Grupos pedem e governo revê leilão de rodovias
O governo federal atendeu aos pedidos da iniciativa privada e irá rever questões-chave no bilionário programa de licitações de rodovias. Quase oito meses depois do anúncio das concessões, as tarifas-teto de pedágio estão sendo recalculadas e o pacote pode ser "fatiado" em etapas.
A avaliação do Planalto é que dividir os leilões, em vez de licitar todo o pacote de uma só vez, irá ajudar empresas e investidores estrangeiros a avaliar os projetos com mais calma. "Não há ainda a definição da ordem do leilão das rodovias", diz posicionamento enviado pela estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que coordena o assunto.
Apesar do fatiamento, executivos dos grandes grupos insistem que o sucesso dos leilões ainda depende da melhoria das "premissas" das concessões, o que inclui estimativas sobre a quantia de investimentos e o tráfego de veículos no futuro. Ambas influenciam a rentabilidade dos projetos, ainda considerada baixa pelos grandes grupos, tendo como base os compromissos a serem assumidos.
Diante das ponderações das empresas, o governo federal, pela primeira vez, reconsiderou o assunto e encomendou uma revisão geral sobre sete rodovias à Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), responsável pelos estudos desses trechos. Outros dois lotes (BR-040 e BR-116) iniciaram há mais tempo um processo de atualização dos estudos.
Dependendo do resultado sobre a análise da EBP, o governo pode aceitar um aumento nas tarifas-teto de pedágio. "O valor das tarifas ainda está em estudo pelo governo", resume posicionamento enviado pela EPL. Ainda pode ser modificada a localização das praças de cobrança - o que também pode maximizar resultados para as empresas.
As alterações podem atender àquela que era a principal demanda dos grupos especializados: aumentar a taxa interna de retorno (TIR) dos projetos, que hoje continua em 5,5% ao ano. Até agora, o governo vinha priorizando mudanças nas condições de financiamento, o que alterou somente a TIR do acionista, que é alavancada com empréstimos e vista como mais arriscada pelos grupos especializados. Essa última TIR ficará entre 9% e 15% ao ano, segundo cálculos do governo.
A preocupação das empresas com o retorno dos investimentos é comum em licitações, mas é maior nesta rodada de concessões porque o cronograma de obras é considerado apertado. Serão exigidos investimentos bilionários para, principalmente, ser cumprida a duplicação das rodovias já nos primeiros cinco anos de contrato.
Embora ninguém ainda "crave" a previsão de que todos os lotes serão arrematados, a sensação dos executivos do setor é a de que há interesse do mercado por todos os lotes. Mesmo dentre as estradas que tiveram concessão anunciada há mais tempo (BR-040 e BR-116), e que têm estudos menos atualizados, devem ser apresentadas ofertas.
É o caso da BR-040, que chegou a ter leilão adiado, mas atrai o interesse declarado da Triunfo Participações e Investimentos (TPI) - que ainda tem como objetivo conquistar outros dois lotes. Controlada por CR Almeida, a EcoRodovias estudará no máximo dois projetos. A Invepar (do grupo OAS e de fundos de pensão) também irá priorizar estudos sobre rodovias que façam "mais sentido" para a companhia.
Na Arteris (ex- OHL Brasil), a ordem é "olhar" os projetos. Mesmo que decida disputar os lotes, a empresa não deve apresentar as mesmas propostas agressivas com as quais conquistou cinco de sete rodovias federais leiloadas em 2007. Isso devido ao seu intenso programa de investimentos na carteira atual de projetos (a empresa estima ter de investir R$ 1 bilhão ao ano até 2015). "Temos nove concessões, que têm um programa de investimentos muito importante. Já há trabalho suficiente", disse Francisco Reynés, presidente-executivo global da controladora Abertis, em entrevista recente ao Valor.
Já a Odebrecht TransPort está estudando todos os lotes, assim como a CCR (controlada por Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido) - que, no final, irá concentrar maiores esforços apenas em algumas. Empresas estrangeiras também manifestaram interesse pelo pacote, como as espanholas Isolúx Corsan e a Acciona. (Colaborou Ivo Ribeiro, de São Paulo)
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