Leitão. O filme reúne depoimentos em 11 línguas (português, inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, árabe, japonês, coreano, tailandês e esperanto), registrados num estúdio/instalação montado na PUC do Rio Grande do Sul, epicentro do 3º Fórum Social Mundial. O evento foi realizado em Porto Alegre em janeiro de 2003.

Ao todo são 100 participantes entrevistados oriundos de 38 países (palestinos e israelenses, cubanos e americanos, monges tibetanos e índios brasileiros) que respondem às mesmas cinco perguntas. Com respostas que oscilam entre a diversão e algo chocante, cada entrevistado dá a sua visão emocionada sobre o Fórum. A proposta de We Belong... é revelar a multiplicidade étnica, cultural e política que marca um evento como o Fórum.

O documentário ganhou o segundo lugar na categoria vídeo do Festival Curta-Se (Festival Luso-Brasileiro de Curtas-Metragens de Sergipe) 2003, foi exibido, em dezembro 2003, no 25º Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, em Havana, e convidado a participar do 2º Jornadas Expresiones Vivas em Barcelona, outubro, 2005.

Cartas - Outro curta que será exibido na primeira edição do Curta no Jardim é Cartas da Mãe (2003), dirigido por Fernando Kinas e Marina Wille. Em 28 minutos o documentário ilustra uma crônica sobre o Brasil dos últimos 30 anos. As tais cartas foram escritas pelo cartunista Henfil (1944/1988) endereçadas à mãe, Dona Maria.

O ator e diretor Antônio Abujamra é quem dá voz às missivas - que já foram publicadas na Revista do Fradim, no livro Diário de um cucaracha, na revista IstoÉ e no jornal O Pasquim. Enquanto a narração se faz ouvida, imagens do Brasil contemporâneo desfilam na tela. Política, cultura, amigos e amor são alguns dos temas que as correspondências evocam, criando um diálogo entre o passado recente do Brasil e a atual situação. Além disso, artistas, políticos e amigos de Henfil - entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - falam sobre a trajetória do cartunista dos anos da ditadura militar até sua morte. Nomes como Angeli e Laerte (cartunistas), Luiz Fernando Veríssimo (escritor) e Zuenir Ventura (jornalista) marcam presença na obra. E um adendo para quem gosta dos traços de Henfil: animações inéditas de seus cartuns complementam o documentário.

Cartas da Mãe ganhou o prêmio de Melhor curta-metragem brasileiro pelo Júri Popular na 27ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2003), Prêmio Especial do Júri, 7º Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira, Portugal, 2003.

Feminismo - O terceiro curta a ganhar o telão no Jardim do Sesc é o Eh Pagu, eh! (1982), de Ivo Branco. O filme conta um pouco da vida e da obra da jornalista, escritora e tradutora (entre outras coisas) Patrícia Galvão, a Pagu - símbolo da mulher moderna e atuante.

Mulher de Oswald de Andrade, Pagu participou com ele do Movimento Antropofágico, através das páginas da Revista de Antropofagia, segunda dentição - sua fase mais radical, anticatólica e esquerdista. Aliás, é Pagu quem leva Oswald a assumir posições de esquerda e se filiar ao PCB, atitudes refletidas em sua obra.

Militante do Partido Comunista - que resultou a ela uma prisão por quase cinco anos durante a ditadura Vargas -, Pagu escreve, na década de 30, Parque Industrial, o primeiro romance proletário da literatura brasileira.

O documentário se utiliza de fotos, jornais, filmes de época e reconstituição com atores para contar a trajetória de Pagu - que é interpretada pela atriz Edith Siqueira. O filme conta ainda na narração, entre outras, com a voz de Raul Cortez.

Serviço - O projeto Curta do Jardim acontece no jardim do Sesc Arsenal nesta terça-feira (03), às 19h. A entrada é franca.




Fonte: A Gazeta

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/234198/visualizar/